39. O Conselho da Sombra

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Grace imergiu naqueles olhos verdes que a seguravam, sem desviar. Peter recuou devagar, como um predador que termina de devorar sua presa, com o vestígio do sorriso ostensivo no canto do lábio. Puxou-a pela corrente da coleira, e embora estivesse com as pernas fracas, Grace se deixou levar.

Ele a guiou para as escadas. Subiram calados para o quarto do casal da família. Era amplo e limpo, com uma imensa saída pra sacada. Peter fechou a cortina por cima da porta de vidro, e a iluminação nublada de fora foi substituída pela luz tênue do hall. Prendeu a corrente no pé da cama. Puxou três vezes para ter certeza que estava firme. Depois, verificou as cordas nos pulsos de Grace. Um sopro de esperança atingiu o coração dela, crendo que ele fosse libertar seus braços, mas não. Ele apenas certificava se estava bem presa.

- Agora descanse. Você não dormiu nada essa noite. - disse e deu dois tapas sobre o colchão como se chamasse um cachorro pra subir.

A corrente não era grande, mas possibilitou que ela se deitasse. O jovem a observou por alguns segundos, nu e de pé ao lado da cama, enquanto a garota se encolhia. Ela continuava dócil e ele não teria com o que se preocupar.

- Nem pense em tentar escapar, ou te prendo na casinha. - alertou, colocando o cobertor em cima do corpo dela.

Seguiu para a saída do quarto. Deu uma ultima olhada na sua Garota Perdida. Fechou a porta, sem esquecer de trancar por fora. Grace foi tomada pelo interior escuro e silencioso do quarto, sentindo-se dolorosamente sozinha. Engoliu o choro, e fechou os olhos. Desconfortável com os braços para trás, não tinha posição pra ficar, nem disposição pra se mover.

Deixou-se levar pela exaustão e sono, ofendida consigo mesma por ser tão incapaz. Seus sentidos voltavam um por um, desde a vergonha até a culpa, como era de se esperar. Mas acima de tudo, o que mais pesava nela, era o fato de finalmente assumir pra si - e para Peter Pan - o quanto gostava de estar sob o seu controle. E essa era a mais dura realidade.

(...)

Peter desceu as escadas pra sala e recolheu a calça e cueca do chão. Vestiu-se. Se dirigiu sem camisa e descalço para a cozinha. Embora estivesse satisfeito em punir Grace, ainda se sentia mal com a atmosfera corrosiva daquele Reino. O tempo fazia pressão, diferente de Neverland, que era parado. Em NY, assim como qualquer outro lugar onde as pessoas envelhecem, a energia sobrecarregada o afetava de uma maneira horrível, e apesar dos momentos divertidos com a crédula, não podia simplesmente ignorar o pulsar das horas no relógio.

Não queria nem pensar na possibilidade de acordar e ver barba crescendo no rosto. Esse pensamento trouxe uma sensação incômoda na sua face e ele passou a mão sobre a pele, preocupado. Abriu a porta da geladeira, pegou a jarra de água e bebeu no gargalo. Reflexivo, chegou a conclusão que ir pra Storybrooke também não era uma boa alternativa. Na verdade, essa foi a pior das ideias que teve. O coração doía de pensar em reencontrar seu filho Rumple.

Lembrou-se do pó de fada que o imbecil do Alex destruiu. Tudo culpa do desgraçado... Pelo menos estava morto.

Peter fechou a geladeira com o pé e se virou, apoiando as mãos na mesa. Coçou a cabeça, inquieto e inseguro. Devia estar em Neverland a uma altura dessas, com Grace aprisionada e sua magia recuperada. Não tinha jeito, precisava da ajuda da Sombra. Sabia que era perigoso e insensato tirá-la do corpo, mas não tinha a quem recorrer.

Seguiu de volta para a sala, onde o espaço era maior. Manteve-se de pé, respirando concentrado, ouvindo o som insistente da tempestade lavando a cidade lá fora. Coragem, Peter. Friccionou a mandíbula e colocou as mãos no tórax desnudo. Não possuía magia para tirar a Sombra, mas podia fazer impulso para ela sair de dentro dele ao sentir seu toque, portanto não foi difícil executar a separação.

Dark Paradise || Peter Pan • OUATOnde histórias criam vida. Descubra agora