CAPÍTULO 38. Manchester

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MISHA

Cidade Maravilhosa

Rodoviária Novo Rio, início de dezembro do ano passado

Ligação de voz recebida de José Salvador

— Oi, pai — atendo, enquanto procuro um lugar para colocar a minha garrafa de água.

Oi, ligeirinha. Já está na estrada?

Ainda não caiu a ficha da grande mudança que está acontecendo na minha vida este ano. Definitivamente não caiu a ficha de que, depois de tanto tempo, finalmente encontrarei José Salvador, vulgo Seu Zeca, vulgo meu pai.

Converso com ele por mais algum tempo. Quando desligamos, volto a atenção para a minha playlist e me permito cair no sono.

*

— Obrigada — agradeço ao funcionário da rodoviária que me entrega a bagagem. Guardo o ticket com o número no meu bolso, seguro a alça da mala, ajusto a mochila e sigo em direção ao portão de saída da rodoviária.

— É, Misha, cidadezinha curiosa essa, mas estranhamente fofa — penso alto enquanto me sento na lanchonete da rodoviária.

Olho para o meu pulso: já são 20h, sexta-feira, e este lugar está deserto.

Passo o indicador pela tela do celular e paro no grupo que tenho com a Ana e o Gabriel, com o intuito de avisar aos meus dois melhores amigos que já cheguei. Envio uma mensagem, rolo mais o feed à procura de alguma mensagem e checo meu e-mail.

Um novo e-mail da professora Paloma Sartre, que me indicou para o mestrado, um e-mail da professora que me orientará em Manchester, e mais alguns e-mails da faculdade com meu certificado de conclusão de curso, documentos... Burocracia chata.

Termino de ler o livro da vez... e nada do meu pai.

Entro no Instagram e meus olhos param na primeira foto que aparece.

Logo essa.

Leblon, Rio de Janeiro, Brasil

Ela, sentada em uma canga, com óculos escuros, biquíni, os longos fios escuros soltos pelo vento, olhando para a câmera na praia do Leblon.

Curtido por anapaulakaplan e outras pessoas

@gaiamorato 2h • pé na areia...

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É, Gaia Morato... Sua amizade já fez tanto sentido na minha vida que te ver hoje sendo apenas mais uma foto instagramável no meu feed chega a ser surreal. Mas, a vida tem dessas.

Ligação de voz recebida de Ana Miyake

— Oi, japa — atendo num misto de alívio, insatisfação e ansiedade.

Oi, fiona. Que voz é essa?

Sim, é como a galera da faculdade me chama. Fiona foi o meu apelido de caloura. Conversamos sobre como foi o dia dela, a semana e como estão os estudos. Falamos sobre como resolvi a minha moradia em Manchester, como foi a viagem e a demora do meu pai até que...

Enfim... ansiosa para reencontrar seu pai?

— Eu preciso confessar que estou com medo de ser... ruim. Mas sigo à espera dele.

Não será ruim, Misha. Vá com o coração tranquilo. Onde ele está?

— Resolvendo algumas coisas numa cidade aqui pela serra, algo sobre o hospital daqui, e disse que me explicaria depois. Acredita que ele perguntou se eu queria que a cunhada dele me buscasse?

ANTES QUE ELA VÁ EMBORA | ROMANCE LÉSBICOOnde histórias criam vida. Descubra agora