Capítulo 12

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Fiquei tão passada com o que ele disse que além de não responder nada, fiz
questão de não ligar, nem mandar nenhuma mensagem!
Assim que pisei no escritório no dia seguinte, Maite veio com um mega
sorriso.
— E aí?
— E aí que ele é um grosso!
— Ah disso a gente já sabia né?! Quero saber se foi gostoso?!
Fiz uma tromba gigantesca e Maite envergou a boca num bico de lado.
— Ah fala sério, Any.
— Nenhuma palavra quanto a isso!
— O cara tava lá disponibilíssimo, gostosíssimo, mercadoria paga e você de babaquice!
— Tem coisa muito mais importante que fuder com um prostituto.
— Como o que por exemplo?
— Você por acaso se deu conta que não sabemos nada desse cara? Nem onde mora, qual a rotina dele, o nome dele! — eu enumerava nos dedos.
— Pelo menos sabemos que ele não tem Aids.
— Aff... não dá pra conversar com você.
— Tá e você pretende investigar o Alfonso...
Ela falou de brincadeira, mas a sobrancelha esquerda que levantei a fez revirar os olhos.
Estava tão preocupada com meus sentimentos (a fatídica constatação de
estar apaixonada pelo Alfonso), que me esqueci completamente na análise que solicitei na Junta Comercial.

Abri meu e-mail e descobri o nome do dono da Galáctica S/A, Paulo Couto do Nascimento.
Peguei o endereço e não quis saber de porra nenhuma.
— Aonde você vai ô maluca? Tem reunião de coordenação às duas!
— Ainda são dez da manhã, relaxa, volto em tempo, qualquer coisa, tranca o banheiro dos deficientes e diz que estou lá com diarreia!
— Ah! Capaz!
— Fui.
Saí discretamente e alcancei o primeiro taxi que passava, muita sorte,
seguimos para o endereço da Galáctica S/A.
— É aqui, moça.
— Ah obrigada.
— Paguei ao motorista e desci do taxi um tanto quanto chocada.
Estava em um bairro decadente da zona norte do Rio, perto da linha do
metrô, tudo tão estranho, conferi novamente e era lá mesmo, apertei o
interfone do 302 e uma voz masculina atendeu. Disse que era do senso e ele abriu a porta quase que de imediato.
Cara, ninguém é visitado pelo senso! E se alguém diz “ sou do senso”, as pessoas correm pra participar da pesquisa!
Agora eu peguei aquele filho da mãe arrogante!
Subi os lances da escada quase colocando os bofes pra fora! Dei uma
respirada e toquei a campainha, a porta nem olho mágico tinha, ele abriu a porta de uma só vez e nos encaramos.

Estava vestido com uma roupa simples, jeans e camisa de um deputado estadual, baixinho, careca e com uma baita barrigona!
— Por favor senhor, bom dia, antes de mais nada, gostaria de falar com
Paulo Nascimento.
— Sou eu.
— Você? Não é não!
— Sou sim!
— Não é não! Claro que não é!
— Ô moça, a senhora tá doida? Ah! Já sei... — ele colocou a cabeça pra fora
do apartamento olhando o corredor — é pegadinha!
— Não. — fiquei confusa — Desculpe, mas o Paulo que conheço tem quase
1,90 de altura, é forte, atlético, meio loirinho, olhos castanhos amendoados
e tem um sinalzinho discreto no canto direito do lábio superior, braços
musculosos, peitoral largo, seguido por um abdome definido e bem marcado, as coxas são grossas e torneadas e...

O homem me olhava espantado, Deus eu estava toda derretida pra
descrever o Alfonso, ou Paulo, ou seja lá quem ele for.
— Senhorita, não tem ninguém aqui com essa descrição não, eu que moro
aqui. — ele bateu na pança de Sancho, é, tá na cara que esse homem não era
nem de longe o Alfonso. Então inesperadamente ele puxou a identidade da carteira em cima da mesa, é... era Paulo Couto do Nascimento, o baixinho gorduchinho.
Me desculpei e fui embora.

Que absurdo! Ele usava um endereço fantasma e um laranja! Ou... esse cara
estava escondendo o Alfonso de mim!
Agora isso virou questão de honra!
Na terça-feira pedi pra uma colega do trabalho ligar pro celular dele e
perguntar se ele estava disponível. Expliquei que se tratava de uma
brincadeira com um amigo antigo de faculdade, um trote bobo. Maite ficou indignada, ela achava que eu deveria estar fazendo outra coisa, ao invés de procurar, como foi que disse... ah sim, chifre em cabeça de cavalo.
Quando a Fatinha ligou ele disse que não estaria disponível por um longo
período.
Pelo menos me deu exclusividade. Isso foi uma coisa que gostei de saber.
Quarta-feira, dia muito chato, cheio de problemas no trabalho, me aborreci
como nunca antes com um colega, isso é tão desgastante, odeio essas discussões sem fundamento nem finalidade.
Cheguei ao meu apartamento um pouco mais tarde que de costume, o dia foi
mesmo complicado. Joguei a bolsa sobre a cadeira e percebi que não estava sozinha, a sala toda cheirava a comida, ai que fome, que cheiro bom...
— Alfonso?
— Oi, já chegou? — perguntou ainda na cozinha, e então surgiu na sala.
Sei que abri a boca, porque isso foi muito mais forte que eu! Mas também,
puta merda! Ele apareceu de calça jeans preta, sem camisa e com o meu
avental xadrez, que ficou lindo nele, e extremamente sensual.
— Oi, boa noite. — tirei os sapatos, Alfonso veio em minha direção e os tirou da minha mão, me dando um selinho com gosto de vinho, um não, foram dois, minto foi um selinho e um outro beijo mais demorado e mais úmido, que obviamente correspondi.
Tomei um banho rápido, não queria deixa-lo esperando pra jantar, além do
mais meu irmão e a Luiza estavam à caminho.
Alfonso me serviu de uma taça de vinho tinto seco, nem acreditei quando vi a mesa, linda! Tinha até um vaso com flores do campo. O jantar que ele
preparou também surpreendeu demais! Medalhão de mignon ao tornedor, arroz de brócolis e batatas souté.

