A Filha do Dono da Máfia

🄳🄾🄸🅂

Segunda feira de manhã, um dia comum como qualquer outro. Com o clima fechado propenso a fortes chuvas a qualquer momento e muitos com um humor tão ácido quanto a própria equação química, sorrisos agradáveis era tudo o que não esperavam uns dos outros dentro do prédio que abrigava cada membro do FBI sob o domínio do diretor em exercício, Kássios Rivera. Um fim de semana inteiro havia se passado, e ainda sentiam como se tivessem acabado de deixar aquela maré de sangue criada pelo desleixo com a vida humana do alvo número um em suas paredes.

Atrasada e com uma cara pertencente a alguém que não dormia fazia algumas noites, Katherine bicava o café em suas mãos e seguia sem muitas palavras até sua sala um andar abaixo daquela que era do seu tio, isolada de todos que pensavam em encher a sua paciência. Porém, pensou não estar obtendo tudo o que pedia ao enxergar Kássios batendo à sua porta e lhe observando através do vidro. Seu pedido de paz e tranquilidade havia sido revogado, o homem não exibia a melhor das suas feições, mas claramente se esforçava ao máximo possível. Do seu lado, mal contendo toda a sua empolgação, a jovem garota recém formada na academia tentava não sorrir demais. Estava se tornando o centro da atenção, e gostar de ser tudo o que viam não era algo com o qual conseguia lidar muito bem.

Estando em seu primeiro dia na divisão para a qual foi designada para pôr em prática tudo o que aprendeu nos últimos meses, Andrea chegou cedo, quase junto do diretor do lugar. Não tinha muitos agentes ali quando passou pela entrada, mas os olhares em sua direção só sabiam aumentar mais e mais a cada novo minuto. Era uma cara nova em meio a tantas almas marcadas pelo terror da perda de amigos em uma frequência, às vezes difícil de assimilar. Dentro daquele prédio, todos haviam perdido algo, todos possuíam os seus demônios e tentavam lidar com eles da forma que conseguiam. Não estavam em seu melhor momento, e apesar de muitos cochichos escondidos, alguns ainda conseguiam ser cordiais e ao menos forçar um sorriso de boas vindas a novata da vez.

— Li a sua ficha com muito cuidado, agente Dellatorres, cada mínimo ponto dela — caminhando ao seu lado enquanto apresentava todo o centro de operações, o homem dizia sem precisar olhar em seus olhos. Ainda não a conhecia, mas esperava que trazer dores de cabeça não fosse um dos seus muitos talentos — Em momentos vagos, de longe acompanhei pessoalmente o seu desempenho. Não é algo muito comum uma garota ser o destaque em meio a tantos predadores sedentos pelo seu sangue, mas espero que entenda que isso não chega nem perto do que é estar lá fora em uma missão de risco.

— Sim senhor, eu entendo perfeitamente. Mas estou certa de que irei me sair bem, treinei bastante para isso, e não me esforcei pouco para chegar até aqui — ouvindo as suas palavras, Kássios assentiu virando no corredor. Mirava a sala de sua sobrinha — Se me permite senhor, esse é apenas mais um passo na realização de um sonho.

— Então tentaremos fazer com que não se torne um pesadelo — simples e direto, cedeu a porta dois toques firmes e olhou através do vidro. Andrea apenas o observava, esperava para ver o que faziam ali.

Eram raras as vezes em que Katherine se atrasava, desde que deixou a academia para se juntar ao tio na luta contra a máfia Belmont isso raramente acontecia. Para Kássios, era sempre uma surpresa quando passava pela porta de entrada e a garota não era uma das primeiras pessoas a passar em seu campo de visão. Estavam em um dia perigoso, alguns alertas sobre a possível chuva inesperada já corriam a cidade, e depois dos últimos acontecimentos, ficar de olho parecia ser algo delicado a se fazer. O homem mal sabia por onde seguir.

Sendo preciso cuidar para que a novata conhecesse tudo o que fosse necessário, o diretor também precisava designá-la à alguma função, colocá-la em alguma equipe de campo. Se fosse do seu poder, a manteria no prédio por mais algum tempo, a treinaria um pouco mais para ter a certeza de que a menina daria conta do serviço do lado de fora. Porém, tendo pego o seu passe para aquela vida com honra e mérito, tudo o que Kássios Rivera podia fazer já estava ali em suas mãos. Sabia o que esperar daquela que levava o seu sangue nas veias, mas a decisão era sua, Katherine não tinha como discordar.