Coisas bonitinhas e clichês

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N/A: MAAAANO faz uns 5 meses que eu não atualizo. I AM SORRYYYY. Será que vocês sequer lembram onde paramos?? Talvez seja bom voltar um segundinho no capítulo anterior pra se situar kkkk

Por baixo da mesa, eu desenhei seu cabelo. Fiz toda silhueta tocando de leve, encaracolando, subindo e descendo cada onda.

Ela se movia enquanto eu fazia isso, o que dificultava muito manter a precisão. Não se fazem mais modelos para pintura como antigamente, em que a pessoa ficava parada por horas na mesma posição. Oh não, não! Ela movia a cabeça enquanto ria, inclinava-se para dizer algo ao homem ao seu lado, esticava-se para pegar uma taça do outro lado da mesa, fazia de tudo sem se importar com o retrato seu que eu dedilhava sobre minha própria coxa, sem papel e sem caneta, apenas tocando de leve a ponta do dedo sobre o jeans.

Mesmo sem ver, eu senti as formas dela. Cada volta que seu cabelo volumoso fazia, cada ponta serpenteando até a bochecha.

Ali, sentada à mesa, com uma mão escondida sob a toalha, eu tentava perceber tudo em Elinor que atraia Mike.

O ruivo, sentado longe de mim, disse-lhe algo que eu não consegui decifrar enquanto puxava uma mecha de seu cabelo preto para prender atrás da orelha, o que fez o sorriso dela ficar ainda maior.

- Ei - Lenny cochichou ao meu lado - Será que dá para ao menos disfarçar?

- Do que está falando? - respondi igualmente baixo.

- Essa sua cara e esses seus suspiros; daqui a pouco até os chineses vão perceber!

- Quê chineses, menino?! - perguntei totalmente perdida e levemente irritada, dando uma olhada melhor nos outros convidados.

- Os que ficam do outro lado do planeta, Valentina! Eu sei que ele é sua paixãozinha, mas esse é o jantar de noivado, ao menos finja estar feliz!

- Mas eu estou feliz! - menti entre meus dentes - Você definitivamente não sabe nada sobre mim, Lennick. - bufei descontente, dando um gole em meu suco de uva.

Nada de vinho para as crianças - eles disseram, "mas nós temos suco de uva!"

De repente o garoto ao meu lado se levantou, com um sorriso preso ao rosto por pregos.

- Posso te mostrar o jardim, Valentina?

Pisquei confusa.

- Vem, você vai adorar as flores - insistiu erguendo as sobrancelhas sugestivamente. - Hein?! - estendeu-me a mão.

Pensando na oportunidade de falar umas boas verdades na cara de meu amigo, eu me levantei para ver o tal jardim. Alguns convidados olharam para nós, principalmente a sra Susan, mãe de Lennick, mas a maioria seguiu em suas pequenas conversas sem nos perceber.

Assim que me pus a caminhar, Lenny entrelaçou seus dedos quentes nos meus, com a naturalidade de quem sempre fizesse isso. Arregalei os olhos, mas o garoto continuou calmamente ao meu lado pelo corredor.

Eu não conseguia pensar em fechar meus dedos, assim como ele fazia comigo, então apenas mantive-me ali, sem retirar minha mão da sua, porém sem poder receber nenhuma culpa por estarmos de mãos dadas.

Assim que chegamos à varanda, descemos os degraus e paramos. Agora o vozerio do jantar parecia ter sido tragado pelo som frágil dos grilos e folhas balançando com o vento frio.

O jardim era de fato muito bonito e dava para perceber que cada planta ali, das pequenas margaridas até as árvores altivas, foi cuidadosamente planejada. Havia uma diminuta fonte a distância, mas esta não estava ligada, além de algumas esculturas de anjos bebês e bancos com assento em granito. Por um segundo me peguei perguntando se o jardim tinha sido ideia de Mike ou de Elinor.

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