Capítulo 1

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Abri os olhos com dificuldade por causa da luz forte do ambiente e puxei o ar com força pelo nariz, a sensação era de que eu estava me afogando, buscando incessantemente por ar.

Tentei deglutir, mas senti algo rígido na minha garganta me impedindo. Em um ato de desespero levei minhas mãos, com alguma dificuldade, até a boca e senti um tubo na ponta dos meus dedos, amarrado ao meu rosto.

Um alarme sonoro alto e ensurdecedor soou e eu ergui meus olhos para cima. Dezenas de monitores e aparelho mostravam os meus sinais vitais enquanto piscavam luzes e emitiam sons. Fechei meus olhos com força para me desvencilhar da luminosidade e tentei tirar o tubo preso a minha garganta.

Nessa hora uma mulher vestida de branco entrou e correu até mim. Ela me segurou pelos pulsos e afastou minhas mãos do tubo.

— Dr. Bracco! Dr. Bracco. — ela gritava e eu tentava lutar fracamente contra o seu aperto, me debatendo o máximo que conseguia.

— Laura! — a voz não era do médico que a enfermeira chamava, era do meu marido. Em questão de segundos o rosto do Massimo apareceu sobre mim e suas mãos substituíram as mãos da enfermeira, só que seu aperto era mais frouxo do que o dela. O monitor acima de mim voltou a alarmar mais rápido e mais forte. — Está tudo bem, Laura. Está tudo bem. — Massimo repetia como um mantra enquanto levava minha mão aos seus lábios. Como se ele mesmo precisasse acreditar nisso. Seus olhos emocionados estavam presos aos meus e eu parei de me debater e lutar contra eles.

Meus braços amoleceram quando suas mãos os soltaram e passaram a alisar a pele do meu rosto por onde agora lágrimas, grossas e quentes, passavam.

Eu queria segurá-lo e dizer que eu estava sufocada, mas não tinha forças.

Ouvi uma movimentação pelo quarto e outras vozes surgiram, todas em italiano. Eu não entendia o que eles estavam falando.

Massimo se ergueu assim que as vozes surgiram e imediatamente pediu para que falassem em inglês, talvez ele quisesse que eu entendesse o que estavam falando.

Alguém levantou a cabeceira da minha cama e só então eu vi cerca de 4 a 5 homens de jaleco em volta de mim.

Eu estou no hospital... é isso. Fechei os meus olhos e forcei minhas memórias, só então eu me lembrei... essa foi a primeira vez que abri meus olhos desde que estive na mansão de Fernando Matos.

As poucas lembranças passaram na minha cabeça como um flash. Fernando, Domenico, Massimo, muitos tiros, Nacho e mortes.

Me encolho ao lembrar da sensação do meu corpo queimando enquanto deslizava pelos braços do meu marido. Seu olhar de pânico e os gritos na sala eram aterrorizantes. A última coisa que me lembro daquele dia é isso... o olhar perdido do Nacho em mim e Massimo me amparando em seus braços.

O médico, acredito que o tal de Dr. Bracco a quem a enfermeira gritava anteriormente, se aproxima de mim e em um inglês pavoroso me explica que tirará o tubo da minha garganta, já que agora eu consigo respirar sozinha.

— Sr. Torricelli é melhor o senhor aguardar lá fora. — a enfermeira pede a ele e indica a porta com a mão, mas tudo que Massimo faz é lançar um olhar cético em sua direção e fincar os pés ao meu lado.

— Minha mulher dormiu por duas semanas. — ele diz com a voz fria, quase sem emoção. — Não esperem que eu vá deixá-la nesse momento.

Duas semanas... ele disse. Eu dormi por duas semanas.

Sua mão segura a minha e eu tento recusá-la, não queria que ele assistisse ao procedimento.

O procedimento foi ali mesmo, no leito que eu estava, foi rápido e doloroso. Como se um punhal afiado subisse pela minha garganta, rasgando minha carne.

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