Guerra civil

191 29 152
                                    


Sons baixos. Olhares baixos. Cutucões por debaixo da mesa.

Suspirei cansada.

- Escutem aqui vocês dois: eu estou bem! - falei perdendo a vontade de comer e largando o pão mordido no prato.

Os dois se lançaram olhares de esgueira, pegos trapaceando no jogo de poker da vida.

Cruzo os braços e me recosto na cadeira, alternando minha cara de indignação entre meus amigos, a espera de uma explicação. Scar é a primeira a falar:

- Nós... Só estamos preocupados, Valen. Você não quis falar nada sobre ontem e...

Reviro meus olhos sem ter certeza de porquê me sinto tão incomodada com isso. Mas estou. Fato é que eu queria poder fingir que nada havia acontecido e nem dar explicações, principalmente porque eu mesma não tinha as respostas.

- Eu já falei que estou bem! Foi só... Foi só aquilo mesmo! Acabou, passou! Não vai acontecer de novo, eu sei disso.

Novamente olhares se cruzam sobre a mesa e toda a comida é unanimamente esquecida.

- Eu posso ver que está bem agora, mas...

- E por que ele está aqui? - pegunto apontando um dedo acusador na direção de Lennick, que, perdido, procura em volta por uma desculpa.

- Ei! Eu também me preocupo com você, Valen-baby!

- Não me cham... Ah, deixa pra lá - desisto de protestar, sabendo que será inútil; o apelido já pegou.

- Sei lá, achei que a gente poderia fazer alguma coisa legal. - Scar explica, servindo-se de mais suco de laranja - Tipo, galera, é sábado! Somos adolescentes, amigos e temos o dia inteiro livre! Vamos fazer coisas de adolescentes, sair, ver um filme...

- Usar drogas - Lennick continuou, pegando a garota de surpresa.

- Invadir casas - completei.

- O que? Não, pera...

- Nadar pelados... - o loiro resolveu fazer disso um jogo. O jogo de arregalar os olhos de Scar; e eu aceitei.

- Pixar museus...

- Explodir latas de lixo...

- Roubar carros...

- Mas que tipo de adolescentes vocês acham que são?

Encarei Lenny e o garoto deu de ombros. Concordamos em pensamento.

- Má influências - falamos ao mesmo tempo.

Scar revira os olhos parecendo pedir por paciência a Deus enquanto toma um gole do seu suco, o que provoca sorrisinhos cúmplices entre nós dois. Volto a tomar meu café da manhã também, já me sentindo menos irritada.

- Beleza! O fato é que eu não sai da minha casa de manhã cedo apenas para ver a cara de sono de vocês duas e comer torradas, então é melhor pensarem em algo antes que eu seja obrigado a bolar nossa próxima diversão juntos. Como sempre.

No mesmo instante, flashbacks de nossa última reunião na casa de Scar passam em minha memória, e a ideia de outra rodada de Verdade Sueca não agrada minha mente semi acordada.

- Nada disso! Da última vez foi você que escolheu já. Sei que a Scar vai conseguir pensar em algo legal para nós fazermos, certo?

- Certo - a garota responde sem muita convicção. Provavelmente sentindo o peso de ser a responsável pela diversão do grupo. - Eu tava pensando em algo calmo, sabe? Assistir um filme ou dar uma volta no parque.

Guia Prático Para Um Suicídio De ÊxitoOnde histórias criam vida. Descubra agora