CAPÍTULO 42. Novembro

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ERIS

Giro meu corpo até a mesa de cabeceira, estico meu braço pegando o celular e desbloqueio o display:

04:02

Sex., 20 de nov.

Rio de Janeiro

Suspiro.

Sinto a maciez do edredom que não lembro de ter sido colocado sobre mim enquanto eu dormia. Pelo frio que faz no quarto, já entendi o porquê dele.

Vem tomar café, anjo — escuto a voz característica junto com o barulhinho dos pés descalços no chão. — Se não vamos nos atrasar...

Passo a mão no rosto, me levanto da cama procurando qualquer roupa que, com certeza, está jogada em algum canto desse lugar. Passo no banheiro e depois caminho até a cozinha, vestindo a camisa e sentindo o chão gelado do apartamento.

Assim que viro o batente, encaro a mesa cheia de coisas e dois pares de olhos que me fitam com entusiasmo. Entusiasmo até demais para o meu gosto.

— FELIZ ANIVERSÁRIO! — sou recebida pelo uníssono das vozes de ambas, então meus olhos pararam na primeira delas.

Seu cabelo castanho escuro está perfeitamente cortado em um curto e repicado. Os olhos, bem expressivos e de um tom muito parecido com o meu, me fitam com um leve arquear de sobrancelhas. O terno de alta costura delineia a silhueta em um belo caimento. Não preciso ver os pés para saber que ela está de scarpins. E o cheiro? O perfume é quente e sofisticado, porque se há algo que define essa mulher, é isso.

Ela é uma mulher quente e sofisticada.

Isa? — pergunto, ainda zonza por ter acabado de acordar, tentando assimilar tudo que estou vendo à minha frente. — Heloísa De Mori.

— Bom dia, pirralha! — Heloísa me chama da mesma forma que me chama há 27 anos, mas dessa vez com uma expressão de... desapontamento? — Por que essa cara de mau humor, Eris? Hoje é o seu aniversário...

A morena me fita em silêncio enquanto vem andando em minha direção com os braços bem abertos. Heloísa me abraça forte, muito forte.

— Eu disse que não queria nada, Isa — falo, tentando equilibrar minha voz sonolenta, ainda no abraço dela. Então, vejo a segunda pessoa, que me encara completamente atenta, com um sorrisinho nos lábios. — Eu disse que não queria nada, não é? — digo, olhando agora para a Fernanda, que me encara sorridente.

Inferno de sorriso bonito.

— Mas é o seu aniversário de 27 anos! — Maria Fernanda responde em um tom bravo. — E, bom, você está se hospedando na minha casa, então... não é como se você tivesse muito poder de escolha.

Saio dos braços de Heloísa e caminho até a Fernanda.

— Feliz aniversário, anjinho zangado — ela me diz, rente ao meu ouvido, me apertando.

— Maria Fernanda? — Heloísa olha para Fernanda com um tom incrédulo. — Como você aguenta? Porque, sério, eu não tenho paciência para esse mau humor essa hora da manhã... — agora ela direciona o olhar da advogada para mim e abre um sorriso jocoso, semicerrando os cílios.

Sonsa. A Heloísa é sonsa. Talvez isso seja mesmo de família...

Então nós três sentamos ao redor da mesa redonda da sala do apartamento da Fernanda.

— Não sei, Isa... — Fernanda me olha, sentando-se ao meu lado na mesa, em seu lugar de sempre. — Já faz alguns anos que estou praticando a minha paciência — e agora ela me encara, de forma séria, olhando-me com a sobrancelha arqueada. — Eu peguei para criar, né?

ANTES QUE ELA VÁ EMBORA | ROMANCE LÉSBICOOnde histórias criam vida. Descubra agora