Billie

Durante o trajeto, estávamos em silêncio, exceto Ayla, que vez ou outra resmungava por estar com soninho e cansada do dia.

-- ela parece uma criança calma... -- comento e S/n concorda com um som nasal -- foi difícil cuidar dela sozinha?... Conhecendo sua mãe, provavelmente ela deve ter ficado uma fera

-- Mamãe me apoiou bastante, e sim, ela ficou uma fera no começo. Ela me aconselhou muito naquela época e a coisa que ela mais me dizia era que você iria fazer besteira comigo... E... Quando contei da gravidez, ela ficou quase um mês inteiro brava comigo, ela me ajudava, mas sempre dava um jeito de dizer a clássica frase 'eu te avisei, S/n'... O período da gravidez foi o que mais me senti sozinha, eu tinha vinte e um anos de idade, tinha acabado de sair da casa dos meus pais e... Não tinha o apoio... O seu apoio -- ela fala e suspira pesado -- e quando Ayla nasceu, por um lado eu agradeci a Deus por não ter conseguido abortar, porque ela mudou completamente o sentido de minha vida... Ela trouxe luz. Mas também foi o momento mais difícil que já passei em toda a minha vida. Foram longas madrugadas acordadas, eu só tinha ela e ela só tinha a mim, e vez ou outra, nós duas chorávamos juntas, mas ela ainda tinha eu para tentar dar uma força para ela, e eu... Eu tentava me apoiar em mim mesma... Hoje em dia, não posso dizer que sou a melhor mãe do mundo. Mas a gente luta com as armas que tem...

-- você... Tentou abortar?-- pergunto sentindo um nó em minha garganta por saber o que uma escolha minha, gerou na vida dela.

-- eu estava no caminho, e um acidente gerou um engarrafamento, passei quase duas horas e meia parada no mesmo local... Quando cheguei, a clínica já estava fechada, e se não fosse naquele dia, só teria disponibilidade para dois meses depois, e em dois meses era muito arriscado fazer... Acho que o universo queria me ajudar, provavelmente hoje eu guardaria o maior arrependimento de toda a minha vida -- ela explica e percebo seus olhos marejarem, mas ela respira fundo e olha para o lado de fora do carro

A história dela ressoava em meus ouvidos, cada palavra pesando como chumbo no meu coração. Era uma mistura de dor, arrependimento e, de alguma forma, gratidão pelo destino ter tecido os acontecimentos daquela maneira.

-- Eu... Sinto muito, por tudo. Não ter estado lá, por ter sido a causa dessa dor. Eu nem sei o que dizer, exceto que lamento profundamente. E estou aqui agora, não apenas por Ayla, mas por você também. Eu quero fazer parte, ajudar de qualquer maneira que eu puder -- falei, lutando para manter a voz estável, para transmitir a sinceridade de minhas palavras.

S/n me olhou brevemente, antes de voltar a atenção para a janela. O silêncio que se seguiu não era desconfortável, mas sim contemplativo. Parecia que ela estava processando minhas palavras, talvez pesando a possibilidade de me permitir entrar em suas vidas de uma forma mais significativa.

-- Eu... Eu agradeço isso, Billie. Realmente. Vamos ver como as coisas vão acontecer -- ela disse finalmente, com uma voz suave, mas firme.

O restante do caminho foi preenchido com um silêncio pensativo, quebrado apenas pelos sons suaves de Ayla adormecendo no banco de trás. Quando chegamos à casa dela, ajudei a levar Ayla para dentro, sentindo a responsabilidade daquele momento, a importância de estar ali, de fazer parte disso.

-- Boa noite, Billie. E obrigada, novamente -- S/n disse ao se despedir na porta, com um sorriso que, apesar de cansado, carregava um brilho de algo novo, talvez esperança.

