Fiquei paralisada de cara, mas cinco segundos depois só analisando.
Sei lá o que me deu, cheguei perto e me abaixei para olhá-lo melhor, estava
abraçado ao meu travesseiro, deu vontade de me deitar sobre ele, de beijar suas costas levemente bronzeadas, lisas de pele bem cuidada, reparei na tatuagem pequena próximo ao ombro, um círculo estranho com uma só asa, cheguei a levantar o dedo para tocá-lo, mas me contive.
Sai do quarto de mansinho e fui tomar um banho, estava morta de cansada.
A água caindo maravilhosamente bem nas minhas costas, o box começava a
ficar embaçado pelo vapor, deixei a água cair no meu rosto, precisava de um tempo com meus pensamentos, então comecei a ouvir um barulho e me assustei.
Alfonso estava mijando! (Não tô falando de fazer xixi não! Mijando mesmo! Aquele barulhão de urina caindo na água do vaso o mais ruidoso possível!)
Levei um susto tão grande! Ele não fez cerimônia nenhuma! Se balançou, abaixou a tampa, deu descarga e lavou as mãos, será que ele não me viu ali??
Impossível!
Voltou da pia e tive minha confirmação, ele havia me visto.
Bateu no vidro do box me dando bom dia.
— Bom dia. — respondi.
Alfonso resolveu que precisava de um banho! Abriu a porta do box e se enfiou comigo, meu coração sacudia meu peito de tanto nervoso. A escova de
dentes estava pendurada na boca, resolveu escovar os dentes no chuveiro, comigo!
— Amm... Você percebeu que estou tomando banho?
— Percebi.
— Então me dá licença! — eu ainda tentava me esconder nas mãos.
— Jura que você tá se cobrindo de mim? — perguntou com a boca cheia de espuma.
Meu Deus, isso nunca aconteceu comigo e Rodrigo! Mesmo quando dormíamos juntos, nunca havia ficado assim com ele.
— Eu quero que saia! Estou no meu momento!
— Nosso momento, porque não vou sair, tenho compromisso e não posso
me atrasar e também não vou tomar banho frio.
— Você é muito folgado, cara! Esse banheiro é meu!
— Segundo nosso acordo, o banheiro é nosso agora, portanto, me dá licença, vai se ensaboar pra lá que é minha vez agora.
Ele foi me empurrando para o canto e se enfiou embaixo d’água, eu virei de
costas pra ele, as mãos na cintura, indignada!
— Alfonso! Você é um grosso!
— Sou é? — de repente ouço ele gargarejando e cuspindo! Que absurdo! — Acho que sou sim.
— Por que não apareceu pra experimentar a roupa do casamento? — sério que foi isso o que resolvi dizer??
— Problemas. Você não viu na mensagem?
— Vi. Que tipo de problemas uma pessoa como você pode ter? Alguma
emergência ginecológica?
Ele começou a rir e não parou! Me virei ainda com as mãos na cintura e uma
cara bem feia.
— Não gosto quando ri de mim!
— Então deixa de ser engraçada, ué. — respondeu sorrindo — se bem que...
olhando você assim, toda molhadinha, não tenho mais nenhuma vontade de
rir...
Me virei novamente, mas sentia seus olhos em mim.
Ele me abraçou por trás devagarinho e senti um tremelique estranho logo
abaixo do umbigo. Fez questão de segurar meus seios, firme nas mãos.
— Senti sua falta.
Tava na cara que ele podia sentir meus batimentos acelerados.
Me puxou para baixo do chuveiro, me virando em seguida para encará-lo,
nossos corpos colados debaixo d’água e eu quase convulsionando. A mão
deleagora em minhas costas, a outra em meu pescoço, logo abaixo da linha do maxilar,
— Também senti a sua. — pronto eu disse, porque era verdade e porque aquela situação toda estava me matando!
Senti seus lábios tocando os meus delicadamente, sua língua macia com
gosto de hortelã acariciando a minha enquanto me puxava mais para ele, já
estavame vendo sendo levantada por ele no chuveiro, sendo penetrada e fazendo amor.
