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A chuva caía firme naquela manhã de domingo, e o clima frio do lado de fora trazia a sensação de um inferno prematuro. A noite havia sido longa, mas Andrea mal conseguiu dormir durante toda ela. Pendurada na sacada do seu quarto, encarava o horizonte como se não lhe restasse mais nada. O cabelo, antes sempre alinhado, caía sobre o seu rosto sem ganhar qualquer atenção. A ruiva viajava para longe, vagando pelos próprios pensamentos sem a intenção de retornar tão cedo.

Em uma breve visita de Richard a sua casa, muito foi conversado mesmo diante o pouco tempo que possuíam. Aproveitando o retorno de sua mãe ao hospital, devido a uma emergência que pouco acontecia, Andrea deixou um desabafo sincero cair no colo do amigo, e então recebeu a notícia que Kássios fazia o possível para deixar longe do seu saber. Katherine havia deixado a cidade.

Em meio a tantas perguntas, diante das respostas Andrea se sentiu perdida. Ouvindo tudo o que Richard tinha para dizer, a ruiva guardou apenas o que julgou ser importante, apenas os motivos que levaram a agente Rivera tomar tal decisão. Se pudesse, faria até o impossível para que o desfecho daquela noite fosse o mais diferente que conseguisse alcançar. Mas isso não estava em suas mãos, não podia fazer nada para mudar o que aconteceu. Seu pai era um criminoso, o mafioso mais procurado por todo o FBI. E quem estava tentando enganar? Ela não era idiota, entendia que as chances de poder segurar aquele distintivo como seu outra vez eram pequenas demais. Graças ao homem que tanto admirou durante a maior parte da sua vida, ser agente voltava a ser um sonho muito difícil de conquistar.

Agraciada pela leve brisa que tentava ajeitar os fios do seu cabelo, permitindo o cair de uma única lágrima solitária, negou que estivesse à mercê da negatividade daquela forma, respirou fundo e ajeitou a própria postura. Estavam batendo em sua porta, e obviamente era a sua mãe lhe chamando para mais um café da manhã forçado. Afinal, não tinha fome, não tinha vontade de abraçar tamanho esforço apenas por dizerem ser algo necessário. Por decisão sua, Andrea não sairia daquele quarto até o dia em que sua inocência fosse apresentada à direção do FBI. Mas por insistência de Andreza, a jovem jamais conseguiria cumprir com o que era o seu objetivo.

— Eu já estava descendo — fechando a porta em suas costas, passou pela mais velha e seguiu na frente.

— Seria uma grande surpresa, meu amor — alcançando os seus passos, Andreza abraçou o seu braço — Mas nós duas sabemos que isso está muito longe de ser uma verdade, não é?

Apesar de estar buscando por respostas sinceras, Andreza não pensava em insistir mais do que fosse necessário. O silêncio de Andrea já lhe dizia muita coisa, e o profundo respirar ao fitar por breves segundos a porta que ainda guardava o escritório de Pietro era de cortar o coração. A cirurgiã geral se lembrava bem da última vez em que viu sua criança tão destruída, e isso havia sido há anos atrás, quando seus pais acabaram por falecer. Pietro havia feito mais do que apenas pisar na bola, e a mulher não se referia apenas ao fato dele ser o criminoso mais procurado pelo governo, mas principalmente por suas atitudes terem destruído os sonhos da sua única filha. Podia perdoar quase tudo, mas não isso.

— Torta de morango — Andrea sorriu sem muita força — Quanto tempo a senhora não se dá ao trabalho de fazê-la, não?

— Era uma especialidade da sua avó, a minha nunca ficou tão boa quanto a dela — em um momento de nostalgia, Andreza sentiu seus olhos molharem devido a saudade que sentia da mãe.

— Para mim, sempre ficou muito boa, a melhor que já comi — aquela era a sua sobremesa favorita, e ainda sim fazia muito tempo que não sentia aquele sabor em seu paladar, pelo menos não aquela que sua mãe fazia — Obrigada por deixar a sua zona de conforto, está perfeita.

Se sentando de frente para a filha, mais uma vez Andreza se viu julgando cada uma das más ações do marido, tentando entender como ele foi capaz de ir tão longe em uma espécie de jogada que consumia devagar toda a sua família. Ainda não tinha se encontrado com Pietro desde o dia em que recebeu sua criança completamente destruída após a entrevista dada pelo diretor Kássios Rivera, o qual manteve a jovem Delatorres em sua custódia por todo o restante daquele dia, a levando de volta poucas horas depois. Andreza não se conformava com nada daquilo, muito menos assistindo de perto tudo o que Andrea vinha passando.

A Filha do Dono da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora