Grace imergiu naqueles olhos verdes que a seguravam, sem desviar. Peter recuou devagar, como um predador que termina de devorar sua presa, com o vestígio do sorriso ostensivo no canto do lábio. Puxou-a pela corrente da coleira, e embora estivesse com as pernas fracas, Grace se deixou levar.
Ele a guiou para as escadas. Subiram calados para o quarto do casal da família. Era amplo e limpo, com uma imensa saída pra sacada. Peter fechou a cortina por cima da porta de vidro, e a iluminação nublada de fora foi substituída pela luz tênue do hall. Prendeu a corrente no pé da cama. Puxou três vezes para ter certeza que estava firme. Depois, verificou as cordas nos pulsos de Grace. Um sopro de esperança atingiu o coração dela, crendo que ele fosse libertar seus braços, mas não. Ele apenas certificava se estava bem presa.
- Agora descanse. Você não dormiu nada essa noite. - disse e deu dois tapas sobre o colchão como se chamasse um cachorro pra subir.
A corrente não era grande, mas possibilitou que ela se deitasse. O jovem a observou por alguns segundos, nu e de pé ao lado da cama, enquanto a garota se encolhia. Ela continuava dócil e ele não teria com o que se preocupar.
- Nem pense em tentar escapar, ou te prendo na casinha. - alertou, colocando o cobertor em cima do corpo dela.
Seguiu para a saída do quarto. Deu uma ultima olhada na sua Garota Perdida. Fechou a porta, sem esquecer de trancar por fora. Grace foi tomada pelo interior escuro e silencioso do quarto, sentindo-se dolorosamente sozinha. Engoliu o choro, e fechou os olhos. Desconfortável com os braços para trás, não tinha posição pra ficar, nem disposição pra se mover.
Deixou-se levar pela exaustão e sono, ofendida consigo mesma por ser tão incapaz. Seus sentidos voltavam um por um, desde a vergonha até a culpa, como era de se esperar. Mas acima de tudo, o que mais pesava nela, era o fato de finalmente assumir pra si - e para Peter Pan - o quanto gostava de estar sob o seu controle. E essa era a mais dura realidade.
(...)
Peter desceu as escadas pra sala e recolheu a calça e cueca do chão. Vestiu-se. Se dirigiu sem camisa e descalço para a cozinha. Embora estivesse satisfeito em punir Grace, ainda se sentia mal com a atmosfera corrosiva daquele Reino. O tempo fazia pressão, diferente de Neverland, que era parado. Em NY, assim como qualquer outro lugar onde as pessoas envelhecem, a energia sobrecarregada o afetava de uma maneira horrível, e apesar dos momentos divertidos com a crédula, não podia simplesmente ignorar o pulsar das horas no relógio.
Não queria nem pensar na possibilidade de acordar e ver barba crescendo no rosto. Esse pensamento trouxe uma sensação incômoda na sua face e ele passou a mão sobre a pele, preocupado. Abriu a porta da geladeira, pegou a jarra de água e bebeu no gargalo. Reflexivo, chegou a conclusão que ir pra Storybrooke também não era uma boa alternativa. Na verdade, essa foi a pior das ideias que teve. O coração doía de pensar em reencontrar seu filho Rumple.
Lembrou-se do pó de fada que o imbecil do Alex destruiu. Tudo culpa do desgraçado... Pelo menos estava morto.
Peter fechou a geladeira com o pé e se virou, apoiando as mãos na mesa. Coçou a cabeça, inquieto e inseguro. Devia estar em Neverland a uma altura dessas, com Grace aprisionada e sua magia recuperada. Não tinha jeito, precisava da ajuda da Sombra. Sabia que era perigoso e insensato tirá-la do corpo, mas não tinha a quem recorrer.
Seguiu de volta para a sala, onde o espaço era maior. Manteve-se de pé, respirando concentrado, ouvindo o som insistente da tempestade lavando a cidade lá fora. Coragem, Peter. Friccionou a mandíbula e colocou as mãos no tórax desnudo. Não possuía magia para tirar a Sombra, mas podia fazer impulso para ela sair de dentro dele ao sentir seu toque, portanto não foi difícil executar a separação.
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Dark Paradise || Peter Pan • OUAT
FanfictionDARK/TABOO ROMANCE +18 Grace é uma garota perturbada, abusada pelo pai, procurando desesperadamente alguma válvula de escape. Em seus sonhos ela encontra refúgio, conseguindo ter acesso ao estranho paraíso de Neverland, onde vive um solitário garoto...