Lista de indícios do amor recíproco

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Lindos...brancos...imaculados... Os cigarros na mão de Mike praticamente chamavam por meu nome. E tudo o que eu queria era responder que sim.

Seria tão fácil apenas esticar a mão e pegar um precioso cigarrinho. Fácil demais...

Franzi o cenho e desviei o olhar para seu rosto.

- Qual é a pegadinha? - perguntei.

- Não tem pegadinha, na verdade... Na verdade a vida é toda uma grande piada. Mas você tem razão, é melhor não começarmos - disse recuando o maço e negando sutilmente com a cabeça.

- Ã-hã! Nada disso - segurei seu pulso - Eu só perguntei qual era a pegadinha, eu não disse que não queria - falei e peguei um bastão da caixinha de papelão.

Meu amigo sorriu sem muita animação e fez o mesmo, deixando o light pender nos lábios finos. Depois enfiou as mãos nos bolso e procurou até encontrar um isqueiro laranja que eu tinha quase certeza ter sido confiscado de Lennick. Aproximou-o do cigarro e riscou o dedo várias vezes na pequena engrenagem, fazendo saltar faíscas mas sem conseguir nenhuma chama. Suas mãos tremiam de modo que mal conseguia manter o isqueiro de pé.

- Mike, tá tudo bem?

- Sim, eu só... É que faz tanto tempo, sabe? E-Eu só... Eu só preciso - balbuciou tentando conseguir um pouco de fogo.

Afastei suas mãos suavemente para longe de seu rosto.

- Eu acho melhor deixarmos isso para outra hora - falei enquanto minha mente implorava para que eu não desperdiçasse a chance, talvez única, de fumar com Mike.

- É, hmm - pigarreou - Eu acho que você tem razão.

Tamborilei o cigarro em meus dedos. Meu Deus, a quanto tempo eu já estava sem fumar? Nada, nadinha? Nem uma micrograma de nicotina desde que Mike pegara meu maço na farmácia! E agora estava eu ali, sentada ao seu lado, com total permissão para acender meu câncer e tragar até meus pulmões explodirem de fumaça. Bastaria querer, e eu recusei.

Eu já poderia ter comprado outro maço? Poderia. Na bomboniere da pracinha no centro eles vendem qualquer coisa para qualquer um, sem se preocupar. Na verdade tenho certeza de que eles sabem que seus fregueses uniformizados são menores de idade. Ainda assim, a moral ou a lei não lhes parece um grande empecilho. Mas eu não o fiz. E não o fiz porque a ideia de que Mike me achava uma viciada era horrível demais.

Eu não era como minha mãe.

- Acho que... - meu amigo começou, tirando-me do meu devaneio - Eu não fumo desde a faculdade. Ou melhor, o começo da faculdade!

- Vejam só! - empurrei seu ombro com o meu - Quem diria que Michael Anderson Williams tem um passado sujo. - brinquei fazendo-o rir - E por que parou? Aprendeu sobre todos os males do cigarro nas aulas?

Seu riso diminuiu até ser apenas um sorriso enferrujado.

- Na verdade eu parei quando David ficou doente.

Vasculhei pelos cantos escuros da minha mente por alguma referência a este nome. Mas tirando um garoto com quem eu tinha estudado no 6° ano, não havia registros em minha memória de nenhum outro David. Principalmente não de um David em comum com meu amigo ruivo.

- Sei... Tá falando de um garoto moreno que tem aquele espaço nos dentes da frente?

O ruivo me olhou como se eu tivesse dito um provérbio chinês em alemão.

- Esquece! Me conta: quem é David?

- David é meu irmão. Ou era. Eu nunca sei o que dizer; "é", "era", "foi"...

Guia Prático Para Um Suicídio De ÊxitoOnde histórias criam vida. Descubra agora