Capítulo 30

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Soube que o amava, mesmo sem conhece-lo, apenas chamando-o pelo, o que talvez fosse, seu primeiro nome. Eu amava o Alfonso, sendo ele michê ou
um motorista de Kombi que faz frete ou motorista do carro da tapioca, sei lá, no fundo começava a me acostumar com a ideia de amar um homem apenas por amar.
Amar o que ele representa na minha vida, não o que faz, amar sem esperar
que me amasse, amar o carinho que tinha por mim, me negando em acreditar que ele estava sendo assim pois comprei esse carinho.
Minha mente dava voltas e voltas e sempre parava no mesmo ponto, a
incerteza de que toda aquela dedicação não era fruto daqueles dezoito mil
Reais, nem tampouco por culpa dos bens que possuía.
Vendo seu rosto sobre o meu, seus olhos amendoados que me percorriam a alma, precisava me agarrar a um fio de esperança sequer de que aquele
homem que estava sendo perfeito, era perfeito pra mim.
As carícias de Alfonso sempre tão cheias de amor, de desejo e cumplicidade, regadas por uma dedicação que me encantava profundamente. Era um amante
incrível, e um homem extremamente misterioso, um cara que me é capaz de
fazer revirar os olhos com algumas palavras ao pé do ouvido e no mesmo
instante, desaparecia, como a névoa densa, prenuncio de um dia ensolarado.
Contudo, não esperava por um dia de sol, eu queria a névoa e isso me
assustou absurdamente.
Senti-lo escorregando para dentro de mim novamente, enquanto suas mãos
seguravam meu corpo, mantendo-me o mais junto dele possível, procurando
decifrar meus desejos, meus pensamentos, meu querer, ainda que jamais pudesse fazê-lo, pois o que queria era ele, e ele estava ali.
Meus devaneios e elucubrações me foram arrancados com um som baixinho que saiu de seus lábios, e outro e outro, Alfonso não estava mais me olhando, estava sentindo. Seus olhos fechados, seus lábios entreabertos e ele gemia a cada vez que me estocava.
Comprimi o abdome sempre que ele tirava um pouco, sabia que isso faria
toda a minha musculatura interna aperta-lo e soltei quando entrou mais
fundo, seguidas vezes que ele precisou parar.
Apoiou os braços ao lado do meu corpo e me levantou um tanto, nos virando e quando me vi por cima de Alfonso, foi minha vez de fechar os olhos, meus
joelhos sobre a cama, ao lado de seus quadris, precisaria me concentrar nas estocadas para que não me machucasse, e assim foi, uma e outra vez, até que não pude mais suportar e me entreguei apenas às sensações, apenas ao Alfonso.
Meus seios eram tocados tão gentilmente, depois passou as mãos para meus quadris e deslizou até segurar minha bunda, forçando meu corpo a uma entrega segundo o ritmo dele, me conduzindo a ele, e continuei apertando meu ventre ao máximo de minhas forças sem ao menos pensar. Até que aquela sensação conhecida surgiu, entre um gemido e uma respiração acelerada.
Não consegui me manter sentada e desabei em seu peito enquanto ele
continuou seguindo naquele ritmo com suas mãos em minha bunda, lançando meu corpo para cima e para baixo, mais três ou quatro vezes e pude sentir seus dedos se fechando em minha carne, puxando meu corpo para junto dele e meus ouvidos
receberam o som de seu clímax.
E estávamos nós, exaustos, de um gozo intenso, a cabeça sem assimilar nada mais complexo que um simples “muito bom”. Alfonso acarinhava minhas costas enquanto eu relaxava um pouco em seu peito. E ficamos ouvindo o inspirar e expirar do outro em busca de uma calmaria momentânea.
— Agora sou eu quem quer mais... — a voz de Alfonso me tocou com intensidade e paixão.
— Também quero mais. Me dá mais meio minuto... — ainda estava
ofegante ao lhe responder.
— Não está cansada?
— Acho que não vou me cansar tão cedo...
Palavras dúbias vindas de um coração dividido entre a dúvida e a esperança.
Os momentos que passei com Alfonso se alternavam entre o sexo apaixonado, até um pouco violento e o toque sutil de um amor tranquilo.
