CAPÍTULO 31. Direito

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MISHA

Quase duas semanas depois...

Casa da Adria

Quinta-feira, 19 de janeiro

Três dias para a viagem

Pode avisar, pode avisar,

Invente uma doença

Que me deixe em casa pra sonhar

— Jab — Adria falou de forma lenta, quase parando, e eu sigo seu comando, golpeando um soco direto com a mão direita, enquanto mantenho o outro braço na defensiva.

Com o novo enredo, outro dia de folia

— Boa — ela disse. — Direto — continuou falando devagar. Dessa vez, desloco meu corpo para frente, giro meus quadris e ombros e sinto o impacto do meu soco no saco de areia. Tudo se energiza dentro de mim junto com a batida da música que toca varanda a fora.

— Giro perfeito — Adria disse. — Cruzado — golpeio como ela pede e Adria solta mais um riso frouxo.

Me deixa
Que hoje eu tô de bobeira, bobeira

— Por que está rindo, Adria? — Mas ela não responde. Continuo cantando a letra de Me Deixa do O Rappa. 

Cantar essa música é lembrar das tardes na casa da Gaia, afinal, o irmão dela mais velho amava essa banda. Logo a canção acaba e começa outra deles.

— Cante menos e bata mais — ela disse. — Direto — aumentou o tom de voz. 

Então, sigo todos os comandos que ela vai dando até que...

— Jab, jab, direto, cruzado, direto, direto, direto, cruzado — ela segue essa sequência, eu faço exatamente como ela pede e no final me deixo cair ofegante no chão da varanda.

— Porra, Adria — digo, recuperando o ar.

— Sabe... você até que estava conseguindo me enganar com esse papo de que não entendia o que estava fazendo... diz aí, qual luta você praticou, Misha? — ela sorri, como quem pegou alguém no pulo e eu só consigo rir.

— O que me denunciou? — pergunto, aceitando sua mão que me ajuda a levantar.

— Teu cruzado. Você mexeu os ombros e os quadris juntos, além da posição perfeita entre o pé e o braço. Tu sabe o que está fazendo, não sabe? — ela pergunta e eu balancei a cabeça afirmativamente. 

— Fui obrigada a fazer aula de defesa pessoal.

— Ah, porra, tá explicado. E eu aqui te ensinando... sonsa.

— Não, pô, mas tem muito tempo que não faço nada parecido com isso, saca?

Rapidamente lembro da época em que usava isso para aliviar todas as minhas tensões. Passava todas as minhas horas livres... ficamos mais um tempo matando o tempo dessa forma enquanto a Catarina ainda segue dormindo por conta do anti-inflamatório que está tomando para a garganta inflamada.

— E você? — pergunto a Adria. — Você soube me direcionar muito bem. E fora isso — aponto para o saco de areia na varanda dela — Você tem um desses... calma, está desenhado?

— Catarina quis desenhar... ela disse que assim meus socos sairiam mais carinhosos... — Adria diz, balançando a cabeça e rindo — só elazinha mesmo. 

Olho de relance para a loirinha, que continua dormindo. Direciono minha cabeça para frente e vejo a tornozeleira ortopédica que estou usando porque meu pé voltou a doer, e a dona ranzinza só me deixou na casa da Adria com a condição de que eu usasse essa coisa. Me diz, qual a necessidade de se preocupar tanto?

ANTES QUE ELA VÁ EMBORA | ROMANCE LÉSBICOOnde histórias criam vida. Descubra agora