Hiena traiçoeira

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N/A: Daqui pra frente a história é nova. Novos capítulos, novas ideias... Novo final :)


Mike de um lado da mesa, eu do outro, dois copos com água, minhas mãos cruzadas a minha frente e as dele também. O almoço tinha sido em completo silêncio.

- Sr Michael... - sussurrei e recebi sua atenção. - A mala com os 3 milhões de dólares em espécie estão no primeiro armário do guarda-volumes do metrô. A senha do cadeado é v-a-l-e-n-t-i-n-a-l-i-n-d-a. Se a polícia o pegar, você não me conhece. Foi um prazer fazer negócios com o senhor.

Meu amigo desviou o olhar de mim enquanto dava uma curta risada, perdendo um pouco do suposto mau-humor que deveria estar sentindo depois de ouvir as idiotices que seu primo dissera.

Eu gostava do sorriso do Mike. Era largo, normalmente encarando o chão, deixando seus olhos apertados e com rugas da pouca idade nos cantos.

- Então você acha que vai se livrar de mim com 3 milhões? Srta Valentina, você está muito enganada...

Sentei-me mais confortavelmente, apoiando um braço no encosto da cadeira e cruzando minhas pernas; a atmosfera pesada já havia se esvaído.

- Mais ou menos isso. Ou eu posso te perseguir por aí até encontrar um segredo seu e usá-lo contra você. Mas cá entre nós... Isso normalmente estraga um pouco a amizade e eu não estou muito a fim de perder minha Nárnia dos band-aids legais.

- E então, vai me contar que história é essa entre você e essa garota?

- Não tem nada acontecendo. Seu primo só está sendo o idiota de sempre.

- Tem certeza? Não me parece que não tem nada. Na verdade parece que muita coisa aconteceu.

- Seu primo é um idiota, só isso.

- Ok, então... E quanto a Lennick: o que aconteceu com vocês?

- Não quero falar sobre isso, tá legal?

Mike me olhou desconfiado. Bufei em descontentamento. Por que diabos a pauta da minha conversa preciosa com Mike estava sendo Lennick e Scarllet?

- E sobre o que quer falar, Val?

Dei de ombros. Não sabia ao certo o que queria, embora soubesse exatamente o que não queria. Queria conversar com Mike, fazê-lo rir, ouvir seus conselhos de Confúcio ocidental e passar algum tempo longe de casa. Queria conversar com ele, não sabia exatamente sobre o quê, mas queria. Muito. O que eu não queria era ficar relembrando toda a grande pilha de merda que havia na minha vida: meus pais, a escola, os falso-amigos, os pulsos... Era tão dificil assim conseguir um pouco de distração?

- Bem, você não quer me falar sobre seu pulso, nem dessa história sobre uma suposta namorada, nem do porque brigou com Lennick... Acho que vamos ter que conversar sobre quem vai lavar a louça! - falou sorrindo e assim terminou com qualquer rastro de tensão que podia ainda estar entre nós.

- Sendo eu uma visita, espero ser tratada como tal. - brinquei. Eu não me importaria em limpar nossa bagunça.

Mike deu um último sorriso leve, mas que logo se apagou dando lugar a uma espressão estranhamente séria. Sua mão quente cruzou a mesa até encontrar com as minhas frias, e dar um leve aperto.

- Ei, Val... Sabe que pode falar comigo se quiser, certo?

Suspirei. Eu poderia dizer que não e perder um tempão explicando os motivos pelos quais chinchilas são mais confiáveis do que humanos, explicar como eu recentemente tivera uma prova de que pandas alucinantes são mais confiáveis do que adolescentes, explicar como caras ficam apenas esperando qualquer brecha para atacar bem no ponto fraco, mas... Era uma fadiga fadada ao fracasso. Pessoas sem problemas tendem a achar que a vida de pessoas com problemas vai se resolver como mágica. Que é só dar tempo, ser paciente, otimista, tentar mais uma vez e etc. Sendo que, no fim, nada nunca vai se resolver tão facilmente assim; é por isso que chamamos de problema, não de video-game.

Guia Prático Para Um Suicídio De ÊxitoOnde histórias criam vida. Descubra agora