Dark Paradise || Peter Pan • OUAT

31. De Volta Pra Casa

Peter virou-se cansado de encarar a cortina de névoa. Não tinha tempo a perder e precisava correr com sua missão antes que ficasse aprisionado em Neverland de vez. Embora o coração estivesse de volta no peito, a fraqueza persistia no corpo. Desceu para a parte inferior da caverna, ou o que restava dela. Parou à beira do mar e seus lábios estreitaram. Precisava de magia pra sair dali... e o restante de poder se resumia na porcaria de anel preso ao pescoço.

Perguntava-se que merda a Sombra fazia até esse momento que não apareceu pra ajudar. Segurou o anel e fechou os olhos. Uma ruga de concentração surgiu na testa. Procurava usar o resquício de magia no objeto. Nada aconteceu. Suspirou irritado, umedeceu os lábios e cerrou os olhos com força. Tentou de novo, focalizou a crença no anel. Sua imaginação se materializou e à frente surgiu um pequeno barco.

Abriu os olhos e vislumbrou aliviado o barco flutuando na maré parada. Sorriu e pulou para dentro dele, apanhando os remos com pressa. Queria se afastar das ruínas o mais rápido possível. Remou com agilidade, infiltrando-se nas brumas brancas. Peter tinha habilidade, então não demorou para encontrar o caminho de volta pra ilha.

Largou os remos cansado, quando sentiu o barco atracar na areia. Desceu para a praia e tentou conter a ansiedade. Estava tão impaciente para ir atrás de Grace que as mãos tremiam. Precisava se organizar, não podia abandonar Neverland e voar pra cidade naquela situação. Inclusive, não tinha como voar. Acostumou-se mal com a magia e agora se sentia sem um pedaço de si próprio. Era insuportável.

Rumou pela areia para a floresta até chegar na Árvore de Pensar. O abandono e silêncio o devastava, era impossível arcar com a solidão. Passou anos em meio à maldita névoa, o manto de vazio assustava.

Esperava que houvesse pelo menos um pouco de pó de fada. Só um restante, o mínimo que fosse, já ajudaria para voar. Tinha que ser rápido antes que as flores murchassem por completo. Levantou a cabeça para ver o topo da árvore, mas não conseguia enxergar nada. Lembrou de quando esteve ali com Grace presa entre os cipós e ofegou enraivecido. Afastou os pensamentos e subiu pelos galhos firmes do tronco para o topo.

Chegou em meio à copa e procurou por alguma flor. Desfaleciam como se congelassem, secas e sem cor. Rangeu os dentes e se desesperou. Seus olhos percorreram todos os lados. Deu impulso e subiu mais alguns galhos, com suas pernas vacilando.

Recordou de quando pisou em Neverland a primeira vez, ainda era um homem cheio de vícios, ansioso para voar... e a sensação era quase igual. Perdido, precisava mais do que nunca de um pouco de pó de fada. Seus olhos arregalaram ao encontrar uma flor acima, que cintilava precariamente.

Adiantou-se como se sua vida dependesse disso. Era a única salvação. Com cuidado, levou os dedos para dentro da estigma, experimentando a textura suave do pólen encantado. Apanhou o que pôde e retirou seu pingente do pescoço, que lembrava uma garrafinha de vidro. Tirou a rolha e despejou a substância cintilante no interior, que escorreu como água.

Fechou, num misto de apreensão e alívio. Desceu da árvore para o chão, com o coração acelerado.

- Agora... onde tá aquela Sombra imprestável?

Seguiu nervoso para o meio da selva. Seus passos ecoavam no silêncio, pisava sobre galhos secos que estralavam. Chegou à frente do Buraco Negro, que tratava-se da área mais sombria da ilha onde habitavam a sombra e almas de suas vítimas, e topou com um Feitiço de Proteção na entrada feita de árvores secas.

Franziu o cenho, pensativo analisando, ergueu a mão e sentiu ser expelido. Alguma fada esteve ali, pra aprisionar a Sombra. Perguntava-se quem, afinal Mab foi derrotada.

- Tinker Bell... - ele murmurou pegando uma pequena quantidade de pó de fada do frasco. - Vadiazinha, recuperou seu poder e fica se exibindo por aí... vou ter o prazer de te esmagar em breve também, verme. - resmungava sozinho, com uma careta mortal.