CAPÍTULO 40. Curativos

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ERIS

Março, quase dois meses depois...

Time Vermelho: 0 X Time Preto: 0

— DE MORI! — Márcia gritou com a bola na mão, rolou pelo campo e a partida recomeçou.

A bola foi lançada em minha direção e eu corri para recebê-la. Bárbara estava logo atrás, colada em mim, usando o corpo para tentar me desestabilizar. Consegui controlar a bola, mas antes que pudesse fazer o próximo movimento, senti um impacto forte nas costas. A jogadora que hoje está na zaga do time adversário se jogou em cima de mim mais uma vez, e caímos no chão.

— Não me viu, não? — olhei de relance enquanto me levantava, tentando a todo custo não me estressar com essa mulher, pressionando o meu pulso por conta do impacto da queda.

— Com o seu tamanho? Difícil não ver — Bárbara levantou-se, cuspindo no chão. — Pare de chorar, De Mori — e soltou um sorrisinho irônico.

Caminhamos de volta para nossas posições quando Vanessa, que joga mais recuada na zaga do meu time, chegou bem perto de mim e se agachou.

— Vocês vão se matar, papo reto — disse ela, ajustando a chuteira.

Imitei seu movimento, agachada, e olhei para ela.

— Quer marcar a Juliane ou a Haru? — perguntei, ainda sem muito fôlego, no tom mais baixo possível.

— Tá zoando? Lógico que eu marco a Juliane. É sempre muito bom deixar você e a Vauss competindo entre vocês duas — e isso me arrancou o primeiro sorriso sincero do dia inteiro.

— Vanessinha, não dá bobeira, se liga na Bárbara, ela perigosa.

— Mas não é só ela, né, De Mori? Porra, você tá dando o que ela quer... esfria a cabeça.

Eu esfriaria se minha cabeça estivesse aqui, mas onde ela está?

Nem precisa responder.

Esquece isso e foca, Eris.

Algum tempo depois, a Haru dominou a bola, driblou a Vanessa, parou a bola com o pé direito, levantou a cabeça e, pela forma como está olhando, está calculando o que ainda tem entre ela e o gol. Tudo isso tão rápido que chega a ser difícil de acompanhar. Ela ajustou a posição, puxou a perna esquerda e, com uma precisão quase cirúrgica, chutou a bola para o fundo da rede.

A Adria, que hoje é a nossa goleira, tentou, eu vi que ela tentou, mas a bola foi mais rápida e o gol foi lindo. Haru entreabriu os lábios e, como se fosse em câmera lenta, todo mundo levantou para ver o gol.

Filha da mãe, ela joga muito. E eu nunca vou admitir isso por causa daquele ego.

Mas antes de comemorar o próprio gol, os olhos atentos dela percorreram todo o campo e eu sei que ela está me procurando, porque ela não vai perder a oportunidade.

— Esse é pra você — Haru disse para mim, me jogando um beijo no ar.

Filha da puta.

Time vermelho: 1 X Time preto: 0

O jogo retoma.

Uma janela de oportunidade se abre, uma jogadora do meu time caminha com a bola no meio de campo. Não sei se ela vai fazer o passe para mim ou para a outra ao meu lado, quando vejo a Bárbara se aproximando e me encarando com a mesma cara feia.

Mas, para mim, isso é apenas fome. Desculpa por isso, Haru, não é pessoal, mas meu problema hoje é com a sua zaga.

Márcia me deu uma assistência, trazendo a bola para mim. Ainda cercada pela Bárbara, fiz um giro rápido, escapando da marcação, puxei a bola para o pé direito e chutei, sem ter certeza se foi bom ou não.

ANTES QUE ELA VÁ EMBORA | ROMANCE LÉSBICOOnde histórias criam vida. Descubra agora