Inimigo Íntimo

Capítulo 39 - PROFUNDOS COMO O MAR

Leonardo

Alguns meses depois

Após aquela noite na Hella, as coisas finalmente começaram a se ajeitar. Eu pude me dedicar inteiramente a Raphael e com isso nossa sintonia está cada vez maior, tivemos muitas outras conversas, compartilhamos todos os nossos sonhos e segredos, e a cada dia descobrimos algo novo que nos aproxima ainda mais.

Dominic sumiu do mapa desde aquela noite, ele responde as mensagens que eu mando, e até conversamos um pouco nas duas vezes que liguei para saber se ele estava bem, mas sei que ele está me evitando. Embora continue sendo o jovem sagaz de sempre, nunca mais usou seu tom autoritário comigo, agora ele me trata apenas como seu irmão mais velho, e isso é um pouco estranho.

Raphael me disse que houve uma auditoria minuciosa na Império por semanas, várias inconformidades foram descobertas e algumas pessoas foram demitidas. Eu duvidava muito que aquilo fosse verdade, Dominic sabia de cada detalhe de suas empresas, ele provavelmente usou a auditoria como motivo para desligar pessoas e reestruturar departamentos sem levantar suspeitas.

Após sumir por alguns dias, Hugo voltou a trabalhar na Império como se nada tivesse acontecido. Ele parecia bem, mas deixou claro que não iria falar com ninguém sobre o que aconteceu. Raphael achou melhor não revelar a ele que meu irmão mais novo foi a mente por trás de tudo, o importante é que Hugo voltou a treinar conosco e parecia muito motivado.

Embora eu ainda notasse sua "admiração" por Raphael, com o tempo ficou evidente o respeito que Hugo tinha por nossa relação. Com isso colocamos as diferenças de lado e começamos a nos dar bem, tanto que fiz questão de convidá-lo para o meu aniversário.

Durante a festa open bar que aconteceu na Hella, presente de Dominic, Hugo acabou conhecendo Estêvão Guerra, gerente de inovação e tecnologia que trabalha em uma das minhas empresas. Estêvão deve ser uns dez anos mais velho que Hugo, tem um porte físico imponente, feições másculas e é muito galante quando quer impressionar alguém com seus olhos castanho-escuros, sorriso fácil e currículo invejável.

Confesso que não sei muito mais que isso sobre ele, acho que eu só participei de uma ou duas reuniões em que Estêvão estava presente, mas isso já faz bastante tempo. Embora ele cuide de vários assuntos, nosso contato é apenas por telefone ou e-mail, ele é um excelente profissional e lidera uma pequena equipe que tem apresentado ótimos resultados.

Eu havia convidado Estêvão e outros gestores como uma forma de recompensar o excelente trabalho que eles têm feito. Para eles era apenas um Happy Hour pago pela empresa, somente meus amigos mais próximos sabiam que na verdade estávamos comemorando meu aniversário.

Mas pelo visto Estêvão e Hugo se deram bem, bem até demais eu diria, e talvez a culpa nem fosse da imensa quantidade de cerveja que já haviam bebido aquela noite. O papo descontraído dos dois deixou Raphael muito feliz, e me presenteou com um de seus lindos sorrisos, o melhor presente que eu poderia querer aquela noite.

Eu enviei convites para meus pais, porque é isso que manda a boa educação, embora soubesse que nenhum deles iria vir. Uma das secretárias de meu pai me ligou agradecendo em seu nome, dizendo que "infelizmente o senhor Ferrarézzi estará ocupado nessa data", essa era a resposta padrão dos últimos nove anos, sempre dita por uma secretária diferente. Mas pelo menos era melhor do que o silêncio cheio de significados que eu sempre recebia de minha mãe. Enfim, tudo havia realmente voltado ao normal.

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Algumas semanas depois