E era quase dia claro quando nos abraçamos, os olhos pesados e o sono
veio.

*
— Any... — ouvi a voz do Alfonso tão distante e ouvi mais algumas vezes.
Senti sua respiração em minha orelha, e uma mordida leve que me fez sorrir,
um braço forte que me puxava de encontro ao seu corpo, um nariz perfeito inspirando o aroma dos meus cabelos, roçando meu pescoço e nuca.
Falou-me com o hálito mentolado, sussurrando um "bom dia, morena."
Esfreguei os olhos para me acostumar com a luz do sol que invadia o chalé.
— Esquecemos de fechar o quebra luz... — constatei me sentando na cama.
Me virei e Alfonso me olhava com o rosto apoiado na mão, um sorriso idiota na cara que nem quis saber o motivo, me levantei ainda nua e fui para o
banheiro, joguei água no rosto e vi meu reflexo, entendi o motivo do sorriso, meu cabelo parecia um ninho de passarinho e meus olhos estavam borrados de rímel. Filho da mãe.
Quando saí do banheiro Alfonso estava ao telefone, levantou os olhos em
minha direção e sorriu entre um aham e mais outro.
— ... Eu sei, não tem problema, nos falamos quando eu voltar... Tchau.
Passei por ele já vestida com meu biquíni.
— Perdemos o café da manhã, são onze horas... — levei minhas mãos à
boca fazendo cara de “Oh”, num deboche que o fez sorrir.
— Fala sério, Alfonso...
Ele fechou um dos olhos, apertando-o em uma careta.
— Tem razão, por um instante esqueci que aqui você é a dona Anahí.
— Sim, sim... Vamos? — vesti um vestido quase transparente, apertando
meus cabelos para tomarem volume nas pontas.
O telefone de Alfonso tocou mais uma vez, ficou me olhando... esperando que
eu dissesse alguma coisa, mas coloquei os óculos escuros, e saí.
Ele veio logo atrás, mantendo uma pequena distância que não me impedia em nada de ouvi-lo falar em italiano, obviamente que não entendi nada! Ele
falava tão rápido, as palavras tropeçavam em meus ouvidos num tanto de erres e tes.
Parecia um tanto irritado e isso dava pra sentir em seu tom de voz, entretanto falou pausadamente sua última frase antes de desligar.
— ... e cosa si aspettano da me? — “e o que eles esperam de mim?” Foi o
que disse! Seriam seus novos parceiros? Será que depois daqui já havia a quem atender?
Merda! Ele vai me deixar!
Por mais vontade... não iria perguntar nada, ele disse que quando voltássemos me contaria, tentei manter a ansiedade sob controle, era mais um dia
de espera apenas...
Ah! Mais que Diabo estava pensando? E o homem do restaurante?
Precisava escapar até a entrada de Penedo!
Alfonso não se despediu, desligou, enfiou o telefone no bolso da bermuda
jeans e com três passadas largas me alcançou, eu estava de braços cruzados e ele me abraçou por trás, beijando e beijando minha bochecha.
— Desculpe, minha morena linda.
— Tudo bem. — Alfonso nos parou, me virou para ele e encostou as costas da
mão em minha testa.
— Tá doente? Não vai perguntar nada, logo minha curiosa incurável?
— Não e não. Não estou doente e não vou te perguntar nada.
— É mesmo?
— São detalhes... — minha Nossa quanta mentira! Estava a ponto de ter um treco!
Entramos na cozinha pelos fundos, tia Ana e as ajudantes preparavam o
almoço, mas ela nos serviu de café, bolo, pão doce e iogurte, ficamos à mesa da cozinha e por algum milagre, tia Ana não sentou-se conosco para trocar informações.
Na verdade estava reclamando um bocado, não estavam acertando parte de uma receita nova que ela queria servir no almoço.
— Tia Ana, sabe da Maite?
— Saiu cedo com a Mônica. — sabia! Mônica era prima da Luiza e era
sabido que ela era bissexual.
— E meus primos?
— Alan ainda não saiu do quarto com a namorada, Alessandro está na piscina com Guilherme, e Rosane foi na rua com a Maite e Mônica.
— Tio Bento, tia Emília? ...
