— Que cara é essa?
— Bom dia mano.
— Bom dia, que cara é essa?
— Estou extasiada. Acabei de detonar o seu padrinho de casamento aí no
corredor.
— Rodrigo? Como assim?
— Disse umas verdades pra ele. Sabe Ian, se não fosse meu irmão, te
odiaria.
— Me odiaria? Abelhinha, você tem memória seletiva! Quando vocês
começaram a sair, o que foi que eu disse? Anahí... Rodrigo não é cara pra
namorar... Você me ouviu? Não. E você foi o relacionamento mais longo que ele teve!
— Só me diz, nunca tive coragem de perguntar antes, mas agora tenho...
Você sabia que ele e Letícia? ...
— Tá maluca?? Claro que não! Mas eu te avisei! Avisei!
Me joguei na cama e Ian se jogou por cima de mim, me arrancando um
suspiro de dor. Cretino! odiava quando ele fazia isso! Então começou aquela
porra de cosquinha que ele adorava fazer! Odiava quando se comportava como quando éramos crianças!
Quase me mijei de tanto rir! Que absurdo!
— Para Ian! Cacete! — mas no final estávamos os dois rindo muito, a
realidade bateu e percebi que meu irmãozinho estava se casando, que seria um chefe de família, que se casaria com seu grande amor. — Tô feliz por você.
Ian me deu um beijo forte na bochecha que chegou a doer e eu o empurrei para o chão, ele caiu sentado e começamos a rir novamente. Mas sei lá,
comecei a chorar feito uma bobona.
— Ei... A gente nunca vai perder isso maninha. Nunca! Lembra? — ele estendeu o dedo mindinho e eu o meu e os apertamos — Amigos para sempre.
— Amigos para sempre. — mas as lágrimas não paravam de cair e nós nos abraçamos.
— Você também vai casar logo, tenho certeza.
— Tem certeza é?
— Tenho sim, o cara é gente boa, acho que ele gosta de você.
— Acho que sim. —precisava espantar aquela melancolia — Ian, deixa
ver suas mãos?
— Deixo, pra quê? — virou as mãos para mim e examinei suas unhas.
— Hmm... Muito bem, fez as unhas... Ficou bom.
— A Carla fez pra mim, tirou só o excesso de cutícula e passou uma base
fosca, ficou legal.
— É, gostei de ver, se arrumando todo pra Lulu...
— Ela merece.
— Vocês se amam tanto... Serão muito felizes juntos, muito mesmo.
Ian mostrou a roupa arrumada, os sapatos, e as alianças, estava tudo
certinho, senti muito orgulho dele, estava fazendo a coisa certa.
Tio Bento deu duas batidas curtas e entrou no quarto, finalmente nos vimos.
Ele abriu um sorrisão de dentadura que eu achava o máximo! Aquele cabelo
grisalho dele estava um charme, e havia emagrecido bastante também.
— Tio Bento! Bom dia!
— Bom dia Aninha, minha boneca, você tá linda, acabei de conhecer seu
noivo!
— Alfonso. — Tio Bento... tia Ana disse que o senhor vai operar... o senhor tá legal?
— Uma coisinha atoa, parece que é uma cirurgia sem grandes traumas e
espero não voltar gay da sala cirúrgica, porque brocha tenho certeza de que
vou... a coisa já não anda boa mesmo...
É ótimo que meu tio tenha tão bom senso de humor, mesmo diante das
dificuldades.
— Também espero que não se sinta menos homem tio. — Ian deu um — tapinha no ombro de nosso tio que sorriu em resposta.
— É.... mais um viado na família sua tia não aguenta... Mas não foi pra falar de boiolice que vim aqui, foi pra avisar que o Pastor chegou.
— Ah que ótimo! Vou cumprimenta-lo.
Ian saiu do quarto, tio Bento e eu fomos logo em seguida.
— Aninha, gostei muito do Alfonso.
— Ele é gente boa.
— É, melhor que aquele escrotinho do Rodrigo.
— Ai tio... — no fundo ele estava muito certo e nem sabia, Rodrigo nunca foi o
homem ideal pra ninguém.
Alcançamos o pátio de entrada, ainda conversávamos trivialidades e senti um par de olhos sobre mim. Parece que o Mundo deu uma parada de repente
tio Bento só mexia os lábios, mas definitivamente só conseguia ver como Alfonso me olhava, os cotovelos apoiados sobre a mesa, as mãos de dedos entrelaçados encobrindo minha visão de seus lábios, os olhos estreitavam-se e o cenho franzia,
eu já sabia, sempre que estava pensando em algo que havia lhe dito, fazia aquela carinha.
De repente suas sobrancelhas subiram e desceram muito rapidamente e ele
soltou um longo suspiro. Ficou sério, sério demais eu diria. Virei-me para
ouvir o que tanto meu tio falava e ao retornar meu olhar para Alfonso, ele parecia distante, olhando pro nada, segurando o dedo anelar que sustentava aquela nossa aliança falsa.
Daria qualquer coisa por seus pensamentos.
Mais uma vez seus olhos me alcançaram, mas então, sei lá acho que percebeu que estava intrigada e sorriu, um sorriso simples, mas sincero.
Algumas vezes ele me deixa confusa, mas então dá um sorriso de “tudo
bem” e meu coração se apazigua, muito embora minha mente esteja com
aquelas sirenes de filme que indicam “ evacuação imediata”.
Tio Bento já havia percebido que não estava prestando atenção, ele é muito
sagaz, não tem a necessidade de matraquear que a tia Ana tem, Tio Bento gosta de conversar, não de falar com estátuas.
— Sabe, minha querida, você precisa ter cuidado com esses bichinhos.
— Bichinhos? Que bichinhos?
— Esses que se instalam em nossos cérebros, corroem nossos melhores
pensamentos e colocam ovos que se chocam rápido e então sobram apenas as dúvidas e os medos.
— Tá falando de quê, tio?
— Das malditas caraminholas, são bichinhos tão nocivos, capazes de
destruir até a alma de uma pessoa.
— Tio Bento, o senhor tem cada uma...
— Fiquei velho, Anahí, não fiquei burro, nem cego.
— Tá muito na cara?
— Dos dois. — isso me surpreendeu e Tio Bento sorriu — há tantas dúvidas
em você quanto há nele.
— De vez em quando a gente se questiona se está tomando o rumo certo...
— É.. Isso é saudável... desde que seja de vez em quando, não todo o tempo... Viva um pouco minha filha, você parece mais velha que eu... de vez em
quando. — destacou a última parte sutilmente.
Andei na direção do jardim, braços cruzados, pensando no conselho do tio
Bento, ele tem razão em muitas coisas, mas não sabia exatamente o que
estava acontecendo e talvez o Alfonso estivesse em dúvida entre tentar me dar um golpe ou não... Entre me dizer o que ele chama de detalhe, ou não.
Sentei-me na grama, olhando as carpas no lago, estava com o pensamento
longe, nem percebi Alfonso se agachar atrás de mim, sentou-se de maneira que fiquei entre suas pernas abertas, me abraçou e não dissemos nada um ao outro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aluga-se um Noivo (Adaptada - AyA)
FanfictionNada poderia ter afetado tanto Anahí Puente quanto ter de enfrentar seu ex-namorado como padrinho de casamento do irmão. Como se não bastasse, acompanhado por sua nova namorada, ninguém menos que Letícia, a quem Anahí um dia chamou de amiga. A situa...