CAPÍTULO 23. Manga rosa

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MISHA

Estou sentada com as pernas cruzadas e meu pé para cima quando sinto dedinhos percorrendo meu tornozelo. 

— Como ele está? — ela toca meu tornozelo — Está sentindo algo? Você ficou muito tempo em pé hoje. 

— Tranquilo, ele de boas — respondo, passando a mão pelo cabelo curtinho de Eris. 

— Aliás, sua tornozeleira ortopédica está na minha mochila. Porque alguém esqueceu isso também. 

— Mas meu pé já está ótimo — Deus me livre daquele treco que me aperta de novo aqui no meu pé. 

— Uma lesão como a sua leva umas duas semanas, no mínimo, para curar. 

— Mas eu já não tirei o raio do... — nem consegui terminar meu pensamento quando minha atenção foi puxada para o trio de mulheres que está chegando ao bar. 

— Amor, não é aquele jogo dos bonequinhos que você joga? — Catarina perguntou baixinho enquanto olhava na mesma direção. 

Zelda? — escuto a voz de Adria. 

The Legends of Zelda, isso! É o mesmo jogo que o Gabriel joga.Uma delas está com a blusa desse jogo, mas meus olhos param fixamente na mulher de pele mais negra que a minha, com os olhos rasgados e felinos, tão escuros como os meus, o cabelo preto liso escorrido e batendo no meio das costas, apenas com a parte de cima do biquíni e uma saia jeans... o que ela está fazendo aqui? 

— Deixa eu perguntar uma coisa na amizade mesmo, vocês já repararam na quantidade de fancha por metro quadrado que tem aqui? — Haru perguntou, puxando-me de novo para a realidade. 

— Eu não ia falar nada não, mas... — Adria olha Haru por cima dos óculos. 

— Essas três que acabaram de chegar mesmo, tenho certeza que pelo menos uma delas é — Bruna disse — inclusive, preciso ir ao banheiro.

— O que são aqueles olhos? — Haru pergunta lentamente enquanto fita as três mulheres que chegaram e estão sentadas em uma mesa oposta à nossa. — E aquele cabelo batendo na reta da... 

— O nome dela é Gaia — e todas viraram para mim, instantaneamente. — Ela é do Rio e estudou no mesmo colégio que eu. 

— A Pocahontas é hétero? — Haru espalmou as duas mãos na mesa, referindo-se a ela.

— Até onde eu sei, ela era bi — respondo. 

— Diz que tem o contato dela, gatinha. Não me decepcione. 

— Haru... ela é mega inacessível, nem perca seu tempo. 

— Você está brincando com fogo — Eris foi cirúrgica agora — não reclame quando se queimar — falou diretamente para Haru e voltou a passar a mão sobre meu tornozelo. 

— Você é uma vira-lata, sabia? — Catarina jogou para Haru que a recebeu com uma piscada. 

— Eu sou amiga da Bruna, não sou mulher da Bruna. Mas, voltando para a nossa amiga ali... Gaia, né? Eu estou curiosa. Ela tem um arzinho de estudante da PUC — Haru estala a língua — bem burguesinha. Vocês ainda têm contato? 

Ela é bem assim mesmo. 

— O mínimo do mínimo — solto o ar dos meus pulmões. — Somos de ciclos sociais diferentes, e a galera dela só frequenta lugares extremamente elitizados. Não lembro a faculdade, mas não é a PUC. 

— Lembra o curso dela? 

— Direito. 

Haru assobiou lentamente. 

ANTES QUE ELA VÁ EMBORA | ROMANCE LÉSBICOOnde histórias criam vida. Descubra agora