Mapa do tesouro *ATT 2024*

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-Ok... Ok. - sussurrei para mim mesma, tentando fazer surgir algo - É só escrever. É só... Ser honesta... Você consegue - tentei ainda um auto incentivo débil.

Levantei os olhos da folha de caderno a minha frente, em que se podia ler "Scar," logo no canto superior esquerdo. E mais nada.

Como as pessoas pedem desculpas? Cartas ainda estão na moda? Tipo, é algo retrô, certo? Então está na moda, certo?

Desviei o olhar do papel - eu estava me perdendo. Precisava focar.

Olhei longe Scar sentada num dos bancos, sob o sol. Samantha e Khaaaaty ao seu lado, Lennick no chão a sua frente, Patrick e algumas garotas do terceiro ano em volta... Todos rodeando a rainha Scar. E eu nem sequer pensava nisso com raiva, porque Scar era de fato uma rainha, soberana, um imã. Ela era magnética e todos queriam estar a sua volta e se banhar na sua luz.

Inclusive eu.

Voltei a olhar seu nome escrito com minha caligrafia miúda. Seria preciso uma puta carta muito boa para competir com toda aquela gente. Como caralhos eu fui perder essa garota?!

Olhei me volta novamente, para os outros adolescentes espalhados em pequenas rodas pelo pátio: parecia uma selva, com diversas espécies de animais na beira do lago.

Pousei meus olhos no garoto solitário deitado na grama, com a touca puxada para cobrir os olhos da luz do sol, tentando tirar um cochilo. Provavelmente era mais fácil ser solitáro na escola quando se sabe que fora dela seus amigos o esperam. Pelo menos parecia ser fácil assim para Gabriel.

Pensei em ir até lá, sentar-me ao seu lado na grama, puxar uma conversa, falar sobre o clima, sei lá... Qualquer coisa para adiar a tarefa a minha frente. Qualquer coisa para não me sentir tão sozinha. Mas não nos falamos desde o cinema, então eu tinha a impressão de que talvez, só talvez, ele me odiasse completamente.

Como diabos eu fui entrar no meio de tanto drama adolescente?

Eu havia passado a maior parte da minha vida sozinha, sem amigos, sem primos, não muito próxima dos meus pais. Tinham sido 16 anos tranquilos assim, quero dizer, eu estava acostumada a ser esquisita e solitária. Então isso não deveria ser tão dificil agora. Mas era. Bastaram alguns meses com amigos e festas do pijama para que eu baixasse a guarda. Eu me descuidei e agora tinha ficado viciada em ter companhia. Agora não conseguia mais simplesmente ser a esquisita solitária que dorme a maior parte das aulas.

Ter amigos era uma merda.

Pior ainda: ter tido amigos era uma merda.

Ou vai ver que ser meu amigo é que era uma merda. Quem eu estava querendo enganar? Sim, ser meu amigo era uma merda!

Scar, em toda sua empatia e legalzisse, não foi nada além de boa amiga pra mim.

Lennick, em toda sua babaquice e insistência, não foi nada além de bom amigo para mim.

Eu, em toda minha estupidez e egoísmo, não fui nada além de uma filha da puta para eles.

Que caralhos havia de errado comigo? Como eu pude perder dois amigos de uma vez só?

E a resposta era bem simples: eu era uma idiota. A culpa? A culpa era minha e apenas minha.

Não havia o que questionar, não havia ninguém mais para culpar.

Porque eu sempre fazia merda.

Porque eu sempre magoava as pessoas.

Porque eu era toda errada.

Até quando, Valentina? Até quando você vai ser estúpida assim? Até morrer?!

Recostei minha cabeça nos joelhos, escondendo meu rosto. Sentia as bochechas esquentando e sabia o que isso significava: eu estava prestes a chorar. NO MEIO DA ESCOLA!

Patética!

Eu sou digna de pena.

Parece que tudo o que eu faço é errar e errar e errar mais. Se eu pudesse voltar no tempo, eu poderia jogar as fichas criminais fora e então Scar não me odiaria. Se eu tivesse uma máquino do tempo, entao eu voltaria alguns meses atras, um dia qualquer, por apenas alguns minutos mas que seria tempo suficiente para estragar toda a minha vida e perder minha melhor amiga. E Lennick também ia deixar pra lá que eu gosto do Mike. Se eu tivesse escondido melhor, de repente ela não acharia. Por que eu simplesmente não amassei e joguei fora? Qual é o meu problema?!

Senti um leve solavanco; alguém tinha sentado ao meu lado. Levantei só um olho para espiar quem seria e me deparei com Gabriel, sentado no chão, abraçando os joelhos, como eu fazia.

Por acaso aquele garoto sabia ler mentes? Como ele adivinhou que eu tinha pensado nele?

Aproximou seu rosto de mim.

-Se você quer ficar sozinha, deveria ir atrás da salas de atividades extras. O meio do pátio chama um pouco de atenção demais, não acha?

Dei de ombros.

-Escuta, Val - continuou sussurando - Quer dar o fora daqui?

Hesitei um pouco.

-Tipo...ir pra sala de judô?

o Garoto sorriu com uma leve malícia de quem tinha um mapa do tesouro escondido no bolso.

-Tipo, ir pra sala da minha casa. - disse e aquilo me pegou menos de surpresa do que deveria. Talvez porque Gabriel tenha se mostrado um galanteador cafajeste em outras oportunidades ou talvez porque eu quisesse isso.

Olhei pensativa para longe com apenas o olho que deixei escapar entre meus próprios braços e cabelo. Pude perceber Lenny olhando para nós, tentando disfarçar enquanto conversava com Patrick, mas claramente atento ao garoto sentado ao meu lado.

Ir embora com Gabriel com certeza só faria Lennick me odiar ainda mais. Mas, ao mesmo tempo, não era só isso que eu sabia fazer?

Quem eu estava tentando enganar: eu sou uma pessoa horrível mesmo. E tirar o loiro da minha vida seria um favor que eu estavria fazendo para ele.

-E ai, Val, o que me diz? - o punk insistiu ao meu lado, dando um leve empurrao em meu ombro.

Ergui minha cabeça torcendo para que o lápis preto maybelline não tivesse me transformado num panda.

-Vamos dar o fora daqui - respondi e me levantei.

Guia Prático Para Um Suicídio De ÊxitoOnde histórias criam vida. Descubra agora