DIAS LONGOS

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SOPHIA

Já era quarta feira, cheguei viva na metade da semana, achei que não fosse conseguir

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Já era quarta feira, cheguei viva na metade da semana, achei que não fosse conseguir. Fiz uma entrevista de emprego em um jornal que eu tinha mandado currículo bem cedo, começaria na semana seguinte. Senti uma ponta de esperança, trabalharia em algo que eu realmente queria! Talvez as coisas começariam a melhorar.

- Sophia Miller! - ouvi a voz da recepcionista me chamar e levantei - Consultório número 3.

Caminhei em direção a porta de madeira com um 3 bem grande de metal. Dei uma batida e a abri.

- Com licença! - Falei entrando e a mulher do outro lado da mesa sorriu. Eu não queria estar aqui, mas Julie insistiu.

-  Pode entrar Sophia. - sua voz era calma e doce. Ela tinha cabelos curtos bem pretos e olhos puxadinhos. - Prefere sentar na poltrona ou no sofá?

- Acho que no sofá tá bom, a poltrona me faz parecer que realmente estou numa sessão de terapia. - Ela deu uma risada.

- Não queria estar aqui, não é?

- Sinceramente?

- Sinceridade é tudo o que quero de você, Sophia.

- Ótimo. Então não, eu não queria nem um pouco estar aqui.

-  E porque veio? O que você está fazendo aqui?

- Minha amiga acha que preciso de ajuda.

- E você não acha isso?

- Acho que consigo resolver meus problemas sozinha. É desconfortável ter que conversar sobre a minha vida com uma completa estranha. - A Dra. Ellie levantou da sua cadeira e sentou na ponta do sofá verde musgo que eu estava.

- Não vou te obrigar a ficar aqui, Miller. Pode sair por aquela porta assim que quiser - Ela ergueu uma sobrancelha e continuou - Mas acho que se veio até aqui com suas próprias pernas e sem ter uma arma apontada na sua cabeça, é porque você também acha que precisa de ajuda. Ou alguém te apontou uma arma e eu não vi?

Fiquei em silêncio com sua resposta. Meu pensamento de levantar e ir embora deu lugar a "por onde eu devo começar a falar?"

- Não sabe por onde começar? - essa mulher lia mentes? - Que tal, o que te trouxe até aqui?

- Já falei. Minha amiga acha que.. - Ela me interrompeu.

- Não, não quero essa versão que você conta pra si mesma tentando acreditar. Quero saber o real motivo.

Ficamos em silêncio por uns 3 infinitos minutos. Ela esperou até que eu me pronunciasse.

- Tentei suicídio. - esperei que sua expressão mudasse com a minha fala, mas ela agiu como se não fosse nada.

- Quantas vezes?

- Uma. 

- Entendi. - fitei os olhos num quadro de conchas que ela tinha na estante - Gosta de praia?

- Gosto, quando não está frio sempre passo por lá.

- Eu também, devia experimentar correr lá em dia de sol, é uma sensação maravilhosa a brisa batendo no seu rosto e o sol aquecendo você.

- Deve ser mesmo.

-  Na praia do lado leste tem uma banquinha de cachorro quente, quando for por lá prova um depois de correr. Vai ser a experiência completa! - ela tinha um sorriso no rosto enquanto falava, mas eu nem mesmo me esforcei pra retribuir.

- Vamos ficar aqui falando de praia e cachorro quente? Você não quer saber como eu tentei me matar ou como eu fiz?

- Você está confortável pra falar? - abri a boca pra responder mas fechei logo em seguida. Tentei falar novamente mas não consegui- Foi o que eu pensei.

Ela continuou a falar sobre coisas aleatórias, sobre seu cachorro, sobre meu filme favorito, sobre o que eu gostava de fazer nas horas livres, falamos sobre a Julie, ela compartilhou que sua filha mais nova se chamava Julie também.

- Bem, nosso horário terminou. Posso esperar você na sexta?

- Sim! - Respondi sem hesitar. Nem parecia que eu era a mesma que entrou aqui pela minha empolgação.

- Ótimo.

Me levantei pra sair, mas assim que toquei na maçaneta ouvi sua voz suave novamente.

- Miller? - virei pra olhar pra ela - Acho que depois de hoje não sou mais tão estranha assim pra você. - Ela piscou o olho e eu ri.

Não foi tão ruim como eu imaginei.
Voltei pra casa próximo do meio dia, minha amiga não estava. Fiz minha primeira refeição do dia aproveitando o resto de frango assado do dia anterior. Me joguei no sofá e maratonei O senhor dos anéis. Era meu filme conforto.

Julie me falou que não viria dormir em casa, estava saindo com um cara novo.
Pela primeira vez dormiria sozinha naquele apartamento. Já deixei a caixinha de ansiolíticos em cima da mesinha do meu quarto.
Aproveitei pra fazer uma faxina na casa a noite, precisava ficar cansada pra dormir.
Já era quase meia noite quando desliguei a tv, tomei um banho e fui buscar água pra tomar meu remédio quando ouvi alguém bater na porta.
Achei que Julie tinha esquecido alguma coisa, mas logo lembrei que ela tinha chave. Olhei pelo olho mágico e minhas pernas tremeram.

- O que você tá fazendo aqui?

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