SOPHIA
Cecília era uma criança adorável. Passar tempo com ela me fazia muito bem, meu gesso sem graça agora estava cheio de cor e pinturas. Achei que me sentiria uma intrusa ali - eu era. sou. - mas eles me tratavam como se eu fosse da família. Ana me ajudou no banho ontem, mas hoje não sabia como me virar sem ela. Não dava pra esperar até o dia seguinte. Teria que deixar a vergonha de lado e pedir ajuda.
- Antony, preciso da sua ajuda. - Gritei da porta do meu quarto e ele veio correndo.
- O que aconteceu? Você tá bem? - perguntou ofegante e eu ri.
- Desculpe! Não queria te assustar. - seus olhos deslizaram pelo meu corpo e percebi que estava apenas de toalha. Aquilo me fez ficar envergonhada.
- Em que posso ajudá-la?
- Banho. Não consigo sozinha. É difícil com o gesso.
- Certo. Não consegue mesmo sozinha? - percebi que ele estava sem graça.
- Eu tentei, mas não deu muito certo e acredite que é tão constrangedor pra mim quanto é pra você. Podemos te vendar, que tal? Aí você não me vê sem roupa, mas consegue me dar suporte.
- Se tiver tudo bem pra você, está tudo bem pra mim.
Ele entrou no banheiro comigo e me ajudou a enrolar a gesso com papel filme, em seguida amarrei uma blusa minha ao redor dos seus olhos. Depois apoiei meus braços em seus ombros e ele segurou minha cintura, já sem a toalha. Seu toque fez meu corpo se arrepiar.
- O que eu faço agora?
- Apenas não me deixe cair.
Liguei o chuveiro e tentei ser o mais rápida possível. Suas mãos me seguravam de forma firme, ele mal se mexia. Parecia prender a respiração e aquilo me fez rir.
- O que foi?
- Você está tão tenso que mal respira.
- Nunca imaginei dar banho numa mulher desse jeito.
- Tecnicamente você não está me dando banho, apenas me auxiliando.
- Que seja. - ele deu de ombros - seu cheiro é muito bom. Digo, seu sabonete. É bom.
- Obrigada! - aquele elogio ao meu cheiro me fez dar um riso tímido -Juro que já estou terminando.
- Pode levar o tempo que precisar, estou a sua disposição.
Deixei pra lavar o cabelo no dia seguinte com Ana, não queria abusar mais do meu anfitrião.
- Prontinho, banho finalizado. Pega a toalha que está atrás de você, por favor.
Ele tateou com uma mão até pegar a toalha enquanto a outra não saia da minha cintura.
Enrolei e me apoiei nele novamente.
Tirei sua venda e seus olhos ficaram fixos nos meus. Suas mãos ainda estavam firmes em mim.- Me ajuda a chegar até a cama e estará livre de mim.
Ele assentiu e me ajudou. Depois saiu fechando a porta.
Por um momento eu desejei que ele continuasse ali comigo, mas minha consciência me trouxe de volta me lembrando o quanto aquilo era tão errado. Eu não devia estar nessa casa. Eu não devia envolver essas pessoas na minha vida dessa forma. Eu não pretendia permanecer.
Ontem quando Antony me entregou a jaqueta, minhas mãos percorreram pelos bolsos a procura daquele envelope, mas não encontrei. Deve ter caído na avenida. Ninguém o encontrou. Isso era bom.O resto do dia foi tranquilo, assistimos a fuga das galinhas, Antony levou Cecília ao parquinho no fim da tarde.
Quando a noite chegou comecei a sentir um desconforto. Não senti fome, mal toquei na comida, depois veio a dor no corpo e em seguida um calafrio, mas não contei a ninguém. Minha mãe ligou, falei que estava tudo bem, não queria preocupa-la mais.
Quando Antony foi colocar Cecília pra dormir, fui pra sala e me deitei em seu sofá. Senti meu corpo começar a tremer de forma que eu não conseguia controlar. Respira, Sophia, vai passar.- Ei, tá tudo bem? - mal percebi quando ele se aproximou e se abaixou ficando de frente pra mim tocando em minha testa - você está muito quente!
- Já tomei remédio, vai passar. Não precisa se preocupar.
- Você está sentindo isso há muito tempo? Vou pegar o termômetro. - saiu apressado e logo voltou com o aparelho na cor rosa cheio de florzinhas. Assim que colocou em mim, demorou menos de 1 minuto e apitou. - Meu Deus Sophia, 39.1 de febre! Vamos ao hospital.
- Não! Eu não quero voltar pra lá.
- Você precisa! Na sua situação poder ser tanta coisa, talvez seja infecção.
- Não, por favor. - segurei sua mão - Hoje não. Se não passar até manhã pela manhã eu vou, prometo.
- O que mais está sentindo? Porque não me falou antes?
- Não queria preocupar você. E não deve ser nada de mais.
- Vem - ele falou ficando de pé - Você precisa de outro banho. Vai ajudar a controlar a febre.
- Estou com frio. Não quero tomar banho agora.
- Acho que vou ter que ignorar o que você quer agora, é pro seu bem, vamos. - Ele me pegou no colo e me levou até o banheiro. Saiu rápido me deixando lá sozinha e voltou com a mesma blusa que coloquei em seus olhos mais cedo. - coloque em mim.
Pus a blusa em forma de venda de novo e ele me levou pra debaixo do chuveiro, estava me tremendo, suas mãos ficaram me segurando. Foi um banho rápido. Assim que terminei ele se virou pra que eu me vestisse, nem precisava porque ainda estava vendado, mas não reclamei, depois tirou a venda e me levou até a cama. Ele saiu por alguns minutos mas logo voltou com um edredom e sentou ao meu lado. Depois me aninhou em um abraço, me apertando enquanto meu corpo todo tremia.
- shiii, vai ficar tudo bem. - falou acariciando meu cabelo - Me desculpa por te fazer passar por isso, a culpa é toda minha. tenta dormir, vou ficar aqui até que pegue no sono.
Eu queria gritar que a culpa não era dele, mas fiquei em silêncio apenas sentindo seu toque. Me senti estranhamente confortável em seus braços. Me senti segura.
O calor do seu corpo se fundiu com o meu e em pouco tempo peguei no sono.
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QUERIDO DESCONHECIDO
RomanceUm acidente numa noite chuvosa muda a vida de dois desconhecidos. Mas será se foi mesmo um acidente? Vem descobrir a história de Antony e Sophia.