Tia Emília era irmã de tia Ana e Rosane e Alan, seus filhos, não eram meus
primos de sangue, mas era como se fosse. Muito embora Rosane fosse uma
dessas periguetes...
— Bento não sei, Emília acho que na horta arrumando a tela que despencou.
— Hmm...
— Mais que droga!! — tia Ana vociferou de um jeito que fez a mim e ao Alfonso, olharmos espantados.
— Tia, que tanto a senhora tenta fazer?
— É o molho da caçarola de frutos do mar, não está ficando bom!
Alfonso esticou os olhos na direção dela e sorriu balançando a cabeça.
— Que foi, Alfonso?
— A pimenta está errada.
— O que disse? — tia Ana tinha um ouvido muito bom! Credo! Alfonso falou tão baixinho...
Se levantou ainda mastigando o bolo de laranja, parou ao lado de tia Ana,
caramba, ela era muito pequenininha perto dele, Alfonso empurrou o bolo para o canto da boca.
— Dona Ana, a pimenta branca é muito branda pra este prato.
— Muito branda?
— Precisa estar... — Alfonso pensava estalando o dedo — più caldo!... bem...
bem ardente! Ardente no final da colherada, capisce?
Olha, que porra isso... Sempre que esse homem abre a boca pra se expressar em italiano, quase molho a calcinha...
— Tô capiscando, — tia Ana me arrancou uma gargalhada e outra do Alfonso  — mas a receita diz pimenta branca!
— Questa ricetta não está bem traduzida, veja tia Ana, isto é Caldeirada Mediterrânea, é um prato muito comum na Toscana, lá chamamos de Caldo...
Lá chamamos de caldo, pensava que ele havia aprendido italiano por ter se
relacionado com alguém de lá, ou... que se relacionava, afinal... pela vida que tinha...
Agora isso me surpreendeu, ele viveu na Itália, talvez até tenha nascido lá...
vá saber... Vá saber é o caralho!
Levantei-me disfarçadamente enquanto Alfonso explicava a receita para tia Ana e fui saindo de fininho.
Sandro fez uma cara feia, mas não abriu os olhos.
— Está bloqueando o meu sol!
— Bom dia. Me empresta a moto?
Deu uma risada, ainda de olho fechado.
— Mais é claro! Que não.
— Rapidinho, preciso ir antes que o Alfonso dê pela minha falta.
— Cadê seu Deus grego?
— Na cozinha com sua mãe. Me empresta, San-san! Dois V’s.
— Quatro V’s, vai e volta voando viada.
— Show! Cadê as chaves?
— Guilherme, cadê as chaves da CB?
— No bolso da minha calça. Bom dia Any.
— Bom dia Gui. Obrigada, já volto.
Desci correndo, peguei a moto e saí realmente voando para a entrada de
Penedo.
O restaurante em que vi o Alfonso era logo o primeiro, assim por alto nada do homem com quem ele falou anteriormente, então resolvi entrar e perguntar.
Nada.
Ninguém conhecia o Alfonso e o tal homem, que era um dos donos, não estava mais lá.
Já estava montada na moto quando um carinha bonitinho veio falar
comigo...
— Oi... Acho que sei quem está procurando. — acho que era um garçom.
— Sério? —Senti minha barriga se apertar e pensei que teria uma diarréia, tamanho nervoso.
— Não sei o nome dele mas acho que é um cara que trabalhou aqui...— isso
fazia sentido, Alfonso sabia muito sobre culinária!
...
Realmente fui e voltei muito rápido! Triste e um tanto chocada.
E apesar da decepção diante do que ouvi, a cena que vi quando estacionei a moto foi digna de aplausos!!
Letícia discutindo com Rodrigo enquanto colocava as malas no carro, Rodrigo com cara de tédio e ela praticamente berrando. Passei por eles fingindo que não estava interessada, quando na verdade meu radar estava no nível máximo pra ouvir a discussão. Estavam terminando, ela o estava xingando de filho da puta!
Adorei!
Passei pelo cantinho e eles nem se importaram em parar com o espetáculo enquanto eu caminhava próximo.
Cheguei na piscina com a maior cara de alegria.

Aluga-se um Noivo (Adaptada - AyA)Onde histórias criam vida. Descubra agora