Afogar cigarros

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Um homem calmo, sereno, de aparência paternalmete peculiar, roupas simples e claras, sempre com um sorriso amigo e sábias palavras acolhedoras - esta era uma boa e precisa descrição para o Dalai Lamah. Ou, caso este estivesse ocupado, Michael Anderson Willians.

Normalmente ele era conhecido por mim como Mike, mas, naquele exato momento, eu não conseguia pensar em outro nome além de Ruivo Oferecido.

Ruivo Barbudo Oferecido.

Ruivo Barbudo Eremita Oferecido .

Ruivo Barbudo Eremita Sardento Despenteado Presunçoso Corado Oferecido.

Talvez fosse um pouco ranzinza também, mas esse provavelmente era um traço da genética Willians.

Ajeitei o capuz sobre a cabeça, numa tentativa de proteger a horrível chapinha que tinha feito nos cabelos do sereno que caía no início da noite. Estava de pé a alguns passos da porta automática, observando Mike a distância contando alguma piada idiota e rindo.

- Quando você quiser... - Lennick soltou ao meu lado, agoniado em ficar parado - A qualquer momento... Assim que decidir... Basta falar e nós vamos...

- Eu não te pedi pra me buscar! - respondi um pouco irritada em estar sendo apressada.

- Mas também não negou minha companhia.

- Eu não tive outra opção.

- Ora, por que não chamou Scar então?

- Porque ela está muito ocupada com a Kaaaaaaty e a Saaaaaam - debochei. Dei de ombros - Tanto faz! Vamos acabar logo com isso - falei e me pus a caminhar farmácia adentro.

O farmacêutico estava atendendo duas jovens garotas, com um idiota sorriso simpático no rosto, que sumiu assim que nos viu passando pela entrada. Rolei meus olhos e atravessei o balcão, indo em direção a copa com Lennick em meu encalço.

- Talvez um babador devesse fazer parte do uniforme oficial de vocês!

O garoto olhou para trás no corredor por um segundo.

- Do que está falando, Valen-Baby?

- Esquece.

- Isso... é um ataque de ciúmes do Michael?

Sentei-me de forma despojada numa das cadeiras da copa.

- Ah, Lennick, faça-me o favor! Eu tenho coisa melhor pra fazer do que ficar com ciúmes do Mike!

- Espera - o garoto falou e sumiu pelo corredor por um instante, voltando logo em seguida - Ok, você tem motivos para ficar com ciúmes! Elas são mesmo gostosas!

- Porque você não vai lá esfregar a cara no balcão pra elas, também? Tenho certeza de que as duas iriam adorar ter outro idiota babando o tempo todo.

Sentou- se a minha frente.

- E isso agora, é ciúmes de mim?

- Isso agora sou eu de saco cheio!

Deu um leve chute em meu pé por baixo da mesa.

- Eu prefiro chamar de ciúmes. - sorriu largo.

- Eu prefiro chamar de saco cheio.

- Eu prefiro chamar de paixão platônica.

- Eu prefiro chamar de dois babacas.

- E eu prefiro chamar de imaturidade - a voz soou desde a porta, atraindo nossos olhares. Mike estava parado sob o batente com cara de poucos amigos.

Cruzei os braços - ainda estava me sentindo um pouco estranha perto dele, embora não soubesse exatamente o porquê. Talvez fosse porque ele era um dos poucos que eu considerara desde o começo ou talvez porque eu não fosse o tipo de pessoa que sabe pedir desculpas. Talvez um pouco dos dois somados à raiva em vê-lo tão simpático com as clientes garotas do sexo feminino.

Guia Prático Para Um Suicídio De ÊxitoOnde histórias criam vida. Descubra agora