Capítulo 20

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Conforme o combinado ele me buscou em seu Hyundai Sonata, vestido
elegantemente, como se tivesse acabado de sair do trabalho. Apresentei-o a algumas pessoas, Alfonso sempre muito educado e diria até, sedutor.
Mas assim que entramos no carro, ele mudou completamente. Ficou frio,
distante, pensativo, mal nos falamos e aquilo me deixou com uma sensação
de vazio enorme.
— Não vai conversar comigo, sério isso?
— Sobre o que a senhora quer falar?
— Para com isso, Alfonso.
— Sim senhora. — e voltou a se calar.
Longos minutos se passaram até que o vi quebrar a postura de estátua para
balançar a cabeça em negativa.
— O que você estava fazendo no Chile?
— Trabalhando.
— Pensei que havia me dado exclusividade.
— Não mesmo. Senhora.
— Mulher? — perguntei com uma sobrancelha levantada.
Alfonso me olhou e por um segundo achei ter visto um sorriso atravessar seu rosto.
— Mulheres.
— Muitas mulheres? — estava ficando irritada, sei que estava.
— Oito mulheres e quatro homens. — falou com tamanha naturalidade que
me fez abrir a boca espantada!
Ele conseguiu encerrar a conversa. Fiquei calada olhando a rua passar.
Depois me veio o pensamento: será que ele só falou isso pra me chocar?

Por fim ele parou diante do prédio, desceu e abriu a porta pra eu sair.
— A senhora precisa de mais alguma coisa?
— Não.
— Então, boa noite. — mas ao sair do carro, me lembrei de algo.
— Espera! — ele desligou o carro e ficou me olhando — Espera um
instante.
Subi apressada e corri até meu quarto, peguei o pacote e desci apressada,
mas com cuidado.
Alfonso abaixou o vidro do carona e lhe entreguei o presente.
Ficou me olhando intrigado.
— Pelo seu aniversário.
— Obrigado, não precisava se incomodar.
— Não foi incômodo algum. Boa noite. — ah! O cara estava cheio de palhaçada, também não fiquei correndo atrás não, entreguei o presente, dei boa noite e nem esperei ele abrir, pra saber se gostou, dei as costas e já estava para
subir quando meu celular tocou.
Alfonso: Perfeito. Vem comigo, beber esse vinho.

Anahí: Não sei. Você está muito chato.

Alfonso: Você é uma mulher difícil!

Anahí: Você é um homem complicado!

Então a voz dele atravessou o hall de entrada...
— Vem logo! — o celular ainda estava na mão quando sinalizou impaciente
que fosse com ele.
E eu fui.
Atravessamos novamente a cidade, dessa vez não parou no Leblon, mas
atravessamos quase o Rio todo, nossa que exagero, mas atravessamos as praias até quase voltar pra Barra, entramos na Estrada do Joá e ele continuou seguindo.
Mas durante o caminho começamos a conversar sobre o chá de panelas,
contei sobre os absurdos que aconteceram com Luiza, sobre o gogo boy que as madrinhas contrataram e nessa hora ele tirou a atenção da estrada pra me olhar de cenho cerrado, mas não falou nada.
Paramos próximo a uma floresta e Alfonso apertou um controle preso no
quebra luz do carro.
O portão de madeira se abriu, revelando uma casa bem grande, com
pedriscos amarelos na entrada e grandes janelas envidraçadas, um jardim lindo cheio de vegetação tropical.
— Alfonso, onde estamos? — eu sei, minha voz soou desconfiada, mas sei lá esse cara é tão enigmático!
— Na casa de um amigo. — respondeu secamente.
— Amigo?
— Amigo.
— É aqui que você fica?
— Algumas vezes. Vem, vamos colocar esse vinho pra gelar.
A casa era mais bonita por dentro que por fora, o piso de tábua corrida em
tom marfim, as paredes brancas revestidas de quadros de Romero Britto e Tarsila do Amaral. Alfonso se antecipou por alguns cômodos, como se estivesse verificando estarmos sozinhos.
Isso me preocupou bastante.
— Alfonso, a gente pode estar mesmo aqui?
— Sim, fique tranquila, só estou vendo se os cachorros não estão soltos. — tirou os sapatos e os deixou num canto.
— Cachorros? Que cachorros? — me apavorei e ele ficou rindo, como sempre, rindo da minha cara!
Então sumiu pra dentro da casa com o vinho e voltou com uma garrafa
gelada da mesma marca. Foi o que me fez sorrir.
— Acertei então?
— Em cheio. Achei uma delicadeza da sua parte ter se atentado ao local da
fabricação do vinho. — Achei uma delicadeza da sua parte, Nossa.
Alfonso ligou o som baixinho, Jason Mraz cantava ao mesmo tempo sensual e alegre On love, in sadness, enquanto tirava a camisa para fora da calça.
Abriu a garrafa e nos serviu. Matamos a primeira taça, rindo e falando
amenidades. Sinceramente, estou apaixonada demais por ele pra me importar em como ele ganha a vida. Só de ver aquele sorriso, ver como ele pisca demorado quando falo alguma coisa que ele não espera ouvir, demorado, não em câmera lenta. E a forma como franze o cenho pensando no que responder.

— Você fica linda quando fala de trabalho.
— Obrigada, eu... gosto de conversar com você, sobre tudo.
Alfonso sorriu e se aproximou mais de mim, tirando a taça de minha mão para juntar-se à dele sobre a mesa de centro. Seguindo meus lábios com o olhar,
sorrindo quando eu sorri, olhando meus olhos, umedecendo os lábios e
encostando nossas bocas, eu só queria sentir, nada mais.
A suavidade do seu toque, a maciez de seus lábios, o meu sendo devorado
pelos seus dentes que me mordiam de leve. A língua que tocou a minha,
morna, gosto de uva madura, dançando das papilas à ponta. Senti meu rosto ser tocado por seus dedos que me acariciavam a pele próximo ao pescoço. Sua respiração quente. Outra mão me tocou o ombro apertando-me sutilmente.
O beijo interrompido, abri os olhos, ele buscava os meus olhando de um
para o outro, boca entreaberta, querendo beijar mais. A respiração se acelerando pouco a pouco, a minha, a dele. Me puxou para seu colo, no sofá, me pondo de frente,
enlaçando meu corpo nos braços me levando a ele para colarmos nossos
lábios uma vez mais e outra vez nossas línguas se encontraram na fronteira de nossas bocas.

O beijo interrompido novamente, abri os olhos mais uma vez para encontrar
os de Alfonso e então ele falou baixinho...
— Quer tomar banho comigo? — isso me fez sorrir.

Aluga-se um Noivo (Adaptada - AyA)Onde histórias criam vida. Descubra agora