5. Verdade e Desafio

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A noite tomou conta dos céus de Neverland quando chegaram no acampamento.

Sem dizer nada, Peter começou a acender a fogueira.

- Queria te fazer uma pergunta. - disse Grace, emburrada e de braços cruzados.

- Pode perguntar o que quiser.

- Por que disse que não ia olhar, e mesmo assim me olhou tomando banho?

Ele notou que Grace tentava intimidá-lo, e resolveu provocar.

- Me olhe nos olhos e te digo, de verdade. - desafiou de onde estava.

Ela reuniu coragem e fez o que ele incitou. Aproximou-se, erguendo o queixo fino, de frente a frente; e o encarou direto nos olhos verdes. Peter ficou quieto, fixando a atenção de volta nela.

- Tô esperando. - falou tentando parecer fria e inabalável.

Peter arqueou uma sobrancelha como de costume. Aquelas sobrancelhas expressivas a fascinavam e ao mesmo tempo a assombravam, provocavam algo intenso demais pra lidar.

- Quando você chegou dizendo que queria tomar banho, fiquei afim de assistir. Você se incomodou?

- Claro que sim!

- Não pareceu. - retrucou ele.

- Não pareceu?? Peter, eu ainda mato você! - afirmou, forçando uma expressão furiosa.

Ele riu baixo, com um relampejo de malícia pairando a face, algo que não sabia disfarçar e nem queria. Essa pressão que causava era como combustível.

- Ainda tá nervosinha?

- Quer saber? Boa noite! Vou dormir! - despediu e saiu andando com passos duros.

- Espera, tá cedo ainda. Quero fazer uma brincadeira. É parecida com aquela que fizemos outro dia. Veja... - ele disse. Grace parou revirando os olhos e o observou. Ele começou a jogar um encanto sobre a fogueira acesa, com um simples meneio das mãos. A chama vermelha gradativamente ficou esverdeada. - Essa brincadeira é sobre verdade e desafio. Você me faz uma pergunta, qualquer pergunta, e eu respondo. Se eu mentir ou omitir, o fogo vai estalar e se tornar vermelho de novo. Se isso acontecer, você deve me ordenar um desafio, pra eu obedecer. Depois, te faço uma pergunta, e assim o jogo segue.

Ela fez uma careta de dúvida. Sabia que era uma péssima ideia entrar no jogo.

- Não quero. Não confio em você.

- Não confia em mim?! - perguntou perplexo.

- Não! Você disse que não ia me olhar tomar banho, e olhou!

- Porra, como você é chata! Vai mesmo implicar com essa idiotice?

Grace arregalou de leve os olhos pequenos.

- Ah... que seja! Tá bom, vou brincar. - dando os ombros, fingindo que não se importava com o 'perigo', ela foi até perto da fogueira e se sentou.

Peter sorriu vitorioso e se sentou também.

A chama do fogo iluminava o rosto dos dois fantasmagoricamente. Todo o acampamento ficou cor de neon esverdeado. Eles se viraram sentados feito índios.

- Você começa. - falou ele, empolgado.

Essa empolgação a afetou quando percebeu que o jogo poderia ser bem divertido. Era a hora de perguntar o que quisesse. Grace nunca se apaixonou na vida e o fato de ser a primeira vez tornava seus sentimentos ainda mais extremos. Inclusive, um dos motivos dessa paixão por Peter era o mistério dele e a sua essência ameaçadora. A possibilidade de desvendá-lo e talvez deixá-lo vulnerável era tentadora.

Dark Paradise || Peter Pan • OUATOnde histórias criam vida. Descubra agora