Capítulo 36

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Estalava o clique da caneta seguidas vezes, não acredito que me esqueci
completamente de ter recomendado a contratação dela! Agora ela estava há
umminuto de distância da minha sala! Não posso simplesmente manda-la
embora, isso seria abominável, ainda que aquela traidora mereça! Inacreditável.
Aquela cena dela na piscina não saia da minha cabeça. Queria ter ido lá,
arrancado aquela cachorra safada da piscina, ter dito tudo o que pensava dela, quebrado a cara daquele magricela!
Ela não tinha vergonha na cara! Uma vadia. Me usou perfeitamente para
ter o namorado de volta. Ela que faça bom proveito daquele filho da puta!
Queria ter feito e dito tanta coisa, mas não fiz. Ela só precisava esperar um dia, uma porra de um dia! Havia preparado uma surpresa linda praquela safada!
Mas também... Pra que? Para ouvir pela cara que eu era subordinado a ela?
Puta.
Mas se não fiz antes, não poderia fazer agora.
Maldita Nádia.
Por mais que me esforçasse aquela tarde não saia da minha memória,
Diabos!
...
Junho
Me olhei no espelho pela décima vez, odiei aquele cabelo castanho, mas
enfim, precisava fazer alguma coisa, Nádia estava me irritando profundamente com aquela história de fantasia sexual.
Ainda não estava acreditando que ela me fez colocar uma foto parcialmente
nu na internet.
Balancei a cabeça mais uma vez ao perceber que estava me comportando
como um cordeirinho. Meu relacionamento não estava mais dando certo, essa história de fantasia sexual seria minha última tentativa, já estávamos nos desgastando demais e definitivamente o que eu menos queria era que nos tornássemos inimigos.
Nádia era linda, não muito inteligente, mas era educada e sofisticada,
embora fosse bastante mau humorada nunca reclamava quando precisava me ausentar mas também não aceitava que eu reclamasse das viagens dela. Era
assistente de uma produtora de vídeo e viajava tanto quanto eu para matérias
que estavam constantemente no National Geo. Era previsível que depois de um ano e meio estivéssemos caindo numa relação morna e sem graça.
Talvez ela tivesse razão, afinal.
Assim que os empresários responsáveis pela fabricação dos containers
saíram da sala, Paulo escondeu a risada mas meu primo Pietro não.
— Dio Santo Miguel! Que porra de cabelo escroto é esse?
— Não ria. Estou numa experiência nova com Nádia.
— Meu amigo, você está simplesmente ridículo. — Paulo afrouxou o cinto
naquela barriga horrível que estava cultivando nos últimos anos e voltou a
escrever em sua agenda.
— Vou almoçar. Vamos Paulo, Miguel?
— Uma e meia da tarde? Comer comida remexida no centro do Rio? Não, obrigado. Prefiro um café e um bolinho aqui perto mesmo.
— Pois eu vou almoçar, a segunda rodada de negociações será mais dura.
Vamos então, Pietro?
— Sim, que tal um restaurante que tem aqui na rua primeiro de março?
...