Fazendo amor.
Que amor?
Não queria parar o beijo, mesmo sabendo que nada daquilo era real.
E foi Alfonso quem nos separou, me deixou embaixo do chuveiro e saiu se
enrolando na toalha e sem dizer uma só palavra.
Passei a mão no vidro para tirar o vapor e poder vê-lo.
— Alfonso. — não dava pra minha voz sair mais fraca?!
— Anahí, tenho um compromisso que não posso faltar, te encontro no
local do ensaio de casamento.
— Tá. — “ tá?”, só isso? Faz ele ficar sua burra! Você precisa dele! Eu
preciso dele, eu... — Alfonso.
Ele abriu a porta do box mais uma vez e se inclinou para um beijo.
— Quando eu voltar a gente conversa, ok?
Assenti, ele saiu do banheiro. Dois minutos depois abriu a porta, já vestido.
— À propósito, você é muito gostosa.
E se foi. Agora imagine como eu fiquei? Bem por aí...
*
O espaço alugado por Ian servia perfeitamente para o ensaio.
Geovana ainda não havia chegado com Fernando, mas assim que coloquei
os pés no salão, Rodrigo foi a primeira pessoa que vi, senti minhas pernas
fraquejarem, não havia sentimento por ele, mas me veio na cabeça aquela
cena da boate e pra confirmar todo o nojo que estava sentindo, Letícia surgiu ao lado dele, sorrindo, então me viram parada na porta e pararam de sorrir.
Dedos me tocaram a cintura, me puxou para seu lado, Alfonso.
Lindo, calça social risca de giz e camisa social preta, o paletó pendurado no ombro, perfeito, como um modelo de campanha de perfume importado.
Nos olhamos nos olhos, ele sorriu.
— Vinte segundos de atraso. Desculpe.
— Tudo bem, chegou à tempo de me segurar, estou nervosa.
— Não fique, estou aqui.Não entramos, ao invés disso ele me puxou porta a fora e me escorou na
parede ao lado da entrada, forçando o corpo contra o meu e nos beijamos,
um beijo cheio, pleno, de medo e saudade.
Às vezes parece que ele gosta de mim. E esse beijo foi um desses momentos.
Senti um calafrio na espinha e uma tremedeira muito mais intensa nos
joelhos.
E seguiu me beijando o queixo, o pescoço, brincando com meu brinco em sua boca, mordendo minha orelha, arfei, inevitavelmente, e ele voltou a
beijar meus lábios, língua sobre língua, boca colada, saliva morna e uma tensão sexual crescente.
Descolamos nossos lábios em busca de ar, e rimos um pouco da situação.
— Seu batom tá todo borrado.
— É. Deve estar.
— Já disse que adoro esse seu “é”?
— Algumas vezes.
— Vai ser bom você entrar com a boca de quem andou beijando.
— A sua também tá manchada.
— Que bom.
Entramos e dessa vez todos nos olharam, não pude evitar sentir prazer ao ver a cara de bunda do Rodrigo! Alfonso era maior, mais forte, mais bonito e apesar dele não saber, mais pirocudo também! (o que me fez rir por dentro) Apesar disso ele não pareceu surpreso, claro, Letícia deve ter lhe contado sobre o Alfonso e provavelmente a fofoca do momento era sobre o “noivo da Anahí”.
Limpávamos os lábios quando Luiza veio nos cumprimentar.
— Oi gente! Mas vocês não se largam um minuto não é?
— Oi Lulu. Aproveita que está aqui e apresenta o Alfonso para o restante do pessoal, eu simplesmente não tenho estômago para aqueles dois.
— Pode deixar.
Ian me alcançou me dando um abraço.
— Tudo bem?
— Tudo. — Claro que não! Meu ex namorado com minha ex amiga e eu
completamente apaixonada pelo Alfonso.
Acho que não estava me sentindo bem, de verdade.
O ensaio começou mesmo com Geovana atrasada, dez minutos depois ela chegou toda esbaforida com o irmão, Fernando, que era um dos padrinhos também.
