CAPÍTULO 19. Professora

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MISHA

Estou sentada olhando para o espelho da penteadeira do quarto da Eris enquanto termino de passar o rímel. No reflexo dele, encaro duas malas no canto do quarto e também o vestido que estou usando. É um modelo curto, de alcinha e que amarra nas costas. Ele é simples mas gosto como fica o meu decote nele, nem cavado demais, nem comportado demais, no ponto certo. Olho de canto para o meu pé e finalmente estou sem aquela tornozeleira infernal ortopédica.

Combinamos que Eris me buscaria às 21h para irmos a uma festa no Quimera.

Ligação de voz recebida de Gabriel Barbosa

— Para você me ligar é porque aconteceu alguma coisa — respondo, colocando-o no viva-voz e sento-me na banqueta da penteadeira.

Coé, estou apenas com saudade.

— E...

Também preciso de um conselho, tô pensando em chamar a Renata para sair, o que você acha?

— Renata...?

Renata Chacra.

— A farmacêutica da UTI da cardio? — pergunto porque se for essa...

Ela mesmo — é agora que eu falo ao Gabriel que eu já fiquei com ela? E que eu já falei isso para ele? Ô hetero lerdo.

— Amigo, então, não é cortando o seu barato, mas...

Ah, Misha, ela não se envolve com homem?

— Não que eu me recorde — seguro um riso, aquela lá não pega homem mesmo — lembra daquele rolê no apê da Marina e da Gio?

Vocês são muitas... não lembro.

Marina Lambert. Giovana Guerra. Extintor de incêndio para gelar cervejas.

Conheci essas malucas na minha época de caloura. Época boa...

Marina... a francesinha, estagiária da jornalista fodona? ele concluiu a pergunta.

— Exatamente — solto em uma risada — Marina Lambert, da Letras, estagiária da Heloísa De Mori — mas é apenas aqui que eu me dou conta que a jornalista tem o mesmo sobrenome que a Eris. Será que é o mesmo De Mori?

Lembrei do rolê! Foi o que você transou com uma mina no banheiro, não foi?

Em minha defesa, eu tinha 19 anos e, nessa idade, todo mundo faz coisas meio... né? Foi nesse rolê nas meninas que conheci a Renata. Nunca perdemos contato e já acabamos uma na cama da outra mais vezes do que eu me orgulho. Na real, eu me orgulho sim... Mas essa é a parte editada da história. Não demora muito para que o Gabriel faça mais uma constatação.

Ah, Misha... — ele acabou de lembrar — a mina era a Renata?

Grande Renata Chacra.

Essa era a nossa rotina quando morávamos juntos. Gabriel sempre ficava no meu quarto me esperando enquanto eu terminava de me arrumar e gostava de saber todas as fofocas. Quando eu conto que eu tenho um hetero de estimação, ninguém acredita.

*

Estou terminando de passar o rímel quando um barulho chama minha atenção.

— Você gosta de invadir espaços, né? — viro-me e encontro uma Eris descalça, com uma calça jeans de lavagem clara que parece ter um corte masculino mas que nela, por ser alta, fica muito elegante. A calça deixa a vista a barra da boxer preta que faz conjunto com o top que usa. A correntinha dourada em seu pescoço, os cabelos molhados de sempre mas, dessa vez, então mais curtos, seus fios estão perfeitamente aparados.

ANTES QUE ELA VÁ EMBORA | ROMANCE LÉSBICOOnde histórias criam vida. Descubra agora