Eles seguiram felizes rindo do meu cabelo ridículo e entrei na livraria na rua do Ouvidor, repensei o bolinho, estava sem fome, apenas o café expresso com creme e de repente dar uma volta, ler alguma coisa...
Rodei por uns corredores próximo a entrada e ouvi uma risada tão gostosa, não, estava mais para uma gargalhada, fazia tanto tempo que não ouvia uma
risada assim, limpa, sincera, chamou minha atenção.
Levantei os olhos para ver a quem pertencia aquela risada, uau! Eram duas mulheres mais ou menos da mesma idade e estatura, a que falava era bem magra de cabelos curtos e lisos, a outra, que ria, tinha um corpo incrível, passou por mim e acompanhei o seu andar, ela podia tentar esconder aquela bunda perfeita por baixo da saia comportada mas não estava conseguindo. A blusa era clara e com a
diferença da luz percebi sua silhueta . Veramente bella.
Acho que nem pensei direito quando comecei a segui-la pelos corredores,
mas ela estava entretida com um livro, parei atrás dela, queria saber o que lia
com tanto interesse, mas não deu tempo, ela largou o livro na estante e se virou tão rápido, tentei me virar também para que não percebesse que estava bisbilhotando e acabamos trombando.
Me desculpei, ela também se desculpou e então me encarou. Me encarou
mesmo. Despois olhou para minha boca e não pude evitar sorrir, ela estava
com uma cara engraçada, parece que se assustou comigo. Eu segurava um livro qualquer e então percebi que aquilo estava muito estranho, então me afastei.
Quando já estava no caixa percebi que então era ela quem afinal me seguia,
ora...ora... estava interessada... entretanto não falou nada, eu também não, a bem dizer estava tentando me concentrar em Nádia, mas aquela mulher era diferente, havia uma vida nela, um jeito...

***
Considerei em atender o telefone, olhei novamente, número privado, talvez
fizesse parte da palhaçada da Nádia, então atendi.
— É... oi... é... eu.. é...
— Quer marcar um programa.
— É.
— Mulher ou homem? — segui o roteiro...
— Mu-mulher... mulher!
Sorri ao perceber que não era a Nádia, talvez alguém tenha visto o site e
estivesse marcando um encontro, ou então Nádia mandou alguém ligar,
continuei naquela bobagem.
— Tá, uma mulher... várias mulheres... só mulher...
— Só eu.
— São cento e vinte a hora, vaginal, a posição que você escolher, não faço
chuva de cor nenhuma, dourada, negra, e não aceito isso também, nada com
sangue, crianças, animais ou árvores... — A mulher me interrompeu.
— Moço. Moço! — parei — Sou só eu, sem vaginal, oral ou anal — aí mesmo que ri, caralho, por essa eu não esperava, Nádia estava se superando!
Mas de repente.... talvez não fosse a louca da minha namorada...
— Isso é trote, moça? Se for, não ligue, não posso ficar ocupando essa linha
com besteiras e...
— É sério! Só preciso de um acompanhante.
Parei pra pensar, melhor verificar, se fosse e eu estragasse tudo, ela
encheria a porra do meu saco.
— Certo... onde podemos nos encontrar?
— Anota o endereço. — Ok, não reconheci o endereço, mas resolvi seguir com a brincadeira.

Cheguei rápido até... só não entendia por que ela arrumou um lugar tão
longe da minha casa com tantos hotéis e motéis tão mais pertos...
Então abriu a porta e eu tive que rir. Dio mio, que merda! A morena gostosa
da livraria!
Não resisti a curiosidade e resolvi entrar. Ouvi a tudo atento, fiz um esforço enorme para não rir e não desmentir, não ainda, ligaria pra ela e diria que era um engano. Caralho, essa mulher era a mais lindamente maluca que havia conhecido até então! Contratar um namorado falso? Ela? Qualquer um toparia namorar
com ela na hora!
Saí do apartamento dela e ao entrar no carro, recebi uma mensagem da
Nádia, ela se esqueceu de me avisar que tinha um trabalho novo e sairia da cidade, mais que retardada! Depois mandou uma mensagem dizendo que a gente precisava conversar quando voltasse. Mas é impressionante como ela é! Se viesse com papo de terminar... Certamente nem amizade restaria entre nós, ela fez com que eu pintasse meu cabelo!
Ainda assim ligaria para a Anahí assim que amanhecesse.
E qual foi minha surpresa quando ela ligou e me acordou.

*
Setembro
E se não fosse minha propensão em conhecer mais um pouco sobre aquela
mulher linda, louca e muito, muito gostosa, não estaria agora com tanta
raiva, uma puta dor de cabeça e totalmente despreparado para ficar perto dela!

Aluga-se um Noivo (Adaptada - AyA)Onde histórias criam vida. Descubra agora