Eu estava no “ altar” representando a família do noivo sendo observada por
Alfonso, na cadeira como convidado, e eu sorrindo feito uma retardada toda vez que ele fazia mímica, cada hora falando uma coisa mais louca que a outra, Rodrigo vez e outra me olhava seguindo meu olhar.
Alfonso moveu os lábios “quero te chupar”, segurei o riso alto e fingi uma
tosse, o pastor estava falando algo sobre Deus ser a terceira presença no matrimônio e Alfonso falando bobagens sem parar, me deixando à vontade, me fazendo esquecer que Letícia estava ao meu lado e Rodrigo na outra ponta.
De repente o vi se mover desconfortável, puxou o celular, com uma cara feia e digitou alguma coisa, arrumou o cabelo e vi seus lábios se movendo mais uma vez, pensei que teria de sair e já estava até triste, mas ele quase me fez desmaiar.
Seus lábios me disseram sem que saísse um som sequer: “eu te amo” e
sorriu. Me senti pequenininha, meu coração se apertou tão forte, meu olho
marejou, tentei não chorar, foi instintivo que lhe respondesse da mesma maneira,
“eu te amo”.
Ele me ama.
Ele me ama!A lágrima que segurava bravamente escapou pelo rosto e a capturei
disfarçadamente. Olhei para frente e percebi Rodrigo muito sem graça, tomando conta da nossa conversa.
Ah. Entendi.
Agora sim estava precisando de ar, respirei fundo.
Respirei fundo de novo.
E de novo... e não deu.
Foi só o tempo de pegar minhas coisas sobre uma das cadeiras.
E foi a cena mais esdrúxula de todos os tempos, a irmã do noivo saindo correndo do salão, no meio do ensaio de casamento, sem olhar pra trás,
chorando feito uma tonta desesperada.
Puxei da bolsa as chaves do carro, apertando o botão de destravamento do meu civic, abri a porta correndo e uma mão empurrou o vidro fechando-a
com violência.
— Que porra é essa, Anahí?
E a otária aqui em prantos.
— Querida...
— Não me chame de querida! Eu não sou sua querida! E tira a mão de mim!
Meu irmão apareceu na porta, estava longe o suficiente para nos ouvir, mas
podia nos ver e Alfonso me abraçou apertando firme meu corpo.
— Seu irmão está olhando. Se acalma.
— Não consigo, Alfonso, não consigo. — eu só sabia chorar e sofrer, a dor no
meu peito era tanta, não pensei que me sentiria destroçada com a situação.
— Espera aqui, ouviu? Espera!Alfonso se afastou correndo, entrei no carro disposta a ir embora, mas o vi
falando com meu irmão e Ian lhe deu um aperto de mão, Alfonso voltou
correndo e abriu a porta do motorista.
— Chega pra lá, Anahí.
Obedeci e ele arrumou o banco e os espelhos do carro, dando a partida em
seguida, e ficava me olhando preocupado, enquanto estava encolhida no banco, chorando e chorando. O coração em pedaços.
— Será que dá pra me dizer o que está acontecendo?
Não dá! Não dá pra dizer que eu te amo, seu cretino!
De repente ele me olha estranho.
— Isso tem a ver com o seu ex namorado ou comigo?
Silêncio e lágrimas caindo.
— Devo entender seu silêncio como sendo comigo.
De repente ele freia o carro e gira o volante seguindo o caminho contrário, e isso me assusta. Ele passa da entrada para o meu apartamento e segue
adiante.
— Aonde estamos indo?
Foi a vez dele ficar calado e isso me matou, de medo, de ansiedade e de
repente me deu um estalo de realidade, e se ele for um assassino?? E se for
um maníaco do parque??
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Aluga-se um Noivo (Adaptada - AyA)
FanfictionNada poderia ter afetado tanto Anahí Puente quanto ter de enfrentar seu ex-namorado como padrinho de casamento do irmão. Como se não bastasse, acompanhado por sua nova namorada, ninguém menos que Letícia, a quem Anahí um dia chamou de amiga. A situa...