Capítulo 33

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Não sabia bem se confiava ou não no Alfonso, ao mesmo tempo que sabia que aquele beijo, aquele abraço não poderiam ser encenação, estava morrendo de medo de que ele me trocasse por outra pessoa que pagasse o dobro.
Obviamente que não era o caso da Rosane, mas a quem eu tentava
enganar? Eu já com trinta anos e ela, estava desabrochando a cada dia.
Ouvi o som da água se agitando, mas não me dei o trabalho de abrir os
olhos, fosse o Alfonso teria de me desculpar e ainda não estava preparada pra isso.
Senti a respiração dele próxima a mim, mas mantive meu corpo imerso e a
cabeça apoiada na borda. O toque de suas mãos em meu rosto estava mais
possessivo, me levantando a cabeça para fita-lo, mas me recusava em olhar em seus olhos, eu cederia, eu o amava. Tocou meus lábios e....
Franzi o cenho encarando-o.
Rodrigo!!??
— Que nojo!! Sai daqui seu porco! — mergulhei me desvencilhando de seu
toque, rapidamente pulei fora da piscina e cuspia e cuspia!
Nem mesmo eu imaginei tamanha reação! Me senti suja, esfregava a mão
nos lábios tentando arrancar aquele toque de mim.
Nojo.
— Espera, Dé, vamos conversar...
— Conversar? Você é um imundo Rodrigo! Eu te odeio! Eu te odeio!
— Não é possível que tudo o que sentia por mim acabou!
Rodrigo saiu da água, caminhando em minha direção. Senti tanto asco dele, me enrolei no roupão branco e felpudo, já me dirigia à entrada, quando me
segurou.
— Por favor, me escuta, eu errei muito! Muito! A Letícia é uma cópia mal
feita de você, Any! Eu fiquei rodando em vazio, no fundo quem eu sempre
quis estava ao meu lado!
— Para!! Escuta o que você está dizendo! As besteiras que está dizendo! Vocês me humilharam na frente da minha família, dos nossos amigos! Vocês me destruíram, me trataram como uma imbecil, não tiveram a menor consideração, a menor pena de mim!
— E eu tô aqui te pedindo perdão! Me deixei levar, me enredar pela vagabunda da Letícia!
— Um ano e três meses depois... — neguei com a cabeça estava...nem sei o
que senti —Você é mesmo um grande homem, Rodrigo. Responsabilizar a
Letícia por seus erros... é mesmo atitude de um homem de verdade!
— Não precisa de ironia. Vai me dizer que em tão pouco tempo você sente
mais por aquele cara que sentiu por mim em quase quatro anos?
— Recoloque a frase, Rodrigo. — estava impaciente com aquele imbecil — Em
menos de quatro meses aquele cara me fez sentir o que jamais conseguiria
sentir por você nem em uma vida inteira! Eu amo o Alfonso. Amo!
Rodrigo me puxou apertado e tentou me beijar uma outra vez, mas consegui me soltar de seus braços e lhe virei a mão num sonoro espalmar no lado
esquerdo de seu rosto fazendo-o virar a cara com os olhos fechados, puxando o ar com força.
Finalmente ele entendeu, recuou e saiu da sala da piscina aquecida sem
falar mais nada.
Estava tão arrasada com a atitude de Rodrigo, enojada, não conseguia parar de chorar, aquilo tudo estava sendo demais pra mim! Sentei-me na
espreguiçadeira e enterrei as mãos no rosto, abafando aquela sensação horrível que estava me sufocando.
Não demorou muito para que Maite entrasse correndo.
— Any, o que está acontecendo?? O-o-o Alfonso... — ouvi Maite gaguejar.
Levantei o rosto quando Maite não conseguiu terminar a frase. Seus olhos
repletos de angustia e de dúvidas.
— Alfonso?
— Vim correndo avisar, ele-ele-ele tá indo embora!!
— Que? — minha voz saiu aguda e nervosa.
Deixei Maite de lado e corri atrás de Alfonso, isso não fazia nenhum sentido!
Por que estaria indo embora? Por que estava me deixando? Por que...
Merda!
Fui o mais rápido que pude! Cheguei a tempo apenas de ver o Sonata se
afastando pelo portão da pousada.
Meu peito doeu tanto, levei minhas mãos à cabeça e andava de um lado a
outro sem saber o que fazer, não conseguia pensar em mais nada, ele estava me deixando, estava me deixando!
— Alfonso!!