-- Boa noite. E sempre, estou aqui -- respondi, antes de me afastar, sentindo uma conexão renovada, um propósito. Sabia que o caminho à frente seria desafiador, mas, de alguma forma, sentia-me pronta para enfrentá-lo, por Ayla, por S/n, e por nós.

Ao sair da frente da casa de S/n, vou diretamente para a casa de minha mãe. Ao chegar la, encontro a mulher sozinha, sentada na varanda.

-- não esperava que viesse hoje, eu poderia ter feito um bolo para você -- mamãe fala e eu sorrio de lado -- como foi? A garotinha gostou das bonecas?

-- ela adorou... Quero falar com a senhora -- falo me sentando na cadeira ao seu lado -- o que vou te contar agora, faz de mim um monstro, do pior tipo. E quero que, se a senhora sentir que precisa ser má comigo, seja muito má, seja cruel... Porque eu sei que mereço...

-- do que esta falando Billie?-- mamãe pergunta confusa

-- a garotinha para quem dei as bonecas... Ela é minha filha, se chama Ayla... Se lembra de S/n? Você viu ela poucas vezes porque o que tivemos foi rapido e... Eu fui idiota com ela. Acreditei que ela era mais uma daquelas que tentaram me aplicar aquele golpe da barriga... Finneas contratou ela para ser a secretária dele e ajudou ela com Ayla, da forma que podia... E... Ele fez um teste que comprovou que eu... Que ela é minha filha. Mas S/n nunca veio me procurar, e eu nunca fui querer saber sobre ela... E... Eu estou tentando me redimir, sei que não tem como consertar o que eu fiz, é impossível consertar, porque uma escolha minha, virou a vida de S/n de cabeça para baixo...

A revelação pareceu pairar no ar por um momento, pesada como uma tempestade prestes a desabar. Minha mãe olhava para mim, uma mistura de surpresa, decepção e, em algum lugar no fundo de seus olhos, uma centelha de compreensão.

-- Billie, isso é muito sério. É claro que você cometeu um grande erro, um erro que afetou muitas vidas. Mas o que você está fazendo sobre isso agora?-- A voz dela era calma, mas havia uma firmeza nela que me obrigou a encará-la diretamente.

-- Eu estou tentando me envolver na vida de Ayla, tentando ser uma presença positiva para ela... e para S/n também. Quero ser parte da solução, não continuar sendo o problema -- eu respondi, minha voz carregada de determinação. Mamãe suspirou, pesadamente, como se estivesse carregando o peso da situação em seus ombros.

-- Billie, todos nós cometemos erros. Grandes erros. Mas o que define nosso caráter é como lidamos com esses erros, como tentamos corrigi-los. Você tem uma longa jornada pela frente, uma jornada de redenção. Não será fácil, e haverá momentos em que você duvidará de si mesma, mas é necessário. Você precisa se esforçar, não apenas por você, mas por essa menina... sua filha, e por S/n.

-- Eu sei, mamãe. E eu estou disposto a fazer o que for preciso. A verdade é que eu não quero ser a mulher que eu era. Quero ser melhor, por elas -- eu disse, sentindo uma resolução profunda dentro de mim. Minha mãe então se inclinou para frente, colocando a mão sobre a minha.

-- Então você será, Billie. Mas lembre-se, ações falam mais alto que palavras. Você terá que provar, a cada dia, que suas intenções são verdadeiras. E saiba que, mesmo que você tenha cometido um grande erro, você tem a chance de fazer as coisas certas agora. Isso também diz muito sobre quem você é. E sempre terá o meu apoio.

Nesse momento, senti algo mudar dentro de mim. Uma determinação ainda mais forte tomou conta, junto com uma gratidão profunda pela compreensão e apoio de minha mãe. Eu sabia que o caminho à frente seria cheio de desafios, mas também sabia que não estava sozinha nessa jornada. E, de alguma forma, isso tornou tudo um pouco mais suportável.

Echoes of a Lost Loop (Billie Eilish/You)G!POnde histórias criam vida. Descubra agora