🄾🄽🅉🄴

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O relógio de cabeceira marcava pouco mais de duas horas da manhã quando Pietro deixou a cama e foi para a varanda do seu quarto na intenção de espairecer a mente. Fazia alguns dias que o empresário não conseguia ter uma noite decente de sono, pois a preocupação com o lado negro do seu trabalho não lhe permitia descansar da forma como julgava ser necessário. Eram muitos pesadelos, muitas situações que vinha tentando evitar a todo e qualquer custo, acontecimentos nulos que o atormentavam tanto quanto a realidade vivida a cada novo amanhecer. Começava a se cansar, e junto do cansaço vinha a necessidade de dar fim a incansável busca do FBI contra a sua pessoa.

Aquela era uma madrugada fria, assim como a brisa que tocava seu rosto era muito agradável. Visando as nuvens sobre a sua cabeça, imaginou que aquele poderia ser um dia nublado, aberto para a probabilidade de chuvas a qualquer momento. Talvez fosse um sinal, pensou ao respirar fundo.

— Pietro, o que está fazendo? — ouvindo a voz sonolenta de sua esposa, se virou para observá-la mudando de posição debaixo dos lençóis — Ainda está cedo, volte para a cama.

— Estou indo, querida — era o que mais queria, mas infelizmente não conseguia se entregar à vontade que possuía. Suas palavras serviam apenas para acalmar Andreza, para fazê-la voltar a adormecer sem quaisquer preocupações. Deixaria o quarto em silêncio e com muito cuidado para não acordá-la novamente. 

Descendo as escadas, pensou uma vez mais nas imagens ainda recentes em sua mente, respirou fundo e negou tudo. Não deixaria nada acontecer, mas para isso precisava resolver algumas pendências, dar ao FBI o que eles tanto buscavam. Possuía uma jogada, e com as cartas certas, logo teria tudo exatamente da forma como desejava.

— O que faz aqui, querida? — com a luz do seu escritório acesa, foi direto com a questão destinada a sua filha. Não esperava encontrá-la ali, e certamente era grato por deixar tudo o que comprometedor trancado à chaves em uma das suas gavetas.

— Estava sem sono, então decidi terminar algumas coisas sobre o trabalho — fechou o notebook e fitou o mais velho com curiosidade — E o senhor, o que faz acordado uma hora dessas?

— Problemas para dormir — se sentou na cadeira de frente para a mesa — Insônia, eu diria.

— Parece cansado — o analisando com muito cuidado, Andrea fez o comentário — Essa tal Insônia não é apenas de hoje, estou certa?

— Não vá dizer nada a sua mãe, não quero preocupá-la — em um sorriso compreensível, a jovem agente apenas assentiu — Você cresceu tanto nos últimos anos, meu amor.

— É o que se espera com o passar do tempo, pai — desconhecendo aquele lado sentimental do homem, soou divertida — Muito aconteceu desde que deixei o colégio, não foi?

— Bom, você se formou e escolheu não exercer a sua profissão — incapaz de deixar essa marca se apagar, Pietro viu sua filha soltar um pesado suspiro — Não é um julgamento, Andrea, estou apenas relatando o acontecido que te levou para onde estar hoje. Mesmo que talvez não veja assim, a faculdade pode ter sido uma chave importante para toda essa sua determinação, a evolução que sofreu a partir da formação colegial é algo muito grande. Veja a mulher que vem se tornando, minha filha.

— Tem mais do que apenas um dedo da minha mãe em tudo, e o senhor sabe bem disso — Pietro não possuía dúvidas. Andreza havia desistido de muitas coisas apenas para estar sempre junto da filha. Havia mais fatos por trás de tudo, mas o homem não duvidava de que Andrea era o maior pilar de sustentação para as decisões da esposa.

— Claro, você está certa — o sorriso da filha era como uma luz essencial para os seus olhos — E sobre o que faz aí, posso ajudar de alguma forma?

A Filha do Dono da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora