Capítulo 35 - O PREÇO DA MINHA LIBERDADE

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Leonardo

No dia anterior

"ELE restringiu sua autonomia senhor, para o nível um", aquela frase ecoou na minha cabeça por vários minutos após o veículo preto de vidros escuros começar a me levar até ELE. Depois de meu guarda-costas dizer aquelas palavras eu era obrigado a ficar calado, eu não pude nem expressar o quanto aquilo era injusto.

Autonomia de nível um permite apenas que o submisso se dirija em silêncio até o dominador, no menor tempo possível. Qualquer coisa que impeça o cumprimento dessa diretriz, mesmo que alheia a vontade do submisso, é passível de punição severa.

Ou seja, se eu for parado em um bloqueio policial, se houver um engarrafamento, se houver um desvio por conta de uma obra pública, qualquer coisa que me atrase por cinco minutos, pode me render uma sessão disciplinar extremamente dolorosa.

O mesmo se aplica a restrição vocal que essa autonomia impõe, eu tinha vontade de protestar em revolta a essa convocação absurda que me impedia de ir atrás de Raphael. Eu queria suplicar para meu guarda-costas me dar pelo menos a chance de ver se Raphael estava seguro antes de me levar até ELE. Mas eu sabia que havia câmeras e microfones no veículo, e com certeza eles estão à espera de um deslize meu.

Qualquer palavra que saísse da minha boca após ele anunciar minha nova autonomia, representaria na melhor das hipóteses, um vergão em minha pele antes do sol se pôr. Um simples "Por Favor" já havia me rendido um nariz sangrando no passado, ELE é muito rígido e severo quanto as regras, então tudo que eu podia fazer era torcer, para que ELE aceitasse meu pedido.

Enquanto era levado até a grande mansão tive tempo de bolar uma estratégia e simular os cenários mais prováveis do que aconteceria após eu conseguir autorização para falar. ELE já sabe que o que sinto por Raphael é diferente, era questão de tempo até eu tomar coragem para pedir minha liberdade, e talvez por isso esteja me chamando agora. O problema é que não podia ter sido em pior hora, estou muito preocupado com Raphael, preciso falar com ele o quanto antes.

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Quando finalmente cheguei na mansão, eu me julgava pronto para o que pretendia fazer, eu me mantive em silêncio e viemos diretamente até aqui, então não havia motivos para punição. Assim que entrei pelas imponentes portas duplas do hall era possível ouvir os acordes clássicos do primeiro movimento da Sonata K322 de Mozart ecoando do piano.

- MERDA! A palavra saiu de meus lábios antes que eu pudesse contê-la.

ELE estava de mau humor, ELE só toca quando está de mau humor, e isso complicava, e muito, as coisas para mim. As explosões de ódio escondidas atrás dos belos acordes faziam arrepios percorrerem minha espinha, e agora eu estava torcendo para que em sua onipresença e onisciência ELE não tivesse ouvido a palavra que eu acabei de pronunciar.

Me dirigi apressado até a escadaria, meu plano de orgulhosamente subir pela direita e ir até seu escritório estava arruinado. Se antes eu tinha tudo planejado para construir as condições perfeitas, e finalmente pedir minha liberdade, o fato de ELE estar irritado ao piano me obrigava a adiar meus planos.

Era evidente que algo muito sério tinha acontecido, e isso explicava minha convocação compulsória. Ao me aproximar da imponente escadaria, a sedutora mulher que havia me levado até a Hella pela primeira vez aguardava por mim. Seu batom vermelho e o vestido colado a deixavam tão linda e ameaçadora quanto minha mãe, embora ela fosse bem mais jovem e potencialmente mais perigosa.

- Por aqui Leonardo. Disse ela após me entregar uma túnica branca e um belíssimo broche dourado no formato de um sol.

Antes de eu entrar pelas três portas que havia ao passar por baixo da escadaria, ela me observou tirar a roupa e me ajudou a colocar a túnica. Um sorriso malicioso deixava claro o quanto ela gostou de observar meu corpo, e que se pudesse, não perderia a chance de me sentir dentro dela.

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