DIA DA PREGUIÇA

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ANTHONY

- Papai! Papai! Eu tô com fome - sinto suas mãozinhas tentando me balançar

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- Papai! Papai! Eu tô com fome - sinto suas mãozinhas tentando me balançar.

- Oi minha princesa, bom dia pra você também - respondo tentando sentar na cama - que horas são?

- Hora de tomar café! Tô com fome.

A puxo pra cama e a abraço, como é bom acordar com essa miniatura de gente ao invés do despertador. Nos fins de semana é sempre assim!

- E não ganho nem um bom dia mesmo?

- Bom dia, papaizinho! Agora pode levantar e fazer comida pra mim? - ela responde fazendo bico.

- Ok, meu amor! Vou só ao banheiro bem rápido e ja vou lá preparar um super café da manhã pra nós.

- Panqueca com mel e uvinhas? - ela pergunta com as mãos juntas.

- Panqueca com mel, uvinhas e um leite quente pra acompanhar.

- OBA!! Então se apressa, papai! - ela fala cruzando os braços como se fosse uma ordem. Eu ri da sua pose e percebi o quanto ela parecia com sua mãe, mandona do mesmo jeito.

Fui ao banheiro e fiz minha higiene, deixei o banho pra depois porque tinha uma pequena fera esperando com fome. Aos fins de semana ficávamos só nós dois nessa casa enorme, era folga da babá e da doméstica, então eu assumia tudo.
Quando saí do banheiro ela já não estava mais  no meu quarto, fui em direção a cozinha e passei pela sala onde a encontrei sentada no sofá assistindo desenho.
Ela não me deu muita atenção, estava focada na tal da Marsha que enlouquecia a vida de um pobre urso.
Preparei nosso café da manhã e coloquei na mesa, amava esses momentos, passar tempo com ela era meu lazer favorito.

- Ceci, meu amor! O café está pronto - gritei da cozinha, não demorou muito e ela veio dando pulinhos.

Sentou na cadeira ao meu lado e começou a devorar tudo, ela realmente estava com muita fome.

- Essa foi a melhor panqueca com mel que o senhor já fez! - ela diz com a boca cheia

- Você disse isso ontem - respondi rindo - e nada de falar com a boca cheia, mocinha - ela engoliu e respondeu em seguida.

- Mas hoje tá ainda melhor que ontem. - ela sempre me surpreendia com as respostas

Domingo era o dia oficial da preguiça, então depois do café fui tomar um banho quente e falei pra Cecília fazer o mesmo, Seattle não estava tão fria hoje, apesar da chuva que caia lá fora, como sempre. Coloquei uma roupa confortável e fui pra sala, ela já estava lá me esperando.

- Que filme vamos assistir hoje? - pergunto sentando ao seu lado no sofá

- Abominável! Abominável!

- Mas já assistimos ele no fim de semana passado, filha. Que tal a fuga das galinhas? - ela faz uma cara de reprovação

- Não, pode ser Shrek papai?

- Assistimos ele há 15 dias. Porque não dá a chance de assistir filmes novos? Assistimos sempre os mesmos, meu amor.

- Ah pai, eu gosto de assistir o que sei que já gosto. Vai que assisto esses aí e são ruins? Vou só perder meu tempo. - eu não me aguentei e ri alto, de onde ela tirava esses argumentos? E perder tempo? Não era como se ela tivesse uma vida corrida, ela só estuda e brinca!

- Mas você só vai saber se é bom ou ruim se der uma chance!

- Tudo bem então, coloca esse das galinhas, galinhas são legais né.

A aninhei no meu colo e começamos a assistir o filme, eu ficava olhando mais pra ela do que pra tv, esperando ver sua reação, e era impagável ver as risadinhas e a cara de surpresa que ela fazia.
O telefone fixo tocou e eu fui atender, evitava usar o celular nos momentos que estava com minha filha, gostava de aproveitar sua companhia, então se estavam ligando no fixo é porque era importante.

- Alô.

- Olá, é o Dr. Antony? É do centro medico de Seattle.

- Sim, sou eu.

-  O Dr. John pediu que entrássemos em contato, precisaremos do senhor no plantão da noite. Teria disponibilidade?

- Meu horário é só de segunda a sexta, John sabe disso.

- Ele pediu pra falar que é uma emergência, houve um incêndio no cinema e os bombeiros estão trazendo muitos pacientes de trauma. Precisamos do maior número de médicos disponíveis.

- Droga! - resmunguei - Ok, diga que irei no plantão das 19h

- Obrigada, Dr. vou confirmar no sistema.

Desliguei a ligação e fui procurar meu celular

- Vem assistir, papai! O senhor tá perdendo, eu acho que elas vão conseguir fugir da mulher malvada. - minha filha falou empolgada.

- Espera só um pouco, preciso resolver um assunto importante. Mas presta atenção em tudo pra me contar depois.

Entrei na lista de contatos e procurei o nome da babá extra, liguei mas ela não atendeu, liguei novamente e nada.
Continuei olhando os contatos e não tive pra onde correr, liguei pra minha mãe. Ela atendeu de imediato, acho que estava com o celular na mão, ela pediu que eu deixasse Cecília em sua casa. Pronto, problema resolvido.
Voltei pra sala e continuei o filme, ela amou e disse que queria assistir de novo no próximo fim de semana. No almoço fizemos massa juntos, era a comida preferida dela. Sujamos a cozinha toda.

- O senhor tá engraçado, todo sujo - ela falou rindo depois de jogar farinha em mim

- Estou sujo né, você vai me pagar. - corri atrás dela pela cozinha e a peguei no colo a sujando de volta.

Cecília era a alegria da minha vida. Minha razão pra levantar todos os dias, me fazia querer ser melhor. Era tudo por ela.

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