Capítulo 01 - CONSEQUÊNCIAS

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Raphael

Atinjo um soco forte no saco de areia vermelho a minha frente. Os elos da pequena corrente que o prende ao teto reclamam com um som metálico abafado. Uma gota de suor escorre pelo meu pescoço, devido ao esforço físico prolongado, mas não me importo. Estou com raiva de mim mesmo e preciso direcionar minha energia para algum lugar!

As luzes desse andar estão quase todas apagadas, apenas duas seguem iluminando o local. É melhor assim, eu quero mesmo ficar sozinho... Golpeio o saco mais uma, duas, três vezes. Eu não deveria ter feito aquilo, onde é que eu estava com a cabeça?

Chuto o saco de areia com tanta força que se ele tivesse costelas provavelmente eu teria quebrado pelo menos duas delas. O saco não tem culpa do que aconteceu, mas nesse momento ele está me ajudando a aplacar minha ira. 

- Eu... não... posso... agir... assim! PORRA! Rosno me repreendendo enquanto desfiro outra sequência de golpes, estou me sentindo um lixo pelo que deixei acontecer.

Olho exausto para o saco de boxe, minha respiração irregular evidencia meu cansaço. O suor desce pelo meu peitoral passando pelo meu abdômen até sumir na barra da calça do kimono.

Depois de tanto esforço acho que finalmente conseguirei dormir bem essa noite, penso já tirando os protetores. 

Não que me reste muitas horas de sono, afinal preciso me levantar bem cedo para ir trabalhar... Ao constatar essa dura verdade a pequena sensação de bem-estar que o treino havia produzido morre diante da dura realidade. Pego minhas coisas e vou na direção dos vestiários.

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Entro no vestiário e acendo as luzes, vou até os armários e abro aquele que contêm minhas coisas, retiro minha bolsa preta jogando-a no longo banco de madeira ao meu lado.

O vestiário é bem espaçoso, e é utilizado apenas pelos alunos que façam aulas neste andar. Ele consegue acomodar facilmente até umas vinte pessoas ao mesmo tempo de forma confortável, mas no momento está vazio, tudo está em silêncio.

Olho em direção as cabines onde ficam os chuveiros e não consigo evitar que meus olhos se prendam na última delas. Um mix de sensações atinge meu corpo, quando flashes do que aconteceu nessa cabine hoje mais cedo surgem na minha mente.

Lembro dos seus malditos olhos azuis, que me olhavam com desejo. Lembro do seu toque que fez minha pele ferver, mesmo a água estando ali, caindo sobre nós dois, o tempo todo. Mas foi a sensação de quando ele tomou meus lábios sem a minha permissão que me preocupa... Aquele maldito momento em que eu não o afastei de mim... Ali com certeza foi a minha ruína.

Não sei o que pensar, estou confuso, desvio o olhar da cabine e decido não a utilizar por algum tempo, como se só fazendo isso já fosse o suficiente para apagar tudo que aconteceu ali. Não quero pensar nisso agora, tenho outras coisas mais importantes para me preocupar, estou cansado e quero apenas um banho antes de ir para casa.

Eu jogo a parte superior do kimono no banco perto da minha mochila e de forma ágil me livro da calça, ficando apenas com minha cueca branca que tem o nome de uma marca famosa.

Me olho em um espelho que está fixado em uma das paredes do vestiário. É um espelho grande e consigo me ver por completo. Tenho cabelos castanho-escuros, quase negros, com um corte rente nas laterais e um topete que valoriza meu rosto e meus olhos castanho-claros.

Sempre tive um tipo físico privilegiado, herança do senhor meu pai, e mantenho uma rotina de exercícios que alguns diriam ser bem pesada. Olho para meus ombros largos, peitorais simétricos, braços fortes e abdômen definido.

Inimigo ÍntimoOnde histórias criam vida. Descubra agora