BATENDO A PORTA

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ANTHONY

Os dias foram passando e fui me arrastando em todos eles

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Os dias foram passando e fui me arrastando em todos eles.
Na quarta feira, por volta das 15h Ágatha entrou no meu consultório sem bater enquanto eu ainda estava com um paciente.

- Dr, desculpe interromper - ela estava agitada - Preciso falar com o senhor agora. É sobre a Rose.

- Certo - Me virei para a senhora sentada à minha frente - a senhora pode agendar os exames na recepção, assim que tiver os resultados pode remarcar a consulta, combinado?

- Sim senhor, obrigada! - então ela levantou e passou pela porta, me deixando a sós com minha secretária.

- O que aconteceu? - Perguntei já me levantando e pegando minhas coisas.

- Ela teve uma convulsão. Interfonaram da UTI pedindo que o senhor fosse o mais rápido possível, ao que tudo indica o corpo dela está rejeitando o coração novo.

Sai depressa, quase correndo. Assim que cheguei ao setor da UTI as notícias eram as piores possíveis. Ela teve uma parada cardíaca, foi reanimada com muito esforço, precisava de uma cirurgia imediatamente.
Corremos para o centro cirúrgico, todos estavam tensos, eu principalmente. Passamos horas ali. Foquei todo o meu conhecimento e estudo sobre aquele corpo na mesa. Fiz tudo o que podia por ela.

- Vamos lá, Rose! Não faz isso! - falei enquanto massageava o coração em seu peito com minha própria mão.

- Doutor, já faz 10 minutos que seus sinais vitais pararam. - Não dei ouvidos ao enfermeiro e continuei fazendo a massagem cardíaca.

- Você ainda vai casar, lembra? Seu noivo está lá fora te esperando, não faça isso! Vamos! - Eu estava desesperado.

- Doutor, o senhor precisa declarar a hora da morte. - a instrumentadora cirúrgica falou.

- Não. Não. Ela vai reagir. - Falava isso mais pra mim do que pra eles - Reage Rose!

- Tony! - senti o braço de John me tocar - Hora da morte 19:33.

- Ela não pode morrer, John! Ela lutou tanto! - falei gritando e percebi que todos se assustaram. - saiam daqui! Todos vocês!

Ouvi os passos de todos saindo e permiti que as lágrimas caíssem. Me apeguei aquela paciente, imaginei minha filha naquela idade, lutando pra sobreviver. Ela tinha encontrado o amor, ia casar com ele.

- Tony, eu sinto muito, meu amigo.

John tirou minhas mãos de cima dela e me levou até a parte de fora para me lavar e tirar o avental sujo de sangue.

- Vá pra casa, eu darei a notícia para os seus familiares.

Troquei de roupa em silêncio, passei pelos corredores daquele hospital ainda incrédulo e fui em direção ao estacionamento, até que ouvi a voz de Amanda se aproximando.

- Anthony! Sinto muito por ela. - ela me abraçou e eu não impedi. A abracei de volta.

Me permiti chorar ali naquele estacionamento vazio, nos braços da mulher que não despertava nada em mim. Mas era bom ser abraçado depois de tudo. Ficamos ali por alguns minutos, ela não me soltou até que eu me acalmasse.

- Obrigada! É melhor eu ir pra casa. - falei a soltando e me afastando.

- Tudo bem. Se precisar é só me ligar. Sei que não quer nada comigo, mas me deixa ser sua amiga, ok?

Ela me deu um beijo na bochecha e voltou pra dentro do hospital. Entrei no meu carro e dirigi sem rumo. Eu estava esgotado emocionalmente, cada célula do meu corpo doía por dentro e por fora.
Parei na frente do bar que há tempos eu não ia e entrei sem nem pensar duas vezes.
Minha mãe tinha levado Cecília pra sua casa, então tava tudo bem eu me permitir beber um pouco e voltar tarde pra casa.
Depois da quinta rodada de tequila eu já comecei a sentir o corpo pender pro lado quando eu fiquei de pé.

- Acho que por hoje tá bom, não é doutor? - Levi meu amigo bartender falou quando pedi mais um copo de bebida.

- Eu preciso afogar a merda desses sentimentos ou eu vou enlouquecer, Levi!

- Não diga que não avisei depois! - ele me serviu mais uma, depois outra, até eu perder as contas.

Saí dali cambaleando, mal consegui encontrar minhas chaves. Estava dirigindo em direção a minha casa, mas minha falta de sobriedade me fez desviar, indo parar direto no condomínio de 4 andares, sem elevador.
Esperei um dos moradores entrar e peguei o embalo, subi os degraus até chegar em sua porta. Bati 2x até que ela abriu.

- O que você tá fazendo aqui? - Nossa! como ela tava linda e sexy naquele moletom.

- Eu precisava te ver. - minha voz saiu tão arrastada que eu tenho certeza que ela se esforçou pra entender.

- Quanto você bebeu? - Sophia pegou minha mão e me puxou pra dentro da sua casa - Você não sabe beber, já te falei isso não é?

Sentei no sofá e ela ficou de pé com os braços cruzados à frente do seu corpo.

- O que você quer, Anthony?

- Senta aqui do meu lado. Por favor. - Ela hesitou por um momento mas logo sentou. - eu não sei porque vim. Eu estava indo pra casa, mas quando percebi já estava na sua porta.

Ela me olhava com os olhos arregalados.

- Pode me dar um abraço, Sophia?

- Não acho que seja uma boa ideia. Você está bebado demais, vai se arrepender amanhã.

- A Rose morreu hoje. Eu não consegui salvá-la. Eu tentei, mas não consegui.

- A Rose do transplante? Sinto muito!

- Eu só preciso de um abraço. Mas não qualquer abraço, Sophia. Preciso do seu. - Me movi para mais perto dela - Por favor!

Então nossos corpos se encontraram em um abraço quente e demorado. Encontrei o conforto e segurança que eu precisava ali naqueles braços. Me permiti chorar, coloquei pra fora o que me matava por dentro.

- Senti tanto a sua falta. Senti tanta falta do seu cheiro. - falei enquanto afundava meu rosto em seus cabelos recém lavados, ela tentou se afastar mas não permiti - Fica aqui. Me deixa aproveitar desse abraço só mais um pouco.

- Eu já volto.

Ela saiu e logo voltou com um edredom.

- Deita aí. - ela ordenou e eu obedeci.

Logo em seguida ela deitou ao meu lado. Ficamos apertados, mas foi bom o seu corpo tão colado ao meu. Não precisamos falar mais nada, apenas aproveitamos a companhia um do outro.

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