CAPÍTULO 16. Caveira

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MISHA

O que você tanto esconde, Eris?

Desculpe
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei errado
E eu entendo

Por onde andei do Nando Reis começa a tocar baixinho no rádio da cozinha e, sem que eu perceba, começo a cantar junto enquanto me sirvo. Eu vou sentir muita saudade desses cafés da manhã aqui da fazenda, dessa comida e do Brasil. Ah, mas eu vou sentir muita saudade do Brasil.

Checo as notícias do dia e abro o meu aplicativo de mensagens. Respondo meu pai e Nara, nenhum sinal da minha mãe ou Gabriel.

Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava

As imagens de ontem voltam a minha mente. Toques, aromas, a voz da Eris... será que é comigo o problema dela? Será que existe algum problema? Com certeza existe. Será que o Gabriel está certo?

Precisava me pegar do jeito que me pegou, cacete?

— Que voz bonita — algo ressoa atrás de mim — pensei que você só cantava em karaokês.

Viro meu pescoço ainda entretida com a música e encontro uma Catarina com uma blusa do Guns N Roses, calça de pijama do monstros S.A e pantufas de pelúcia em formato do Gary, o caracol do desenho do Bob Esponja. Um rabo de cavalo meio desfeito e a maior cara de sono.

Pantufas do Gary.

— Catarina? — mas antes que eu pudesse perguntar o que ela está fazendo aqui sou atingida por seu corpo pequeno e ainda quentinho o que indica que ela estava mesmo dormindo.

— Bom dia, minha fadinha — ela me abraça igual um filhotinho com sono — serei sua companhia hoje.

— Será? Bom dia!

— Uhum — ela me olha com um olhar de convencimento mas de uma forma fofa — E já estou sabendo que você anda se aventurando por aqui — você nem imagina o quanto, Catarina — como está o seu pé? — ela pergunta enquanto roda a mesa e senta à minha frente.

— Agora ele está bem. Já bati a minha cota de aventuras para essas férias.

— A Fiona é uma médica bem foda, né? Ela já precisou me dar alguns pontos no meu braço e nem dá para ver a marca da cicatriz, olhe — ela estende o antebraço em minha direção. — Mas não fale que eu falei isso porque ela vai ficar se achando — engraçado que Eris falou o mesmo sobre a Haru e isso me tirou uma risada sincera.

— A Haru te atenta mesmo. 

É sempre uma troca amistosa de apelidos entre as duas. Já percebi também que Catarina gosta de colocar apelidos em todo mundo.

— É, ela é assim, mas tenho minhas próprias formas de vingança — pinçou com o indicador e o polegar o tecido da blusa, puxando-o para frente e piscou para mim.

Encaro a estampa de Use Your Illusion I, álbum do Guns N Roses. Bem que Eris disse que a Haru curtia rock.

— Então você rouba blusas?

— Tenho uma verdadeira coleção de camisas de banda, a minha última aquisição foi uma do Scorpions da Eris, tô namorando uma do Foo Fighters mas fui ameaçada de morte se eu chegasse perto dela.

A dinâmica delas é bem engraçada mas parece funcionar bastante, é uma amizade que eu gostaria de ter.

Calma, Scorpions? "Não desse rock" a voz dela me visita internamente e só confunde mais meus pensamentos em relação a essa mulher.

ANTES QUE ELA VÁ EMBORA | ROMANCE LÉSBICOOnde histórias criam vida. Descubra agora