The lawyer and the journalist

Falida

P.O.V. Saskia

E vocês acham que a minha vida é fácil? Todo mundo olha pra mim, vê esse rosto lindo, vê quem é minha irmã, vê minha profissão, minhas posses... "Porra, uma mulher linda dessa, rica, advogada, parente de quem é praticamente dona da cidade, tem tudo na mão, quem ela quer e quando quer... Por que ela não seria feliz se a vida dela é perfeita?". Perfeita uma ova. Minha vida é vazia. Não vou negar que minha vida é boa. Tem facilidades, privilégios. Mas de que adianta se eu sempre continuo me sentindo só? E agora tudo tava piorando... Porque eu tinha a certeza de que ia morrer sozinha. Todos que amei, eu perdi. Então qual o sentido de conseguir tanta coisa e no fim das contas não ter nada? Vida de merda...

Eu não tinha esperança, eu sabia que minha vida não ia mudar nunca, então pra que me agarrar a essas fantasias desastrosas de monogamia, amor, parceria? Uma bobagem! Nem todo mundo é feito para amar. Nem todo mundo nasceu para ter alguém. Algumas pessoas só... Estão no mundo pra trabalhar. Pra continuar no racional, pra existir. E não para ter relações. Eu por exemplo. Na infância, eu precisei cuidar da minha irmã, manter ela no caminho certo. Mesmo gêmeas, a gente não tinha nada a ver uma com a outra, não na personalidade. Na aparência talvez, mas sempre achei que eu era mais gata e mais elegante. Mas na personalidade... Totalmente opostas. Eu que tive que dar o exemplo pra ela a vida toda, porque senão era fácil sair da linha. Mas agora, parece que o jogo virou. Agora ela que fica colocando aquela esposa dela o tempo todo na minha cola pra ver se eu não to me matando, me drogando ou me prostituindo. Olha que legal. Eu não tive juventude graças a ela e agora que to tentando curtir um pouco a vida, a mesma pessoa não me deixa em paz.

-É o que eu digo, monogamia é uma instituição falida. Se você perguntar pra parceiros que passaram a vida casados exclusivamente um com o outro quantos orgasmos já tiveram na vida, eles contam nos dedos, garanto.

-Disse tudo, gata. Por isso que eu acho que você deveria pensar sobre nosso lance, entende? Fazer parte dele... Mas pra isso, você sabe o que precisa fazer, gatinha. – e lá estava uma carreira de pó. – Iniciação.

-Será que vocês valem à pena?

-Saskia, hora de ir. – era aquela voz irritante de novo. SEMPRE, SEMPRE quando eu tava pra me divertir vinha a insuportável da minha cunhadinha cortar meu barato. Revirei os olhos e ao ver meus futuros parceiros sexuais congelando e arregalando os olhos, virei-me de costas para encará-la.

-Minha irmã te mandou de novo?

-O que você acha?

-E por que vocês não tão transando ao invés de você estar aqui me enchendo o saco? Eu disse que a monogamia tava falida! Se não estivesse, ela estaria transando, tá? – ela me levantou e cambaleei. É, acho que tinha exagerado nas Margaritas. Eu levantei e do nada a Terra começou a girar. – Calma, eu to bem. A Terra só girou, mas passou.

-Saskia, a Lena tá preocupada com você!

-E daí, Kara? Ela não tem o casamento de vocês pra se preocupar? Recém casadas e você já tá longe dela? Me poupe!

-Saskia, é melhor a gente ir embora agora. Eu não vou te deixar cheirar esse... Pó.

-E quem disse que eu ia cheirar esse pó de quinta? – o casal poligâmico esquisito me olhou torto. – Eu sou refinada demais pra isso aqui. E quer saber? Eu vou antes que ela tenha um colapso nervoso.

-Supergirl, desculpa, a gente não queria...

-Na primeira passa, mas se botarem os pés aqui de novo, eu vou fazer vocês cheirarem todo seu estoque.

-ISSO AÍ! OTÁRIOS! – saí falando sendo quase que puxada pra fora do bar. Isso mesmo, gente boa. Minha cunhada era a Supergirl. Ou a Kara Danvers, vocês decidem, todo mundo sabe quem ela é. Desde que se declarou pra minha irmãzinha Lena em rede nacional pra também salvar a pele dela, todo mundo descobriu a identidade secreta dela. Eu já sabia desde o início, ninguém me engana, mas... Precisou ela falar com todas as letras, então pronto. E aí eu trabalhava com minha mana na empresa dela, era advogada e praticamente dona da porra toda. Eu driblava qualquer processo, qualquer encrenca, qualquer "a" que tentassem nos direcionar eu conseguia deter.

