Estava cansada daquela semana. Era como se eu tivesse vivido um ano inteiro em apenas cinco dias: de segunda a sexta. E nada sobre adiquirir experiência ou sabedoria - oh não! Era apenas como se eu tivesse respirado por um ano, caminhado por um ano, escrito por um ano... apenas as partes ruins. Embora, talvez, ter saído com Scar tenha sido quase agradável, pelo menos até que resolvemos ir até Kaaaaty, para fumar.
Olhei para Katy do outro lado da sala, sentada a frente de Scar - tão falsamente amigável, tão cinicamente boa. E ao seu lado estava Sam, quase tão verdadeira quanto a primeira, só que nem sequer disfarçava os olhares de nojo. Nojo de todos aqueles que não eram do seu grupo de metidos ricos e populares. Todos aqueles como eu, sentada a cama, numa quarta a noite, depois de ser expulsa de uma festa pseudo punk.
- Nossa, o seu estilo é bem legal. Você é bem fiel a ele, está sempre com as mesmas roupas
- Eu gosto das minhas roupas. - falei na defensiva.
- E o seu cabelo também é muito legal. Você não penteia nem nada.
- O que quer dizer?
- Nada. É bem estiloso. - respondeu e sorriu. Mas eu via os ganchos segurando seu sorriso no lugar enquanto mandava os insultos disfarçados de elogios.
Marco aumentou a voz em toda sua empolgação com ligações ionicas e eu despertei do meu devaneio. Olhei para as zumbis com glitter conversando por bilhetinhos e rindo.
- Idiotas - falei baixo para mim mesma. Como Scar consegue ser amiga delas?
Suspirei pesado e fechei o caderno, joguei o capuz sobre a cabeça e deitei em meus braços cruzados sobre a mesa. Eu já estava estudando com Scarllet e fazendo todas as lições de casa - Marco não poderia me cobrar por mais que isso! E, com esse pensamento em mente, virei para o lado e dormi tranquilamente até o intervalo.
Acordei com o som da campainha idiota e a movimentação idiota dos alunos idiotas para o recreio idiota. A parede rabiscada com desenhos de pênis e xingamentos anônimos entre as alunas não era a melhor imagem para se ter assim que abre os olhos, mas eu já estava acostumada, então não dei importância. Assim que percebi que os últimos sons de passos atravessaram a porta, virei-me para o outro lado, com a esperança de encontrar a sala vazia, como sempre. Mas logo minha esperanças foram desfeitas.
Do outro lado, sentado em sua cadeira, Lennick estava deitado sobre os braços na mesa, da mesma forma que eu, me encarando.
Bufei em descontentamento e voltei a encarar a parede dos pensamentos adolescentes. O que o babaca estava fazendo aqui? Logo ele, que sempre sentava em meio ao grupinho de idiotas bullys para rir dos outros alunos durante o intervalo. Será que ele ainda... - virei-me lentamente, só o suficiente para ver e constatar que sim, ele continuava na mesma posição, me encarando com seus olhos extremamente azuis e sóbrios. Babaca.
Passei algum tempo contemplando a arte sexual abstrata estudantil, esperando por algum som, algo que talvez indicasse que o ele tinha saído. Mas não houve. Impaciente em pensar que estava perdendo o meu momento de relaxar em paz, virei-me novamente para o garoto, que, como eu, continuava deitado sobre os braços cruzados na mesa.
Encarei-o. Encarou-me.
Revirei meus olhos.
- O que você quer? - perguntei ranzinza.
- Sei lá - falou com a cara despreocupadamente pensativa - Talvez só ficar aqui, te olhando.
- E desde quando você dispensa a companhia dos idiotas com quem anda para ficar me encarando?
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Guia Prático Para Um Suicídio De Êxito
Teen Fiction#1 em Guia (24/11/2018) Valentina é uma garota de 16 anos que está escrevendo um livro diferente: um guia de suicídio. Para isso ela pesquisa e testa em si mesma diferentes formas de tirar a própria vida. Há quem diga que a garota é fraca por não...