ANTHONY
Essa foi a última vez que bebi. Foi o que repeti pra mim todo o caminho da casa da Sophia até a minha.
Ainda podia sentir o seu cheiro grudado na minha roupa depois de dormir com seu corpo tão colado ao meu. Não lavaria aquela roupa tão cedo.
Tudo o que eu queria era sentir o gosto da sua boca na minha e naquele momento eu a desejava mais que o ar que enchia meus pulmões. Ouvi-la me pedir pra parar me doeu e eu percebi o quanto estava sendo cruel com ela.
Estava travando uma batalha interna entre ir embora e permanecer, mas ela estava no meio do campo sendo atingida pela minha indecisão.
Não fui trabalhar, John me deu uma semana de folga, tinha tantas horas acumuladas que não foi problema. Eu ainda estava abalado pela morte da minha paciente, então ficar longe do hospital por uns dias poderia fazer bem.
A tarde fui buscar Ceci na casa dos meus pais. Todo o trajeto ela ficou calada, me respondia com poucas palavras, quando descemos em casa ela entrou e foi direto pro quarto, eu sabia que algo a incomodava.- Meu amor, o que aconteceu? Você está tão calada. - sentei ao seu lado no chão, ela pensou um pouco antes de falar.
- Eu ouvi a vovó e o vovô conversando sobre a mamãe Sophia. - engoli seco com medo do que ela teria ouvido.
- O que eles disseram?
- Que você não quer mais que ela more aqui com a gente. Porque você não quer, papai? Eu tô com muita saudade dela.
- Não é isso filha, as pessoas só moram juntas quando são um casal. Nós não somos mais - Estava um pouco nervoso com esse assunto - E a mamãe tem a casa dela. Podemos chama-la pra vir ver você depois. O que acha?
- Pede pra ela ficar aqui quando vier me ver? Eu gosto de ter uma mãe. Queria que ela voltasse. - seus olhinhos me fizeram ficar com o coração apertado
- Não posso fazer isso. Mas podemos ligar pra ela depois do jantar. Você quer?
- SIIIIM! - vi um sorriso no seu rosto que a poucos minutos estava triste.
- Mas tem que me prometer que vai comer, ok? Sua vó me disse que você mal encostou na comida.
- Tudo bem.
Deixei que ela voltasse a brincar e tomei um banho, a roupa que usei na noite anterior estava em cima da minha cama, queria usá-la pra dormir e sentir o cheiro dela.
Pedi sushi para jantar, sabia que a Ceci amava, nos sentamos a mesa e ela mais brincava do que comia.- Não gostou filha?
- Não sei. Não tô com fome, papai.
- Você precisa comer, vamos lá!
Ela continuou enrolando e mal comia. Já estava impaciente quando ela falou.
- Podemos ligar pra mamãe agora? Já terminei. - Ela empurrou o prato a sua frente. Agora tudo fez sentido.
- Você mal comeu Cecilia.
- Por favor, papai! - ela pediu com as mãos juntinhas sabendo que eu nunca resistia.
- Ok. Vou pegar o celular, mas me prometa que vai tentar comer mais algumas peças.
Sai a deixando na cozinha e fui pegar meu celular no quarto. Estava nervoso por ter que ligar, mas era pela Ceci. Abri a lista de contatos e vi seu nome com um coração ao lado, eu não tinha mudado ainda. Reuni toda a minha coragem e apertei em ligar.
Chamou umas 3 vezes e ouvi sua voz do outro lado da linha.- Alô?
- An...oi Sophia. Boa noite.
- Aconteceu alguma coisa? - Ela respondeu de forma fria.
- Sim. Quer dizer, não. Eu liguei pra que a Cecília pudesse falar com você, tudo bem? Ela está sentindo muito a sua falta.
- Claro! Por favor, passe pra ela.
- Certo, vou levar até ela. - Sophia ficou calada enquanto eu comecei a dar meus passos de volta pra cozinha - Sophia?
- Sim?
- Ela não está se alimentando bem, poderia falar com ela sobre isso?
- Claro.
- Obrigado!
Assim que cheguei a cozinha ela ainda estava sentada à mesa brincando com um rolinho primavera.
Coloquei o celular no viva voz e sentei ao seu lado.- Ouvi dizer que tem uma mocinha que não quer comer? - Sophia falou assim que eu disse que estava ao lado da Ceci.
- Mamãe! - seus olhinhos brilhavam - Quando vem me ver? Eu tô com muita muita saudade!
- Eu também estou com muitas saudades, meu amor! Quase morrendo de tanta saudade! - minha filha não tirava o sorriso do rosto.
- Eu aprendi a ler aquela livro da baleia, mamãe. Aquele que você lia pra mim.
- Sério? Você é uma menina muito inteligente!
- Você podia vir aqui, aí a gente lia juntas!
Sophia ficou em silêncio e eu me meti na conversa das duas.
- O que acha de vir almoçar com a gente no domingo?
- Domingo eu não posso. - respondeu rápido e ficou em silêncio por alguns segundos - Mas sábado eu consigo, pode ser?
- Pode sim. Vamos esperar você.
- Obaaaa!!! Vamos fazer aquela lasanha de novo mamãe? O meu pai tentou fazer mas ficou muito ruim - Ceci falou colocando a mão na boca tentando conter o riso e eu acabei rindo junto.
- Se tiver tudo bem pro seu pai, será um prazer.
- Claro. Tudo bem. - respondi com o coração acelerado por saber que a veria na minha casa de novo.
- Então mocinha, agora trate de se alimentar bem pra ter forças pra gente brincar no sábado tá? Come tudinho!
- tudo bem mamãe, vou comer tudinho!
Elas se despediram e vi Cecília comer até o sushi do meu prato.
Foi notório sua mudança de comportamento depois da ligação. Senti minha filha ser ela mesma de novo. Poder da Sophia sobre aquela casa.
O sábado chegou e eu mal me aguentava de ansiedade. À campainha tocou e eu estremeci quando a vi do outro lado da porta, tão mais linda que da última vez. Como isso era possível?
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QUERIDO DESCONHECIDO
RomanceUm acidente numa noite chuvosa muda a vida de dois desconhecidos. Mas será se foi mesmo um acidente? Vem descobrir a história de Antony e Sophia.