Enfim, Kara novamente me levou voando pra casa delas, aparentemente eu estava em "observação" pelas duas maiores heroínas da Terra, blá, blá, blá. Tava na cara que eu tava sobrando nessa casa que eu não aguento mais ficar. Mas minha irmã praticamente me obrigava a ficar. Só que a cada dia que passava, eu ficava mais incomodada. Bom, já viram que minha vida não é fácil, né? Pelo menos acho que não dá pra piorar. Ou eu falei cedo demais?

-Maninha! Como sempre me esperando pra dormir, parece a mãe de uma adolescente rebelde! Já disse que não precisa fazer isso e muito menos mandar a segurança aqui atrás de mim. Tá tudo sob controle! – lá estava ela, igual um cão de guarda na sala da mansão, de braços cruzados como se fosse minha mãe mesmo.

-Saskia...

-Ah Lena, não começa! Não é como se eu não fosse adulta também! Eu só quero viver minha vida, porra!

-Saskia, você estava com dois membros de uma quadrilha de tráfico de drogas. Eles eram muito perigosos! Então claro que eu mandei a Kara ir te buscar, desculpa se eu não quero minha irmã andando com traficantes!

-Eu não tava com eles pelas drogas! Eu tava pelo sexo! Pelo s-e-x-o!

-Será que você não cansa de se meter nas piores situações possíveis só por sexo? Eu não ligo se você quer só um pouco de diversão e prazer, mas... Escolhe pessoas sem uma ficha criminal carregada pelo menos.

-Aliás, como você sabia disso?

-Nós conhecemos cada canto dessa cidade. Isso inclui as pessoas.

-Ah que ótimo! Então eu não vou poder nunca viver minha vida sem vocês monitorando, aprovando ou não com quem eu saio! Eu to cansada disso, me deixa em paz e pronto! Porra, vão transar, vão namorar, vão bater em bandidos, vão viajar no tempo, seja o que for, ME DEIXEM EM PAZ! – saí em passos rápidos. Ah, mas que caralho também.

-Lena, eu sinto muito.

-Será que ela não entende que eu só quero o bem dela, Kah? Ela sempre cuidou tão bem de mim quando éramos mais novas, teve que crescer antes do tempo pra me manter segura e no caminho certo... Sei lá, eu só queria retribuir, só queria cuidar dela também, saber que ela pode contar comigo sempre. Mas... A Saskia entende tudo errado.

-Calma, meu amor. É difícil pra ela também. Ela tá tentando achar o caminho dela, o lugar dela. E aí esse jeito rebelde é assim mesmo. Não se preocupa, a Saskia sabe que você só faz pelo bem dela. Ela tá meio bêbada, com a cabeça quente... Amanhã vai ser melhor. E vocês podem conversar sobre aquilo melhor. Hoje não vai dar em nada.

-Tem razão, amor da minha vida.

-Eu tenho! – elas sorriram uma pra outra e se beijaram apaixonadamente. – Eu te amo, meu anjo. Vê se tenta ficar despreocupada, Lee. Ela vai se encontrar.

-Obrigada, Kah. Então, vamos pra cama? Dormir bem juntinhas?

-Claro, amor da minha vida. Amanhã vai ser um dia e tanto. – elas subiram e voltaram aos seus quartos. Eu estava jogada no chão do meu quarto, toda esparramada olhando pro teto. Que desgraça, tudo girava... Ouvi os passos do casal perfeito passando do lado de fora indo pro santuário. Tadinhas... Eu não tinha nada contra Kara, muito pelo contrário. Ela sempre provou amar minha irmã o tempo todo e fez dela uma pessoa melhor. Realmente eram o casal do ano, sem ironia nenhuma. Mas... Às vezes aquele amor todo, aquela vida perfeita me incomodava. Não era inveja, juro! Só que ficar assistindo essas besteiras de casal o tempo todo e segurar vela é bem insuportável em alguns momentos. Ah que se foda. Eu vou é dormir.