Capítulo 07

68 5 0
                                    

Alfonso mandou o sms com os dados bancários de uma empresa e eu
depositei, fiz questão de mandar o comprovante por mensagem. Ele agradeceu.
Passei a noite como de costume, sozinha olhando as sombras se formarem no vai e vem do farol dos carros. Desejando que ele estivesse comigo, minha mente só formava sua imagem, e não conseguia esquecer dos seus beijos, nenhum deles.
“Para o caso da senhorita aditar... ” Ele sabia exatamente do que estava falando, ninguém sai por aí falando em aditar cláusulas contratuais...
Naquele instante dei um salto da cama e liguei o notebook, uma ideia
absurda passou pela minha cabeça, mas sei lá! Como um prostituto iria
comprar um carro daqueles? Do ano? Por que a agência e conta não eram pessoa física e sim jurídica?
Alguns minutos depois estava no site da Junta Comercial do Rio de Janeiro
pedindo a verificação dos dados da empresa, com o CNPJ que apareceu pela transferência. Galáctica S/A. Não apareceu o nome Alfonso, ou nada similar, mas sem dúvida na segunda-feira teria minhas respostas.
Passei o fim de semana em casa, estava fugindo das perguntas das meninas
porque no fim das contas não combinamos nenhuma história pra contar sobre nosso amor.
Inesperadamente, no domingo pela manhã, e era cedo, meu celular tocou,
Alfonso, me acordou.
— Hmm...
— Bom dia, Anahí. Acordei você pelo visto.
— Uhumm...
— Estou ligando pra te convidar pra tomar café da manhã comigo. Você
quer?
— Tá falando sério? — respondi sonolenta.
— Estou. Muito sério. Podemos nos ver em uma hora?
— Tá.
— Coloque um traje de passeio.

Traje de passeio, esse cara tinha trinta ou sessenta anos? Traje...
Eu coloquei o bendito traje de passeio, do meu jeito, claro, que nem a pau
passaria meu domingo toda embonecada. Fiz um rabo de cavalo, vesti um short
jeans e uma camisa polo azul, tênis rasteiro e pronto.
Alfonso pontualmente às oito da manhã, surgiu no seu carro pra lá de lindo e nos levou para o jardim botânico, imprevisível, mas legal. Ele estava de calça jeans e blusa também polo cinza chumbo, parecíamos ter combinado nos vestirmos daquele jeito.
Ele pendurou os óculos na blusa e me levou pela mão, tocou nossas mãos e
me senti estranhamente desconfortável.
Nos sentamos e ele pediu o café completo.
Então iniciou sobre o real motivo de seu convite.
— Anahí, a gente precisa definir algumas coisas, por exemplo, nos
conhecemos na livraria, vamos continuar assim?
— Acho bom...
— Ótimo, qual sua cor preferida?
— Azul. Preto. Às vezes rosa.
— Qual seu time de futebol?
— Time de futebol? Nenhum! Odeio futebol!
— Ok, somos dois, mas se perguntarem insistindo muito, diga que é
América. Alguma coisa que queira saber especificamente?
— Você acha mesmo meu corpo bonito?
— Maravilhoso. Ainda mais no período fértil.
— Como é isso? Como... sabe...
— Não precisou muito pra você ficar toda molhada e eu sinto o cheiro do seu hormônio.
— Ai meu Deus eu não ouvi isso.
— Relaxa, não estou falando nada demais, além disso, conheço bem as
mulheres.
Fiquei calada por um tempo, sem encará-lo.
— Você está incomodada com isso né?
— Com o que?
— Anahí, não sou estuprador, nem ladrão, nem nada do gênero. Tenha
isso em mente.

Obs.: Gente, o nariz dele é perfeito, o rosto dele é perfeito e estava ainda
mais bonito com os cabelos mais claros. Será que ele vai mudando de estilo
como um ator? Dependendo do personagem? Ah! Por mais que estivesse me roendo pra saber, não iria perguntar, sei lá, de repente ele me acha uma louca intrometida...

Mal havíamos terminado o café da manhã e o celular dele tocou, como um toque de telefone antigo, ele franziu o cenho muito sutilmente ao olhar para
o visor, pediu licença e se afastou da mesa, ainda que não pudesse ouvi-lo, fiquei observando, mão no bolso da calça, sério, ouvia mais do que falava, vez e outra me olhava e eu sorria de volta, um sorriso simples, seja lá o que estivesse acontecendo o fazia ter uma postura diferente da habitual descontração e desenvoltura.

