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De pé no início da primeira fileira posta para uma última homenagem fornecida pelos federais da sua cidade, Andreza assistia com os olhos tomados pelas lágrimas, seis dos agentes daquele departamento do FBI de Los Angeles carregarem um caixão vazio, escoltado como se fosse a coisa mais valiosa do mundo. A cirurgiã estava ciente de que aquela cena deveria ser o encerramento para algo que começou a mais de três meses atrás, mas apesar de tudo o que foi dito e explicado por cada envolvido nas buscas por sua filha, a mulher se recusava a acreditar que estava mesmo participando do fim da história de Andrea.

Ao lado de Kássios Rivera e Homero Farias, Andreza tentava encontrar forças para permanecer forte diante de tantos motivos para se render à fraqueza e nada mais. E mesmo que fosse grata pelo acolhimento oferecido pelos dois homens, a cirurgiã logo os abandonou quando enxergou a presença de Katherine uniformizada um passo atrás do esquadrão formado pelo diretor. Kássios não sabia do seu retorno, e frente a todos os presentes não soube como esconder a sua surpresa.

Distante, mas próxima o suficiente para ser considerada como parte dos agentes que prestavam aquela última homenagem, Katherine mantinha uma postura invejável diante um ambiente tão carregado de más energias. Havia chegado a cidade no início da manhã daquele dia, e informada sobre todos os horários daquela cerimônia de despedida, assistiu o passar do tempo sem sair do seu apartamento até o instante em que fosse necessário. Sabia da opinião do tio sobre a sua presença ali, e por isso optou por não lhe dizer nada até que o encontro acontecesse. Observou o ar de surpresa engolido pelo homem, mas o seu foco imediatamente foi roubado pelo caminhar de Andreza Delatorres na sua direção.

Com a cirurgiã em movimento, Katherine viu seus passos perderem vida antes mesmo de conseguir pensar nisso. O semblante de dor e sofrimento de Andreza a paralisava. Aqueles olhos tão vermelhos devido ao choro silencioso sempre presente na maioria das vezes desde a notícia que abalou a sua vida, fazia a agente respirar fundo e negar pela milésima vez a decisão que tomou poucos dias depois do seu último diálogo com Andrea. Se pudesse voltar no tempo e mudar a própria opinião, Katherine não pensaria duas vezes antes de abraçar a dúvida e permanecer exatamente onde estava. Talvez nada mudasse, ou talvez essa fosse a chave para impedir que tudo acontecesse. Se tornava irônica a sua atual caminhada, afinal, dúvida era tudo o que novamente tinha nas suas mãos.

— Andreza, eu sinto tanto. — Abrigada dentro do abraço da mulher, inconsciente para o mundo ao seu redor, a agente sussurrou baixinho o que a consumia lentamente por dentro.

— Está tudo bem, você estar aqui já significa muito — junto das palavras, se afastou e olhou nos olhos da mais nova — Ela está viva, Katherine, eu sinto isso.

— Se quiser desabafar depois da cerimônia, posso te levar para casa. — As palavras da cirurgiã, Katherine as entendia melhor do que ninguém. Dentre os presentes no vasto gramado daquele cemitério, talvez a agente fosse a única que realmente entendesse a dificuldade que era para Andreza estar de frente ao funeral da sua única filha, que a própria tinha a plena certeza de ainda estar viva. Então assentiu para a oferta feita pela mais nova.

— Venha, fique ao meu lado enquanto o padre recita as últimas palavras de passagem — apesar de ser um pedido envolto por delicadeza, a morena entendeu que dizer “não” não era uma opção que existia ali. Com a sua mão sendo segura pela da mais velha, ajustou seu paletó e se preparou para encarar o tio de perto, além de não entregar nada que fosse desnecessário para o momento.

— Homero — em um aceno de cabeça simples, cumprimentou o homem sem muita força. Se pudesse, refletiria um sinal de ironia através do próprio sorriso — Quanta cara de pau da sua parte — atrasando um passo, disse baixo — Tão sereno, deveria ter investido na carreira de ator. Além de fazer sucesso, evitaria o risco de ser preso a qualquer momento.

A Filha do Dono da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora