Inimigo Íntimo

Capítulo 15 - CONVERSA FRANCA

Leonardo

Alguns dias depois

Eu estava me arrumando no meu quarto, ou melhor, no quarto que eu posso usar na casa de meus pais, e isso faz muita diferença...

Durante minha infância aqui era meu quarto, tenho muitas lembranças boas desse cômodo. Por muitos anos eu o dividi com um menino loirinho de olhos azuis, Dominic sempre fez eu me sentir como um verdadeiro herói, o melhor irmão mais velho do mundo, como ele dizia com frequência. Ele me seguia por todo lugar e sempre queria estar perto de mim, foi o melhor irmão caçula que alguém poderia querer, tenho muita sorte por ter ele na minha vida.

Até minha puberdade eu era muito amado por meus pais, nós quatro éramos uma família feliz na medida do possível. Meu pai sempre foi um pouco ausente por causa do trabalho e quanto mais as empresas cresciam, menos tempo ele tinha para a família e mais ricos nós ficávamos.

Minha mãe era uma mulher muito doce e espontânea, tinha muitas amigas e era o pilar de nossa família na ausência de meu pai, ela sempre nos protegeu e devemos a ela grande parte do que somos hoje.

Mas com o tempo as pessoas que frequentavam esta casa começaram a mudar, eu era jovem demais para entender o que estava acontecendo, mas o veneno e as traições foram ficando cada vez mais fortes e constantes.

Em pouco tempo todos os velhos amigos não eram mais bem-vindos nesta casa e novos amigos tomaram seus lugares, só que esses "novos amigos" não eram tão amigos assim. Eles queriam apenas obter o máximo de proveito de nós, eu comecei a ficar com medo, pois as brigas eram frequentes durante essa transição, e eu tentei proteger Dominic o máximo que consegui para que ele não notasse o que estava acontecendo aqui em casa.

Em pouco tempo todos os amigos de meu pai eram acionistas minoritários de suas empresas, ávidos em agradá-lo para obter vantagens, ou figurões cuja honra era questionável, para dizer o mínimo. As amigas de minha mãe agora eram mulheres frias e tão superficiais que em pouco tempo ela acabou se tornando uma delas, ela foi deixando de ser o pilar da família para se tornar a senhora da casa.

Meus amigos de antes começaram a se sentir deslocados quando vinham me visitar, devido ao clima hostil que se fazia presente a quem não tivesse uma posição social de destaque ou patrimônio dentro do "novo padrão". Com o tempo eles foram se afastando até que eu me vi sozinho.

Talvez por isso, potencializado pelos meus hormônios e pela rebeldia própria da idade, eu tenha feito e falado várias coisas que me arrependo. Esse foi o primeiro passo para o abismo que se formaria entre mim e meus pais.

Dominic usou nossa batida secreta dos tempos de criança na porta, eu reconheci o som e o deixei entrar, ele me olhou por um segundo antes de um sorriso safado se formar em seus lábios ao me ver muito bem-vestido e terminando de pôr meu perfume favorito.

- Alguém vai trepar hoje! Ele exclama soltando uma risadinha.

- Cala a boca! Rebato, mas acabo rindo também. Não era a ideia principal, mas eu não negaria caso a oportunidade surgisse.

- Vai se encontrar com o Raphael? Ele pergunta, vindo até mim para arrumar a gola da minha camisa que insistia em não ficar do jeito que eu queria.

- Sim, vamos dar uma volta pelo centro, talvez comer alguma coisa. Eu digo já com um pequeno sorriso em meus lábios só de pensar em Raphael.

Desde a noite em que voltei a treinar, no início desta semana, não tivemos oportunidade de conversar melhor sobre tudo que aconteceu no vestiário, eu tenho muitas coisas para falar para ele.