Todo o ar se esvaiu de meus pulmões, e deixei um grito desesperado sair de
mim antecedendo a um choro incomensurável.
Maite me segurou, tentando me abraçar e eu tentando tira-la de mim, não queria ser consolada, queria o Alfonso, queria o meu Alfonso queria o meu amor!
Queria matar o Rodrigo!
Empurrei Maite e corri muito! Atravessei o estacionamento, o pátio de entrada, os jardins e a piscina comum, entrei apressada pelo salão e segui
para o corredor que levava aos quartos.
Acho que empurrei a porta com tanta força atrás de mim que ela voltou a
abrir, Rodrigo me olhou assustado e parti pra cima dele, descontando toda a raiva que estava sentindo dele, dos quase quatro anos que ele jogou fora por nada.  De como me traiu porcamente com uma mulher a quem chamei um dia de amiga.
Raiva por ele ser um canalha. Raiva de mim, por ter sido tão estúpida em
não abrir os olhos e ver que era ele quem havia entrado na piscina. Raiva por ter desconfiado de Alfonso e Rosane. Raiva! Raiva! Raiva!
Rodrigo se defendia com as mãos enquanto eu lhe dava chutes, tapas e socos.
Meu corpo tremia e simplesmente não pude parar de atacá-lo ainda quando
Guilherme e Alan me arrastavam para longe de Rodrigo e eu tentava alveja-lo
com mais chutes e pontapés. E eu gritava pra quem quisesse ouvir que eu o odiava, o odiava com todas as minhas forças!
Nunca antes senti tanta dor. Rodrigo me traiu, eu vi. Ainda assim não era nada perto do que estava sentindo.
Alguém me deu água com açúcar, mas não queria água com açúcar. Tentei
ir embora e não me deixaram, precisava ir até o Alfonso dizer a ele! Dizer... eu... eu...

                         ********

Maite dormia ao meu lado em seu chalé.
Eu, fitava a parede pintada de branco... fitava o nada.
O travesseiro encharcado pelas lágrimas.
Aquela dor não tinha ido embora. Segurei o celular forte nas mãos, foram tantas as mensagens que deixei, tantas chamadas, todas ignoradas.
Maite me contou, contou que Alfonso e ela conversavam sobre a loja de
bolinhos de chuva, que ele adorou a ideia. Contou que estava chateado por
eu não acreditar nele, contou que Rosane estava segurando a aliança em sua mão, apenas isso.
Foi me procurar, deve ter visto Rodrigo e eu num canto da piscina. Arrumou
sua bolsa de viagem e foi embora. Nem ao menos me questionou. Apenas se foi.
E com isso aquela amargura foi se transformando em mais raiva, agora
estava com raiva dele, por não ter falado comigo! Por ter pensado que eu
pudesse voltar para aquele porco do Rodrigo.
E na mesma proporção em que crescia minha raiva, crescia também meu
desespero, não poderia viver sem Alfonso, não conseguiria.
E minhas lembranças me torturavam com a visão do discreto sinalzinho que
suspendia acima do lábio e quase sumia quando ele sorria, de como partia o pão em pedaços pequenos e os levava à boca, do aperto de seus abraços, do jeito que amarrava o tênis como uma criança e da maneira desenvolta e totalmente contrária com que dava um nó de gravata e me lembrei de cada coisa boba e trivial.
Maite e eu voltamos para o Rio de Janeiro assim que amanheceu, nos
despedimos dos meus tios e Tio Bento disse: Nunca vi você querer tanto
uma coisa. E sorriu.

Sabe o que foi pior?
Entrar no apartamento e percebê-lo tão vazio quanto estava meu coração
sem o Alfonso.
Andei com medo de meus próprios passos, minha respiração aumentando
em desalinho enquanto me aproximava do quarto, parei à porta do banheiro,
sobre a pia não havia mais nada dele.
Meu coração martelava o peito da maneira mais dolorosa possível.
Nada mais nas gavetas, nada mais em seu lado do guarda-roupas. Levou o
tênis, que só serviu para enfeitar o canto da porta. As roupas lavadas ainda amassadas, também as levou.
Sentei-me no corredor frio e lá apoiei minha cabeça em meus braços,
enlaçando minhas pernas em um abraço, nada mais importava.

Aluga-se um Noivo (Adaptada - AyA)Onde histórias criam vida. Descubra agora