Favores sexuais

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Já era quinta vez que Johnny entoava a anarquia no Reino Unido, e eu continuava jogada na cama.

Primeiro eu tive que recolher todas as minhas aspirinas, então eu peguei um pote de Nutella vazio na cozinha e coloquei-as dentro para que pudesse voltar a guardar na caixa de Pandora. Então eu me sentei em frente ao computador, mas não para acessar a internet e sim para afastar o moderno monitor e apoiar Olive sobre a mesinha, datilografando as observações sobre Lennick. Só depois de guardar a sua ficha na pasta debaixo da cama, eu pude voltar a relaxar.

Meus olhos estavam fechados e meus ouvidos continuavam tapados, mas meus sentidos estavam a tona e eu percebi quando os gritos agonizantes de Rotten pararam. Ergui minha cabeça para encontrar o motivo que cessou a música calmante e dar lugar ao silêncio ensurdecedor; minha mãe estava parada ao lado do som com com a mão sobre o botão de volume.

– Você tá bem?

Me sentei na borda da cama retirando os tampões de ouvido. Confirmei com a cabeça.

– Está com fome?

Cocei meus olhos com os punhos.

– Acho que sim. Mas depois eu desço e faço um sanduíche.

– Tudo bem. - disse se encaminhando para a porta mas parou quando alcançou-a – Ah! Filha, mais uma coisa: tem um amigo seu te esperando na sala. Eu me desculpei já que você nunca escuta nada quando coloca esses moleques pra gritar, então disse que ia te chamar e você desceria em cinco minutos.

– O Que?!

Ela ergueu uma sobrancelha; estava desconfiada. O que eu poderia dizer? Mentir? Contar a verdade? Mas qual era a verdade? Que um cara louco da minha sala estava me perseguindo? Bem, talvez não fosse tão mal.

– Mãe, esse garoto é maluco! Ele tá me perseguindo igual um doido! Eu nem sei como ele descobriu onde eu moro. Manda ele embora!

Erro. Grande erro.

Um sorriso malicioso rasgou a cara de minha mãe e eu entendi o que ela estava pensando.

– Não! Mãe, não é nada disso que você está pensando!

– Mas eu nem disse nada. - saiu sorridente – E não demore para atender meu genro! - gritou das escadas e eu desejei entrar em coma instantâneo naquele momento.

Espalmei minhas mãos na cara. Oh droga!

Sem ter outra opção, calcei minhas pantufas e tentei ajeitar o cabelo sem muito resultado. Suspirei em frente ao espelho do guarda-roupa e limpei o lápis de olho preto que estava borrado. Passei a mão desajeitadamente pela roupa tentando desamassar o tecido e suspirei. Mas espera... Por quê eu sequer me importava? Coloquei meu velho moletom preto.

Desci os primeiros degraus e me abaixei, espiando por entre as barras verticais do corrimão de madeira. Lá estava ele: sentado no sofá, observando as imagens aleatórias na televisão sem  som. Parecia tão inocente que ninguém suspeitaria ser um assassino de aluguel.

Como se tivesse um sexto sentido, o babaca virou-se repentinamente para as escadas. Mas então eu percebi que da cozinha minha mãe apontava na minha direção. Poxa, mãe, você não devia estar contra mim! O garoto levantou-se.

– Hey...

Continuei agachada entre as barras de madeira, encarando-o furiosamente.

– Hmm.. Será que eu posso falar com você?

Estreitei meu olhar - o que ele queria? A resposta mais sensata seria dizer que não e mandá-lo embora, mas a curiosidade corroía meu estômago mais forte que a fome. Olhei minha mãe sob o batente, sorrindo enquanto secava as mãos num pano de prato - traidora. Acenei com a cabeça em direção ao andar de cima. Lennick olhou para minha mãe que o encorajou a me seguir.

Guia Prático Para Um Suicídio De ÊxitoOnde histórias criam vida. Descubra agora