Capítulo 02

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Finalmente consegui dormir, mal, um frio da porra no meu apartamento.
Acordei de mal humor, o chuveiro demorou pra esquentar, me atrasei com o café... sabe dia que começa estranho? Foi aquela sexta-feira.
Começou e seguiu na estranheza. Meu chefe dando esporro em todo mundo, falando da porcaria do time de futebol dele, ah! Que inferno!
Discussão acalorada com um fornecedor, almoço trocado, Meu Deus que dia!!!
Pra completar, o desgraçado do Otílio, o chefe escroto, deixou uma pilha do
tamanho do Everest de documentos de seguro de vida atrasados pra minha
amiga resolver, então obviamente que dali ela não sairia tão cedo, e se não fosse um cara chamado Seth, com quem marquei pra conhecer, sem dúvida ficaria com ela, ajudando.
Ao menos Seth era pontual, e bonitão, com umas entradas no cabelo, mas no geral era legal e educado, usava um perfume barato, mas sabia falar de
muita coisa. O nome dele na verdade era Setembrino, não consegui evitar a risada, ele não ligou muito de eu estar rindo, acabamos marcando para o sábado, assim a Maite poderia conhece-lo e validar.
*

Inacreditável! Sábado quase nove da noite e nada do cara aparecer, ligou
dizendo que a mãe dele estava com apendicite!

— E agora, Anahi?
— Sei lá, acho que vou procurar na internet.
— Tá louca?? Pode aparecer um sequestrador, um estuprador, um
assaltante!
— Relaxa, Maite! Vamos olhar... sem compromisso...
— Ainda acho que deveria ligar pra agência de acompanhantes...

Puxei o notebook e digitei no site de busca garoto de programa, ficamos
passando umas fotos, até que meu olho bateu num sem rosto, tirou a fotocom o celular, pegando uma parte do queixo, o tronco super bem definido e uma
parte de seu membro.

Maite e eu nos olhamos ao mesmo tempo.
— Any , olha isso, amiga!
— Tô olhando mas não tô crendo, ah... isso deve ser photoshop.
— Essa coisa tem a espessura de que? Uma lata de Coca-Cola?
— E não adianta nada se tiver o tamanho da lata também... — mostrei a mão fazendo sinal de pequeno.
— E que diferença faz? Você não vai transar com ele!
— O que você acha?
Na mesma hora Maite abriu um sorriso enorme e arregalou os olhos.
— Liga ué. Aqui, — ela me passou o celular dela — usa o meu que tem
identificação bloqueada.
Liguei para o número, não atendeu.
Liguei mais duas vezes, nada.
— Tenta mais uma vez, de repente ele tá em "atendimento". — Maite falou
com tamanho deboche que começamos a rir.
— Tá legal, última vez, senão a gente procura outro.
— A gente, não querida, você. Não sou eu quem cismou em alugar um
namorado só pra aparecer acompanhada na frente do ex.
— Até parece que você não conhece o Rodrigo. ..
— Ah! Liga logo pro gostosão da foto.
Liguei, ele atendeu no segundo toque.
— Alô?
Gaguejei.
— É... oi... é... eu.. é...
— Quer marcar um programa. — ele perguntou ou afirmou?
— É. — minha voz saiu quase que um pedido de desculpas!
— Mulher ou homem?
— Mu-mulher... mulher!
Pude sentir que ele sorria do outro lado da linha, meu Deus que ódio de mim!
— Tá, uma mulher... várias mulheres... só mulher...
— Só eu.
— São cento e vinte a hora, vaginal, a posição que você escolher, não faço
chuva de cor nenhuma, dourada, negra, e não aceito isso também, nada com
sangue, crianças, animais ou árvores... — Crianças?? Árvores?? - Ele
continuou com as condições e precisei interrompe-lo.
— Moço. Moço! — ele se calou — Sou só eu, sem vaginal, oral ou anal. — ele ria do outro lado da linha, uma risada gostosa, Maite segurava a boca,
até então não havia tido nenhuma conversa assim, na agência era diferente, só precisei dizer que queria um acompanhante para um fim de semana prolongado e pronto!
— Isso é trote, moça? Se for, não ligue, não posso ficar ocupando essa linha
com besteiras e...
— É sério! Só preciso de um acompanhante.
Ele ficou mudo. Será que estava pensando?
— Certo... onde podemos nos encontrar?
— Anota o endereço.

Passei meu endereço a ele enquanto Maite ficava gesticulando que era
louca, pra não fazer isso. Mas eu fiz! E depois fiquei morrendo de medo!
Foram mais de um século pra ele chegar, na eternidade de quarenta e cinco minutos, meu coração estava saindo pela boca! Maite resolveu manter um spray de inseticida à mão, afinal de contas, a gente não tinha spray de pimenta nem gás lacrimogênio!
A campainha tocou, Maite se levantou num pulo e olhou pelo olho mágico, se
virou pra mim, com uma cara insana, a boca se abrindo aos poucos até formar um O, estava eufórica, se abanava com uma das mãos e a outra no peito. Fui até a porta, ele tocou novamente a campainha, olhei pelo olho mágico, mas ele estava apoiado na porta, cabeça baixa, só vi seus cabelos repicados.
Franzi o cenho, Maite foi para o sofá, do lado oposto ao que havia escondido
o spray de inseticida.
Respirei fundo e abri a porta.
O cara levantou o rosto e eu congelei. Ao mesmo tempo que minhas pernas
tremeram.
Ele sorriu, fazendo que não com a cabeça, umedeceu os lábios com a língua e voltou a sorrir de lado.
O cara da livraria.

Aluga-se um Noivo (Adaptada - AyA)Onde histórias criam vida. Descubra agora