PLANTÃO

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ANTHONY

- Olha só como ela cresceu!

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- Olha só como ela cresceu!

- Mãe, só fazem 15 dias que a senhora a viu. - as duas se abraçavam como se não se vissem há uma década.

- Por mim a veria todos os dias, você precisa trazer ela mais vezes! Não é, querida? Gosta de ver a vovó?

- Sim! eu gosto de ver a senhora, ainda mais se tiver bolo de chocolate! - Cecília fala a última parte como se contasse um segredo.

- Shiiii, isso é segredo nosso! Vai lá falar com seu avô. - Cecília me deu um beijo na bochecha e correu pra dentro da casa dos meus pais com sua mochila rosa nas costas.

- Obrigada mais uma vez, mãe. Agora preciso ir ou chegarei atrasado. - lhe dei um beijo na testa - e não vai dar bolo de chocolate demais, ela pode acabar tendo dor de barriga.

- Eu é que agradeço por deixá-la comigo, eu amo ficar com ela. E não se preocupe, criei você e vou saber cuidar da minha neta.

Voltei para o carro e segui em direção ao hospital, a cidade estava tranquila e a chuva ja havia cessado
Estacionei na minha vaga exclusiva e adentrei no grande prédio onde passava a maior parte dos meus dias. Fui a ala dos vestuários e troquei de roupa rapidamente pois tinha acabado de dar o horário da troca de plantão.

- Boa noite, Tony! Obrigado por quebrar esse galho meu amigo!

- Vou cobrar essas horas de folga depois ein! - respondi dando um abraço no meu amigo e chefe do hospital, John.

- Até parece que você precisa de folga, vai fazer o que? Assistir a aulinha de ballet da Ceci?

- Olha, não seria má ideia, já faz um bom tempo que não a vejo rodopiar com aquela saia rosa! - ele me deu um tapa no ombro

- Qual é, Tony! Você precisa sair mais, cara. Namorar, beijar na boca, você sabe - falou com um riso de canto - já se passaram 5 anos.

- Mas eu já faço isso, bem debaixo do seu nariz, inclusive, pelos corredores e pelos quartos desse hospital.

- Aqui não vale, e você sabe que é proibido não é?

- Me demite então. - eu sabia que ele não faria isso, então só sorrimos

- Dr. Antony, precisamos do senhor na emergência - fomos interrompidos por uma enfermeira.

O hospital estava realmente cheio, vários pacientes com queimaduras e com ossos quebrados que vieram do cinema, pelo que passava nas tvs espalhadas pelos corredores o teto havia desabado e acabou pegando fogo durante uma sessão que estava lotada. Ainda estão investigando para encontrarem um culpado.
Minha especialidade era cardiologia, mas atendia como médico geral em casos como esse.
A noite estava bem puxada, só consegui ir a sala de descanso por 30 minutos. Tinha parado de pegar plantões a noite e atendia somente de segunda a sexta das 8h às 16h, então eu vim pra ficar até segunda às 16h.

- ALGUEM ME AJUDA! - ouvi alguém gritar em desespero - ELE NÃO TÁ ACORDANDO! SOCORRO!

Cheguei próximo ao senhor que aparentava ter uns 60 anos deitado na maca enquanto um rapaz chorava ao seu lado.

- Por favor doutor, ajuda meu avô! Ele não tá respirando.

- Preciso que se afaste, ok? Faremos todo o possível!

Chequei seus batimentos e chamei as enfermeiras para me auxiliarem. Levamos ele para a grande sala onde fiz massagem cardíaca. Tudo indicava que era um infarto.
Tentamos reanima-lo várias vezes, fizemos todo o possível, mas não conseguimos traze-lo de volta. Por mais que isso acontecesse com frequência, eu nunca me acostumei a dizer a hora da morte de alguém. E falar para os familiares então, era sempre doloroso.
Não tivemos mais nenhum óbito e a madrugada se arrastou com vários casos diferentes.
Pela manhã eu saí da emergência e fui para outra ala, onde ficava meu consultório, tinha vários pacientes agendados.

- Bom dia Dr. - minha secretária me cumprimentou assim que cheguei - Soube que está aqui desde ontem à noite, deseja comer algo?

- Bom dia Ágatha. Um café expresso sem açúcar, por favor! Preciso ficar acordado. - Ela assentiu, levantou de sua cadeira e começou a caminhar em direção ao corredor da cafeteria - UM CROISSANT TAMBÉM - gritei lembrando que ainda não tinha comido nada.

Entrei na minha sala e sentei, ela tinha paredes brancas e estantes de madeira, cheias de livros médicos, objetos de decoração e alguns quadros de fotos. Meu quadro preferido era o que ficava ao lado do meu computador, a mãe da Ceci com um barrigão sorrindo. Aquele sorriso era o mais lindo do mundo, minha filha puxou isso dela.
Liguei o computador e conferi a ordem das consultas, teria 16 aquele dia. Ouvi uma batida na porta e pedi que entrasse, era Ágatha com meu café e croissant.

- Muito obrigado! Não sei o que seria da minha vida sem você. - ela riu. minha secretária era alta e muito magra, tinha o cabelo longo e vermelho nas pontas, trabalhava comigo há 3 anos e era impecável no seu trabalho. Era uma ótima conselheira, até mesmo quando eu não pedia. Estava noiva há alguns meses do enfermeiro da pediatria.

- Seria uma bagunça, Dr. - com certeza seria - Posso mandar que entre o primeiro paciente daqui a 15 minutos? É o tempo do senhor terminar de comer

- Claro, é tempo suficiente.

Comi depressa e terminei em menos de 10 minutos, aproveitei pra ligar pra minha mãe

- Oi, filho! Já estava esperando que você ligasse

- Oi mãe, aconteceu alguma coisa?

- Não, tá tudo bem! Já deixamos a Ceci na escola, ela dormiu a noite toda como um anjo.

- Que bom mãe, obrigado mais uma vez!

- Já disse que não precisa agradecer! Seu pai e eu temos um compromisso às 17h, será o aniversário do David lá no boliche, consegue pegar ela esse horário? Se não, vamos levá-la.

- Eu a pego antes disso, saio às 16h e já corro até aí.

- Tudo bem então

- Tenho que desligar agora, mãe. Os atendimentos vão começar, até mais tarde!

- Até, te amo!

- Amo a senhora também!

Desliguei o celular e terminei de organizar a mesa quando ouvi a batida na porta.
Era hora de cuidar do amor da vida de alguém!

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