Raphael
Algumas semanas antes
Acordo assim que meu celular começa vibrar embaixo do travesseiro, meu quarto não tem janelas e só não está completamente escuro porque uma iluminação fraca vinda do corredor entra pela porta que nunca é trancada na tentativa quase inútil de fazer o ar circular.
O cômodo é tão abafado que criei o hábito de dormir só de cueca independente da estação do ano. Me sinto sufocado se tento usar pijama, camiseta, shorts ou calça de moletom.
Me espreguiço enquanto aproveito os últimos momentos que tenho no calor da cama macia. Quando finalmente desperto, respiro fundo, me livro do lençol e me levanto. Meu quarto é tão pequeno que só tem espaço para acomodar uma cama de solteiro, um guarda-roupa planejado, e já próximo a porta, uma escrivaninha retrátil.
Hoje acordei de pau duro novamente, deve ser a terceira vez seguida, e mesmo com a baixa iluminação é visível o volume que tenho dentro da cueca azul marinho. Um sorriso safado se forma em meus lábios, pois já tenho em mente a gatinha que vai me ajudar com isso essa noite.
Dou uma ajeitada nele na esperança de ficar mais confortável e agradeço por ainda não estar tendo sonhos eróticos, isso é um bom sinal. Eles são meu termômetro para saber quando a coisa está começando a "ficar séria", ou seja, quando meu tesão já está saindo do controle.
Ignorar esse fato é garantia de sonhos cada vez mais bizarros e de acordar melado em pouco tempo. O que para um cara adulto, independente, sexualmente ativo e solteiro é imperdoável. Não sou mais aquele adolescente que nenhuma garota queria por perto. Muito pelo contrário, hoje tenho o contato de verdadeiras beldades, só que infelizmente nenhuma delas roubou meu coração ainda.
Pego meu celular e vou em direção ao banheiro, não preciso acender as luzes para andar pela casa, sei exatamente onde cada móvel fica e consigo navegar por eles com facilidade.
Após fazer minha higiene matinal e checar meus e-mails no celular, vou até o guarda-roupa pegar o meu uniforme. Um sorriso triste se forma em meu rosto quando olho para logotipo da empresa bordado na camisa. Tem a forma de um peixe e está escrito "Congelados" em uma letra cursiva. Não é o emprego dos sonhos, mas atualmente é indispensável para conseguirmos pagar as contas.
No caminho até a cozinha, noto que as chaves da minha mãe não estão penduradas no local de sempre. Ela tem trabalhado demais nos últimos meses, dois plantões em dois hospitais.
Minha mãe é enfermeira, ela sempre trabalhou perto de casa, mas teve que pegar outro turno em um hospital longe daqui depois que meu pai foi embora. Desde então eu tento ajudar com as contas, mas não está sendo uma tarefa fácil, mesmo somando nossos salários. Ultimamente ela parece cada vez mais cansada e temos cada vez menos tempo para conversar.
Termino meu café na pequena cozinha e saio em direção ao estacionamento que fica no subsolo do prédio. Nosso apartamento não tem direito a vaga na garagem, então eu tive que alugar uma para ter onde deixar o carro da empresa. Vocês ficariam chocados se eu dissesse o preço que eu pago por ela.
Eu trabalho com entregas de alimentos congelados, peixes e frutos do mar em sua maioria. Por isso saio bem cedo, muito antes do dia nascer, para ir até o centro de distribuição onde pego a carga e recebo o itinerário de entregas da manhã. À tarde, eu volto lá e pego uma nova carga com um novo itinerário.
Se eu não trouxesse o carro para casa, eu teria que sair muito mais cedo e pegar três conduções para chegar no trabalho. Sem contar que eles pagam muito pouco, o que me fez pensar em largar este trabalho algumas vezes. Mas sem outro para substituí-lo de imediato não posso me dar esse luxo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Inimigo Íntimo
RomanceRaphael é um jovem que luta todos os dias por sua independência, até o dia que vê sua vida mudar completamente ao conhecer Leonardo, um rapaz misterioso e cheio de segredos, que desperta nele algo impossível de ser ignorado. Só que mais alguém obser...