CAPÍTULO 30. Sensações

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ERIS

Aeroporto Internacional de São Paulo

Janeiro, 12 anos atrás

— Boa tarde, Edgar —  falo assim que entramos no carro.

— Boa tarde, Dona Eris — ele acena sutilmente com a cabeça.

— Fala, meu parceiro — Haru mete a cabeça entre as poltronas da frente e beija a bochecha dele — sentiu saudade de mim, Edgarzinho lindinho?

— Boa tarde, Dona Haru. Senti sim — mas ele continua sério como sempre.

— E o meu pai, Edgar? — pergunto, já desconfiando da resposta, mas torcendo para que seja diferente dessa vez.

— Acabei de deixá-lo no hospital — ele me olha através do retrovisor. — O senhor Tarcísio pediu para a senhorita ligar para a Celeste assim que chegassem.

Faço o que ele me pede e uma voz feminina muito familiar me recebe.

Woody e Buzz, já chegaram? — Celeste pergunta, com sua voz dócil de sempre.

Essa é a Celeste, o cérebro do meu pai e salvadora da pátria. Também conhecida como a mulher que limpa a nossa barra quando a Haru faz merda. Celeste sempre está limpando a nossa barra.

— Sim, e estamos saindo do aeroporto agora.

Que maravilha... Já pedi para trocarem as... — e ela começa a falar e me atualizar tudo o que eu preciso saber antes de chegar em casa, o modus operandi de sempre — ... mas assim que ele sair da cirurgia te ligará.

Já perdi a quantidade de dias que eu não vejo o meu pai e a quem diga que ainda moramos na mesma casa. Ele nunca está quando eu estou e vice-versa, além de viver mais dentro do hospital do que fora.

Posso ajudar a senhorita com mais alguma coisa, querida?

Seguimos para casa. Assim que chegamos, vou direto pro meu notebook, entro na minha conta do Skype, do Tumblr e Hey you, do Pink Floyd, começa a tocar na página inicial do meu perfil. Quando chega na parte do solo de guitarra eu aumento o volume no máximo e vou para o meu banho.

Eu só preciso de um banho quentinho, minhas músicas e minha cama. Mas meu sossego dura pouco, muito muito pouco.

Nove horas da noite de uma sexta-feira e você no Tumblr? — escuto a voz da Haru entrando no meu quarto e vindo até o banheiro. — Ah não, eu não tô acreditando que a gente acabou de chegar de uma viagem mó daora e tu vai ficar enfurnada no computador, velho.

Ela acha que eu não sei que ela também gosta de fazer isso e ler fanfic... gauchinha hipócrita.

— Haru, só me deixa — eu grito, mas quando dou por mim ela está me encarando parada no batente — Ah, velho, sai daqui, eu tô tomando banho — viro meu corpo, ficando de costas para ela.

Privacidade? Para que privacidade?

— Tudo o que você tem, eu tenho. — Ela continua falando — E adivinha? Tu não faz o meu tipo, Eris. Gosto de garotas simpáticas, você é ranzinza demais... Termina logo seu banho porque tenho uma surpresa para você — ela diz, saindo do cômodo.

Eu não quero surpresas. Eu não gosto de surpresas. Sabe do que eu gosto? Do meu canto. Mas eu acho que ninguém entende isso.

E o Rio? É mesmo tudo isso o que falam? — escuto Haru perguntar mas não faço ideia para quem seja.

É isso tudo e mais um pouco. E as cariocas, ah, as cariocas... — uma voz baixinha se aproxima sutilmente. Eu conheço essa voz...

Só falta me dizer que virou a casaca e já está falando biscoito, mano — outro estalar de língua.

ANTES QUE ELA VÁ EMBORA | ROMANCE LÉSBICOOnde histórias criam vida. Descubra agora