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Billie

Eu estava distraída escolhendo algumas barras de chocolate, perdida em meus próprios pensamentos, quando de repente sinto um pequeno impacto contra minhas pernas. Surpresa, olho para baixo e vejo uma garotinha de uns dois anos de idade olhando para mim com grandes olhos azuis cheios de curiosidade. Logo eu reconheço ela, era Ayla

-- Cuidado aí, princesa -- eu falo, me abaixando para ficar no seu nível. Passo a mão pelos seus cabelos loiros, um sorriso involuntário surgindo no meu rosto. -- Onde está sua mamãe?-- pergunto, ainda sorrindo.

-- Ayla! -- ouço uma voz familiar e tensa dizer. Ao levantar meu olhar, me deparo com S/n, e um nó se forma em minha garganta. -- Ayla, vem cá, meu amor -- ela chama, e a pequena imediatamente corre em sua direção. -- Você está bem? Não pode correr assim, você pode se perder de mim ou se machucar -- ela adverte a garotinha, que concorda com a cabeça, parecendo entender a gravidade das suas palavras.

-- Ela... Se parece muito comigo...-- Esse pensamento cruza minha mente, e antes que eu possa impedir, as palavras escapam dos meus lábios, atraindo a atenção de S/n, que agora me encara com um olhar carregado de desdém.

-- Ela é muito diferente de você...-- ela dispara, pegando a garotinha no colo e acomodando-a na cadeirinha de seu carrinho de compras.

A firmeza na voz de S/n e a maneira como ela me olha, cheia de ressentimento e proteção, cortam mais fundo do que qualquer palavra afiada poderia. Eu quero argumentar, dizer algo, qualquer coisa que possa amenizar a tensão entre nós, mas as palavras parecem morrer na minha garganta. A presença de Ayla, tão inocente e alheia ao complicado histórico entre mim e sua mãe, serve como um lembrete pungente do tempo perdido e das escolhas erradas que fiz.

-- Eu só... -- começo, lutando para encontrar o que dizer, -- Eu sinto muito, S/n. Por tudo. -- Minha voz é baixa, carregada com o peso do arrependimento que venho carregando desde que Finneas me confrontou com a verdade sobre minha filha e sobre mim mesma.

S/n me analisa por um momento, e eu posso ver a hesitação em seus olhos. A batalha interna entre a vontade de me cortar completamente de suas vidas e a possibilidade, por mais remota que seja, de Ayla ter sua mãe em sua vida.

-- Você não tem ideia do que é chegar a este ponto -- ela finalmente diz, sua voz firme, mas eu detecto um traço de exaustão por trás de sua fachada forte. -- E não é algo que um simples pedido de desculpas vai consertar.-- Eu assinto, sabendo que ela tem razão.

-- Eu sei. E eu não espero que você... ou ela... me perdoem assim, de uma hora para outra. Mas eu quero fazer parte da vida dela, S/n. Quero ser a mãe que Ayla merece. Estou disposta a fazer o que for preciso. -- S/n me observa em silêncio, e por um momento, um vislumbre de indecisão passa por seus olhos.

-- Vamos precisar de muito mais do que palavras, Billie. Ações. Provas de que você realmente mudou. E mesmo assim, eu... Eu preciso pensar.-- Com Ayla observando curiosamente a troca entre nós, S/n empurra o carrinho de compras, se afastando lentamente. -- Eu te aviso -- ela diz, sem olhar para trás.

Assisto-as se afastarem, a sensação de um recomeço possível, embora incerto, enchendo meu peito. Eu sei que o caminho à frente será difícil, cheio de obstáculos e provações. Mas olhando para Ayla, mesmo de longe, sinto uma determinação renovada. Eu faria o que fosse preciso, não apenas para me redimir, mas para ser alguém digno daquela pequena garota que, sem saber, já havia começado a mudar minha vida.

S/n

Eu entrego o pratinho de comida para Ayla, que não perde tempo em começar a comer, usando mais as mãos do que a colher. Porém eu não me importo com isso, faz parte do processo de aprendizagem e desenvolvimento. Eu fico apenas observando para garantir que ela não vai se engasgar. De repente meu telefone toca, era um número desconhecido, eu atendo um pouco receosa.

-- S/n?-- escuto uma voz familiar

-- sim... Com quem falo?-- pergunto curiosa

-- sou eu, Billie... Eu... Eu quero registrar Ayla, e se você quiser, pode entrar com um pedido de pensão na justiça, para ter uma garantia de que realmente quero isso... -- eu interrompo sua fala

-- não precisamos do seu dinheiro Billie -- falo me baixando para pegar a colher que Ayla derrubou no chão, indo até a pia para lava-la

-- você não me deixou terminar... Eu vou registra-la, vou te ajudar com todas as despesas, e eu quero estar presente no dia a dia dela... -- ela diz e eu volto para perto de minha filha, devolvendo a colher para ela

-- o que te fez tomar essa decisão tão repentinamente Billie?-- pergunto desconfiada

A pausa no outro lado da linha parece eterna, carregada de hesitação e algo mais profundo, algo que não consigo decifrar. Finalmente, Billie suspira, um som pesado que parece carregar consigo o peso de suas decisões passadas.

-- Eu me dei conta do tempo que perdi, não só com a Ayla, mas com você também, S/n. E depois de muito pensar e conversar... eu percebi que não quero perder mais nenhum momento. Eu quero fazer parte da vida dela, da vida de vocês. Eu quero tentar consertar os erros que cometi, se você me permitir. -- A sinceridade na voz de Billie me pega de surpresa, fazendo com que uma pontada de esperança, que eu não sabia que ainda existia, acenda dentro de mim.

Mesmo assim, a desconfiança e o medo de me machucar novamente, de permitir que Ayla se machuque, fazem meu coração pesar. Eu olho para minha filha, sua alegria inocente ao brincar com a comida, alheia à complexidade do mundo ao seu redor, e sinto uma onda de proteção.

-- Billie, isso não é algo que pode ser decidido em uma única conversa telefônica. Eu... Eu preciso de tempo para pensar, para ter certeza de que isso não é apenas mais uma das suas fases. Ayla é o que mais importa aqui, e eu não vou permitir que ela sofra por qualquer decisão impulsiva. -- Eu tento manter a voz firme, apesar da emoção que ameaça transbordar.

-- Eu entendo, S/n, e eu esperarei o tempo que for preciso. Eu só quero que você saiba que estou falando sério. Estou disposta a fazer o que for necessário. -- A voz de Billie agora carrega um tom de urgência, de promessa.

-- Vamos conversar pessoalmente. Acho que temos muito o que discutir, e não acho que o telefone seja o melhor meio para isso. -- Decido, sentindo que essa era a decisão mais sábia a ser tomada, apesar do turbilhão de emoções que a ideia de ver Billie novamente desperta em mim.

-- Claro, quando você quiser. Estou à disposição. -- Billie responde rapidamente, e eu posso quase ouvir o alívio em sua voz.

Desligo o telefone, sentindo um misto de esperança e apreensão. Olho para Ayla, que agora tenta chamar minha atenção com suas pequenas mãos cobertas de comida. Eu sorrio para ela, e nesse momento, prometo a mim mesma que farei o que for melhor para nós. Independentemente do que o futuro reserva, minha prioridade é a felicidade e segurança da minha filha. E talvez, só talvez, Billie tenha uma chance de fazer parte disso, mas somente se ela provar que realmente mudou.

Echoes of a Lost Loop (Billie Eilish/You)G!POnde histórias criam vida. Descubra agora