Posso definir agora a refeição? Incrível!
— Jura que foi você quem fez?
— Claro que fui eu. Gostou?
— Tá sensacional! Delicioso!
— Seu dia foi estressante? Está parecendo.
— Muita coisa.
— Quer me contar?
— Quero. — respondi com sinceridade, queria mesmo dividir — Tudo começou quando me deram um contrato pra analisar de uma empresa de prestação de serviços, mas então descobri que eles não entregaram os documentos de seguro de vida do pessoal, e como uma das cláusulas é o cumprimento do seguro de vida, mandei parar a medição, medição é o pagamento... — expliquei — só que o coordenador tem algum tipo de ligação com esse gerente...
Enquanto eu contava tudinho o que aconteceu detalhadamente, Alfonso
continuava comendo, mas prestando a maior atenção! E vez e outra balançava a cabeça confirmando, ou assentindo pra que eu continuasse.
— ...Então foi isso que aconteceu, mas o que me deu mais raiva, foi a cara de pau dele de dizer que poderia ir medindo enquanto eles acertavam os
documentos!
— E o valor do seguro foi pago inicialmente? Estava previsto no DFP?
— Pior que estava, já foi até pago essa porra! Isso me tira do sério...
— Se tem algum esquema por trás, você não pode fazer muita coisa, mas fica esperta, e mande seus e-mails sempre com cópia oculta para o seu particular, se eles liberarem a medição ainda que tenha feito a análise desfavorável o
ideal é que tenha isso registrado.

Sabe quando de repente a gente se liga numa coisa? Foi esse o momento.
Ele percebeu que eu percebi. Porque pousei o garfo no prato ainda olhando
para a comida, cabeça baixa e um silêncio insuportável.
— Com que tipo de pessoa você anda fudendo, Alfonso? — a pergunta saiu
baixinha, mas ele ouviu, e eu ainda não o conseguia encarar, como não me
respondeu, eu continuei — Falar de Demonstrações Financeiras
Padronizadas pela sigla... — levantei meus olhos, ele apenas sorriu um sorriso sem graça.
— Conheço muitas pessoas, já estou nessa vida há muito tempo, muito
mais do que gostaria.
— Você não gosta do que faz, não é?
— Sim e não.
— Resposta ambígua, como devo entender?
— Do jeito que é, ambígua, por que tudo tem de ser preto no branco, certo
ou errado, sim ou não?
— Eu não sei.
— Mudando de assunto, seu irmão vem a que horas?
— Devem chegar lá pelas nove, ele vem de Penedo.
— Tá, e tem alguma coisa que queira que eu faça... Ou que não faça?
— Sinceramente?... Não quero que seja o Alfonso, o cara que faz programas,
quero que seja você mesmo.
Minha resposta o fez sorrir um sorriso aberto, feliz.
Terminamos o jantar ainda conversando sobre contratos e administração e foi quando o Alfonso deixou escapar que “ na faculdade houve um estudo de caso...”
Caralho! Ele tem nível superior! Por isso tanta desenvoltura pra conversar
sobre tantas coisas, deixei com que falasse bem à vontade, nada de pressionar por respostas, aceitei o que ele quis me dar.
Lavei a louça e ele foi enxugando e guardando, as vezes ficava olhando ele falar e mexer o nariz tipo A Feiticeira fazendo suas bruxarias, ele tem uma
mania bonitinha. A forma que seus lábios se mexiam ao falar a letra erre, diferente, acho que ele fala outra língua que não seja o português, e a forma sutil com que levantava as sobrancelhas surpreso com alguma coisa que tenha dito.

Ele explicava seu ponto de vista sobre o direito trabalhista, mas tudo o que
podia ver era um homem lindo, mexendo os lábios em câmera lenta, com aquele erre diferente e aquele sorriso de dentes alinhados, a pintinha acima do lábio, pequenininha, estava lá, dando um charme a mais em sua boca, a essa altura absolutamente desejável por mim.
Meu irmão estava demorando, como de costume, ele não entendia bem o conceito de pontualidade e foda-se o Mundo esperando pelo príncipe. E
naqueles quinze minutos em que ficamos esperando o Ian, Alfonso colocou meu cd
(já quase furado do Justin T.) e quando Mirrors começou a tocar ele me tirou
pra dançar.
Me pegou pela mão delicadamente me levantando do sofá e colou nossos
corpos, nossos rostos, apoiando sua mão esquerda em minha escápula,
forçando meu braço a ficar em posição de dança de salão. Dançando comigo,
descalços, no meio da sala, desviando perfeitamente dos móveis. Me rodopiando em meu eixo e me puxando firme pra junto do seu corpo, seus olhos nos meus, e me abaixou para um beijo que não veio, a campainha tocou.
Sério, se não estivesse de fato apaixonada por esse cara, teria ficado
naquele instante, pior que tenho a leve impressão de que está tentando me
seduzir pra isso, e o resto de consciência que tenho me diz pra fugir dele como o Diabo foge da cruz, porque provavelmente ele só quer me deixar pobre de uma vez.

Aluga-se um Noivo (Adaptada - AyA)Onde histórias criam vida. Descubra agora