Prologo

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Aleena Romano
10 anos atrás

Meus punhos estavam cerrados e minha respiração irregular, eu queria gritar e colocar pra fora tudo o que eu queria mais não podia, se fizesse as consequências seriam desastrosas e não queria passar por tudo novamente.

Hera: As coisas mudarão a partir de agora, não haverá mais regalias para você Aleena, estou farta das suas atitudes

Hera era minha mãe, embora eu duvidasse muito de que ela poderia ser denominada assim, ela não ligava pra mim, eu era apenas um grande erro em sua vida e um fardo que ela tinha para carregar, palavras dela !
Morávamos no Canadá, nós nos mudamos quando minha mãe resolveu se casar novamente, eu nunca conheci meu pai e por isso não tinha como recorrer a um, sendo bem sincera eu não me lembrava de nada antes dos dez anos, era um breu total quando tentava me lembrar, o marido da minha mãe não ia com a minha cara mais me engolia mesmo assim e estava tudo bem.
Minha mãe era a típica mulher doméstica que gostava de esbanjar luxos e mostrar que estava na classe alta.

Hera: Ajeite essa postura !

A advertência veio e eu rapidamente ajeitei meu corpo, ombros pra trás, cabeça erguida e mãos cruzadas diante do corpo, uma freira se olhasse pelo lado bom das coisas

Hera: As coisas mudarão a partir de agora, você vai obedecer por bem ou por mal

Encarei a porta que se abriu e Benjamin entrou segurando sua bengala, o homem não tinha idade pra usar uma, mais depois de um acidente passou a depender de uma..
Seus olhos varreram o cômodo e pousaram em mim e depois em minha mãe. Eu fazia o que podia pra me manter longe deles pra não precisar ouvir resmungos como estava sendo neste exato momento, mais tinha dias que era impossível.

Benjamin: O que está acontecendo ?

Hera: Apenas uma pequena advertência, estou falando pra Aleena que as coisas irão mudar a partir de agora

Benjamin sorriu e ajeitou a postura e encarou minha mãe e eu sabia que o que viria a seguir seria tudo muito ruim pra mim, porque eu conhecia aquele olhar deles, o olhar de que haviam chegado em um senso comum que não possuía nada de comum

Benjamin: Vamos começar a moldá-la, tenho uma ideia de por onde começar

Hera: É claro querido, deixo a educação de Aleena em suas mãos pra fazer o que bem entender

Em um rompante Benjamin se aproximou de mim, me circulou como se eu fosse um animal prestes a ser abatido, meus olhos pousaram em Lucca que estava parado na porta observando tudo, Lucca era filho de Benjamin, não tão mais velho que eu, eu estava com quatorze anos enquanto Lucca tinha dezessete, nós nos dávamos muito bem, mais isso quando estávamos a sós, porque na frente da minha mãe e do seu pai quase não conversávamos.
Benjamin ergueu a bengala e meus olhos acompanharam o objeto que era de aço cromado, em seguida seu braço desceu em total velocidade fazendo a mesma pegar em minha costela, o grito queimou minha garganta e meus olhos se encheram d'água, senti o fôlego me abandonar e cai de joelhos enquanto meu choro se intensificava devido a dor, era a primeira vez que isso ocorria, eu estava acostumada com os olhares de escrutínio que demonstravam total repulsa por quem eu era mais eu não esperava que um homem que sequer fosse do meu sangue fosse capaz de me bater e o pior é a concessão que minha mãe dava a ele.

Benjamin: Ora, nem foi tão forte assim, não ainda ...

Hera: Talvez devesse tentar novamente meu bem ...

Um novo golpe me atingiu, dessa vez pegando no meu braço esquerdo e eu jurava que pelo barulho que deu havia quebrado algum osso, meu choro me dominava, ergui a cabeça encarando Lucca pelas lágrimas torcendo pra que ele me ajudasse, mais ele estava lá parado, apenas olhando tudo com o semblante assustado

Benjamin: A dor é apenas psicológica Aleena, você precisa dominá-la pra não senti-la, se permitir que ela te domine será sempre fraca e inútil

Um novo golpe me fez arfar e o grito ficar preso na garganta, sentia apenas as lágrimas descendo mais sentia que não havia mais voz pra gritar ou protestar

Benjamin: Iremos trabalhar a sua mente, vamos te corrigir quando necessário e futuramente você irá agradecer

Um novo golpe e dessa vez meu corpo caiu, senti minhas vistas embaçarem e tudo rodar a minha volta, em um canto pude ver minha mãe com os braços cruzados me encarando com um sorriso no rosto como se estivesse vendo algo incrível acontecer, pelo canto do olho pude ver Benjamin levantar sua bengala mais uma vez no alto mais antes da escuridão me tomar pude ouvir a voz de Lucca mandando o parar ...

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Abri meus olhos vendo que estava em meu quarto, o final da tarde tomava seu lugar no horizonte e senti meu corpo inteiro doer enquanto tentava me erguer, com muito custo me sentei na cama, ao encarar meu braço ele estava em um tom pra lá de roxo e foi quando me lembrei de tudo o que havia acontecido, respirar agora era algo dolorido, levantei a camiseta em que usava e minhas costelas estavam na mesma tonalidade do meu braço

Lucca: Vai melhorar com o tempo !

Virei minha cabeça vendo Lucca parado na porta, ele tinha um sorriso ameno no rosto mais seus olhos estavam tempestuosos e ele tinha um curativo no supercílio que não estava ali antes

Aleena: Você está bem ?

Lucca: Você que apanhou, eu que deveria perguntar se está bem ...

Aleena: Porque fizeram aquilo Lucca ?

Lucca: Porque você os irrita ! Já falei pra ficar na sua mais não adianta ..

Aleena: Eu não fiz nada !

Lucca: Sua mãe disse pra não sair e o que você fez ? Sumiu por horas ...

Aleena: Eu estava no lago patinando, não fiz nada demais, o lago é literalmente aqui do lado, da janela eles conseguiriam me ver

Lucca: Sabe que não pode ..

Suspirei e ao mesmo tempo gemi de dor, o vi adentrar mais no quarto e se sentar do meu lado e ajeitar meu cabelo que estava rebelde

Lucca: Precisa cooperar Aleena, meu pai esperava apenas um aval da sua mãe pra te ter na mira e agora ele tem, fique o mais longe que puder dele e tudo vai ficar bem

Aleena: Você esquece que moramos sobre o mesmo teto, não tem como eu evitá-lo ou algo do tipo

Lucca: Que os Deuses tenham pena da sua alma então ..

Lucca se levantou mais antes de sair o vi colocar uma cartela de remédio em cima da minha cômoda e me encarar

Lucca: Tome de oito em oito horas, vai te ajudar com a dor, mais não deixe sua mãe ou meu pai ver, se não nós dois estaremos em apuros

Aleena: Estou com medo Lucca ..

Lucca: Vai ficar tudo bem, vamos apenas tentar ser otimistas e tudo vai dar certo

O vi fechar a porta do meu quarto e me levantei indo até a janela, encarei o espaço do jardim que estava deserto, eu ainda tentava entender o que estava acontecendo e porque estava acontecendo mais eu não sabia sequer o motivo.
Apenas tinha certeza que naquele dia o meu inferno pessoal estava apenas começando!

Império ManciniOnde histórias criam vida. Descubra agora