Leonardo
Eu abro os olhos assustado, estou deitado em uma cama de hospital, tenho um acesso venoso no meu braço direito, o lençol que me cobre é velho, fino e desbotado. Com dificuldade tento me sentar, mas uma dor terrível me obriga a ficar deitado, meu corpo inteiro está dolorido, principalmente atrás, onde aquele monstro me agrediu.
Ainda me sinto rasgado, provavelmente tive que levar alguns pontos. Me sinto tão sujo que quase consigo ver a podridão se espalhando lentamente dentro de mim. Eu deveria ter morrido depois do que ele fez comigo, seria melhor, seria mais piedoso do que me obrigar a continuar vivo, carregando a vergonha de ter sido usado daquela forma, e de ser descartado como lixo.
Eu tinha acabado de fazer dezoito anos, tinha tantos sonhos, uma vida inteira pela frente... Agora não tenho mais nada, tudo que eu era e todo o meu futuro, foi brutalmente arrancado de mim.
Quando fecho os olhos consigo ouvir ele urrando feito um animal em meio a risadas histéricas que me fazem querer gritar. Me odeio por ser tão fraco, eu não consigo nem me defender sozinho. Mas por um milagre eu sobrevivi, então estou aqui, só não sei exatamente onde.
A porta do pequeno quarto se abre, uma enfermeira de cabelos castanhos, que estão presos em uma touca descartável, entra e me lança um sorriso como se me conhecesse.
- Que bom vê-lo acordado João. Como está se sentindo?
Olho em volta e vejo que não há mais ninguém no quarto, então ela deve estar falando comigo. Eu não sei o que responder, por que ela está me chamando de João?
- Me chamo Cristina e sou a enfermeira responsável nesse plantão.
Quando eu ia abrir a boca para falar com ela, um homem entrou pela porta. Meu corpo ficou paralisado e meu coração começou a bater muito forte só por ele ser um homem, o pânico fazendo com que eu me encolhesse na cama com medo dele.
Ele vai me atacar, vai me machucar, eu sentia todo o meu corpo tremer e respirava com dificuldade. Ele vestia terno e gravata, com gel no cabelo e óculos escuros. Devia ter uns quarenta anos e tinha uma expressão séria, seu rosto era quadrado e liso, como se tivesse acabado de fazer a barba. Parecia um guarda-costas de algum mafioso, igual nesses filmes antigos.
- Poderia nos dar licença por favor? Eu preciso conversar com o João a sós. Ele diz para a enfermeira com uma voz firme, mas com um sorriso gentil.
Ela havia olhado para a porta quando ele entrou, então não viu como eu estava aterrorizado com a presença dele no quarto.
- Claro. Se precisarem de mim estarei no final do corredor. Ela diz para ele com uma voz doce e sai do quarto de imediato, talvez devido ao tom de urgência que ele tinha.
Eu estava prestes a gritar para ela não sair, eu não queria ficar a sós com nenhum homem, ainda sentia a dor que o último tinha causado. Mas o rosto dele se virou para mim assim que eu me movi, ele me encarou por trás dos óculos escuros, o que fez minha voz sumir.
Assim que ela saiu, ele trancou a porta antes de olhar para mim. Eu sabia o que ele ia fazer, estava em pânico novamente, ia acontecer tudo de novo...
Eu estava quase começando a chorar quando ele caminhou até uma cadeira no canto do quarto, bem longe de mim, se sentou e ficou me olhando pacientemente, por um longo tempo.
- Quem é você? Eu perguntei quando notei que ele não diria nada.
- Você está bem? Ele questionou, ignorando totalmente a minha pergunta.
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Inimigo Íntimo
RomanceRaphael é um jovem que luta todos os dias por sua independência, até o dia que vê sua vida mudar completamente ao conhecer Leonardo, um rapaz misterioso e cheio de segredos, que desperta nele algo impossível de ser ignorado. Só que mais alguém obser...