A Filha do Dono da Máfia

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O relógio marcava pouco mais de uma hora da tarde quando Kássios foi avisado de que Andreza Delatorres o esperava na sala que um dia pertenceu a sua agente de maior promessa futura. O homem estava sentado em sua mesa, com os olhos fixos nas inúmeras mensagens e ligações ignoradas na tentativa de contato direto com Andrea. E sem ter mais tempo ou paciência para insistir no erro, considerou uma ideia viável contatar a Delatorres mais velha, só não pensou que os saberes da mulher fossem ser os mesmos que o seu.

Na sala que no momento não era ocupada por ninguém, o diretor fez uso de cada minuto necessário, perguntou o que parecia certo e não se permitiu tomar partido de nada que não fosse do seu interesse. Precisava saber onde estava Andrea, entender o que se passava na cabeça da jovem para ignorar daquela forma a intimação judicial recebida já em cima da hora. Deveriam estar terminando o seu interrogatório, preparando os documentos que a eliminavam da lista de suspeitos depois de longas e arrastadas semanas. Porém, devido a ausência em algo tão importante, a situação voltava a zero, pois os seus argumentos novamente eram postos a prova. Tudo o que foi relatado até aquele instante, voltava ser posto em dúvida por causa de um desaparecimento sem qualquer explicação. Foi isso o que Kássios Rivera tentou explicar quando Andreza disse não ter ideia de onde a filha poderia estar. O diretor pensou que a Dra estivesse mentindo, acobertando a filha de alguma forma, mas Andreza não era conhecida por conseguir sustentar com facilidade uma teia de mentiras.

Durante toda a sua vida, a cirurgiã sempre zelou pela verdade acima de tudo, algo que passou para a filha desde o berço. Andreza Delatorres não tinha o costume de mentir, e sabendo o que significava estar ali, não faria nada que fosse prejudicar as chances da sua criança. Acreditava em Andrea, e estava do lado dela em tudo. Não sabia onde sua filha estava, mas entendia que não tinha nada haver com uma fuga das perguntas repetitivas do FBI.

— Se não me disser onde ela está, eu não tenho como ajudá-la, Dra Delatorres — mantendo o respeito acima de tudo, Kássios insistiu no seu ponto. Duvidava realmente poder ajudar de alguma forma, mas acreditava poder remediar toda a situação se Andrea aparecesse ainda naquele dia.

— Pela última vez, diretor — sua paciência havia chegado no limite, e com a preocupação começando a apertar o seu peito, Andreza se levantou não temendo a intimidação do homem na sua frente — Eu não sei onde está a minha filha, sai de casa pela manhã para trabalhar e ainda não retornei. Ela pode simplesmente ter perdido a hora, é tão difícil assim considerar essa ideia?

— São quase duas horas de atraso, Dra — levou as mãos aos bolsos e respirou fundo — Ninguém se atrasa tanto se ainda tiver a intenção de comparecer, e com certeza não ignora todas as tentativas de contato dessa forma.

— Se não quer me ouvir, eu não tenho mais como ajudar — segurando sua bolsa, caminhou até a saída — Entrarei em contato quando estiver com ela, e o senhor verá que anda nos devendo um sincero pedido de desculpas desde o início, diretor Rivera.

Com a saída de Andreza, Kássios engoliu em seco cada uma das palavras que ficaram presas em sua garganta. Pensou em muito para dizer, mas em meio a tantas dúvidas, nada conseguiu deixar as suas cordas vocais. Certo ou errado, aquele era o seu trabalho, e se fosse realmente preciso ao fim de toda aquela dor de cabeça, ele não exitaria em estufar o peito e pedir as desculpas que a cirurgiã desejava ouvir. Ao menos abria novos caminhos para trilhar aquela busca, e a ausência de Andrea não devia afetar essa sua decisão. Suspeita ou não, o diretor entendia que sua ex-agente não era a única naquela lista. Precisava ir fundo naquela escavação, procurar nos cantos menos prováveis possível. Era necessário um começo para alcançar o fim, e apesar do início não lhe parecer tão promissor, o diretor assumiu que estava na direção da resolução da maior parte dos seus problemas. Logo teria a folga que tanto ansiava.