Voltou, sentou-se e sorriu ao mesmo tempo que suspirava.
— Onde paramos?
— Na sua índole imaculada. — isso o fez rir, e em seguida ele pegou
um iphone do bolso. Nossa ele tinha dois celulares? Ele deve ser muito
requisitado.
— Azul... Preto... Rosa... — ele estava escrevendo as cores que havia dito?
— Comida e bebida?
— Feijoada e cerveja — ele sorriu e anotou.
— Música?
— Samba e Justin Timberlake. — Agora me olhou de lado, confuso, mas
anotou. Alfonso estava mesmo me entrevistando?
— Que tipo de samba?
— Todos os que tocam em uma feijoada.
— Quais são? — Como assim ele não sabia?
— Arlindo Cruz, Revelação, Fundo de Quintal, e meu preferido, Seu Jorge...
— Você sabe sambar?
— Fui passista da Mocidade Independente de Padre Miguel, isso responde sua pergunta?
Alfonso estava de boca aberta, chocado e divertido.
— Muito interessante. Então você gosta de uma diversão mais popular.
— Popular? Não, eu diria tradicional.
— Do que mais você gosta? — agora era o Alfonso quem perguntava, não o
namorado de aluguel que precisava decorar meus gostos.
— Gosto de cinema, mas só pra ver comédia, não me chame pra filme de
terror que eu odeio levar susto, ficar tensa ou chorar pela morte de gente que nem é real. Também gosto dos vídeos da Porta dos Fundos e sou tipo, muito fã mesmo e viciada em Fábio Porchat! Ele é o máximo!
— Melhor que o Adnet?
— Infinitamente melhor! Nossa! Sou fã mesmo número um dele! Porra! E
do Luis Lobianco que fez o vídeo... — não consegui concluir a frase porque me deu um ataque de riso só de lembrar, quando dei por mim, Alfonso estava com o cotovelo apoiado na mesa, e sua mão segurava um rosto sorridente, estava prestando atenção em mim, então tentei ser o mais normal possível e concluir o pensamento
— Ai, desculpa, — limpei a lágrima que resolveu aparecer de tanto que eu ri
— O vídeo é dos dez mandamentos, adoro esse e o do aniversário também! Ah! Você já viu o vídeo “ é pau é pedra”?
— Ainda não. Como é?
— Ah não vou contar não, você tem que ver! É muito bom.
— Você é fã mesmo hein?
— Ai desculpa. — sabe quando cai a ficha da tietagem? Então.
— Que nada, é bom ver você mais solta, saber do que gosta, é importante
pra eu ser o mais verdadeiro possível nesse namoro de faz de contas.
— Alfonso, você já fez isso antes? Quero dizer, pagar de namorado?
Ele negava com a cabeça lentamente enquanto sorria com malícia.
— Mas isso é ruim pra você? Tipo, sem....
— Sem fuder?
— É.
— Adoro esse seu “ é”. — de repente ele se pôs sentado corretamente e começou a digitar no iphone enquanto me respondia — Não, Anahí, isso não é ruim, pelo menos não com você.
Hã? Estou entendendo certo? Ele disse que não era ruim por ser comigo?
Ou eu é que queria interpretar dessa maneira?

— Meus amigos me chamam por apelidos, raramente de Anahí. — achei
melhor informar.
— Que apelido?
— Apelidos. Any, Aninha.
— Nossa, muitos apelidos.
— Meu irmão me chama de Abelhinha.
— Abelhinha? Por quê?
— Meu nome significa abelha e meu pai e Ian sempre me chamaram
assim.
— E seus pais? Moram longe?
— Aham. No céu. — ele ficou desconfortável e lamentou — Tá tudo bem.
— amenizei — Faleceram tem um tempo. Eu tinha vinte e três anos.
— Um tempo? Quantos anos tem?
— Quantos acha que tenho?
— Achava que vinte e cinco, mas como disse que tem um tempo, então sei
lá uns vinte e sete?!
— Trinta.
— Impossível.
— Muito possível. E você? Tem o que? Trinta e dois?
— Trinta e quatro.
Não pude evitar sorrir com as coisas que estavam passando pela minha
cabeça, então mandei mais um gole de suco de laranja pra dentro, a fim de
abafar o sorriso tosco.
Ele percebeu, obviamente, que estava pensando em alguma coisa, mas teve
a delicadeza de não perguntar o que era.
Continuamos a conversar, ele anotou as datas dos compromissos, reuniões,
ensaios de casamento e aconteceu uma coisa estranha... Quando perguntou
aonde seria o casamento, e respondi, ele ficou tenso. Estranhíssimo.
— Vai ser na pousada dos meus tios, em Penedo. — Foi nesse instante que
ele meio que travou os músculos do ombro.
— Que lugar de Penedo? Exatamente — Parecia uma pergunta casual,
mas sei lá...
— Na última pousada, seguindo uma estradinha... Bem no pé da montanha,
Pousada Lua de Mel.
Alfonso deu uma relaxada de leve aquiescendo.
— Quer dar uma volta? — Mudou de assunto de repente.
Aceitei o passeio e apesar dele me convidar pra almoçar e eu querer
realmente aceitar, precisava arrumar meu apartamento... colocar umas roupas pra lavar, aproveitar o tempo bom, pra ele era fácil passar as manhãs atoa...

Aluga-se um Noivo (Adaptada - AyA)Onde histórias criam vida. Descubra agora